Um mercado nas alturas

 

Verdinha nos ares: a Ipanema é a única aeronave agrícola fabricada no Brasil e, em um ano de atividade, pode gerar um lucro de R$ 540 mil. Uma unidade nova vale R$ 654 mil

De um ataque de gafanhotos às lavouras de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e uma ideia improvisada para combatêlos surgiu a aviação agrícola brasileira, na década de 40. Sessenta anos se passaram e este segmento conquistou uma taxa de crescimento variável de 5% a 8% ao ano, faturamento de R$ 600 milhões em 2009, 277 empresas autorizadas para a atividade pela Agência Nacional de Aviação Civil, Anac, e 1.500 aviões apropriados.

Seriam bons números se não fosse o fato de apenas 6,7 milhões de hectares, 25% das lavouras brasileiras, serem atualmente pulverizados por aeronaves quando a demanda é de 70 milhões de hectares. De acordo com o Sindicato Nacional de Empresas de Aviação Agrícola, Sindag, estes percentuais levam em consideração os cultivos tradicionais, milho, soja e feijão, que absorvem 80% da atual demanda da aviação agrícola, a abertura de novas áreas nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, e a expansão das lavouras de cana-de-açúcar, laranja, café e reflorestamento. “Para atender ao crescimento destas lavouras que se expandem no interior do Brasil, seriam necessárias dez mil aeronaves em atividade”, avalia o presidente do Sindag, Julio Kämpf. “O setor vai acompanhar gradativamente a expansão das lavouras de frutas, que movimentam 20% da agricultura, novas áreas em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e oeste baiano, e poderá ampliar expressivamente com a aprovação do novo Código Florestal.”

Hábitos culturais do produtor rural brasileiro também são apontados como um gargalo para um crescimento maior e rápido do setor. “Por questões culturais, o empresário rural tem o hábito de investir em máquinas terrestres para pulverizar e ele é incentivado a comprá-las pelos bancos, que oferecem crédito, e pelas empresas fabricantes, que investem em marketing”, diz Kämpf. Ele acredita que dentro de alguns anos vai ser impossível o produtor não lançar mão do serviço aeroagrícola. “A mudança de perfil do agricultor vai fazê-lo enxergar o custo-benefício da aviação agrícola em detrimento da compra de equipamentos terrestres.” Ainda hoje, as empresas do ramo concentram-se no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e Goiás.

 

Um mercado nas alturas

Demanda maior: o Brasil tem apenas 25% das lavouras pulverizadas por aeronaves, mas tem espaço para crescer mais de 60%

A Embraer é uma das sete empresas do mundo que fabricam aeronaves agrícolas. Nos anos 70, lançou o Ipanema, através da subsidiária Neiva, instalada em Botucatu (SP), e desde então comercializou 1.100 aeronaves no mercado interno e externo. Em 2005 lançou o Ipanema-etanol e daquela época até outubro deste ano vendeu 102 unidades. “A estimativa para 2010 é comercializar 40 unidades do Ipanema 100% etanol, o que representa 15% de crescimento em relação ao ano passado”, relata Almir Borges, diretor industrial da Neiva. Estes números, segundo Borges, tendem a crescer ano a ano. “O agronegócio cresce e consequentemente a aviação agrícola vai crescer junto nos próximos anos.” Uma Ipanema nova custa R$ 654 mil, enquanto a sua versão movida a gasolina de avião sai por R$ 644 mil, investimento que se paga em um ano e meio. “Uma aeronave agrícola fatura em média R$ 540 mil ao ano”, diz Kämpf. “O custobenefício se dá pela vida útil do equipamento e a manutenção, que é de responsabilidade da empresa terceirizada, e não do produtor rural”, alega Borges. Segundo ele, 95% da frota total de Ipanemas comercializados ainda está em atividade na aviação. A vida útil de uma aeronave é de 30 anos, enquanto a de uma máquina agrícola é de dez anos.