03/03/2022 - 18:36
A cabeleireira Verônica Martinelly, 30, era fã de carnaval. Ela já tinha desfilado em várias escolas de samba, mas teve o sonho interrompido na última sexta-feira, 25. Neste dia, ela foi assassinada a facadas, em uma chácara em Santana de Parnaíba, região metropolitana de São Paulo. O principal suspeito do crime é o namorado dela, Kelvin Barkleu. Verônica era uma mulher trans, mas no boletim de ocorrência, não há qualquer menção ao nome social dela. No documento, o delegado retratou Verônica pelo nome masculino. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo argumentou que não havia “documento que comprovasse o nome social da vítima”.
Nascida e criada em Manaus, ela vivia na capital paulista há dois anos. Recentemente, tinha alcançado um feito: foi eleita a 1ª Princesa Trans do carnaval de São Paulo. Com uma carreira sendo construída no meio carnavalesco, ela teve uma morte brutal. De acordo com o relato de policiais militares que estiveram na cena do crime, Verônica estava com marcas de facadas no peito.
A decisão da Polícia Civil em não se referir a jovem pela identidade de gênero ou nome social diverge da ordem do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo publicada em janeiro do ano passado. Na época, a corte concedeu uma decisão liminar exigindo ao governo de São Paulo incluir os campos de identidade de gênero e orientação sexual nos registros de ocorrência. O prazo para adequação foi de 60 dias, começando a valer em março.
Os defensores justificaram que a ausência desses indicadores dificultava o atendimento humanizado às mulheres transexuais e travestis.
Na internet, algumas escolas de samba lamentaram a morte da jovem e prestaram uma homenagem. A Unidos de Vila Maria destacou a representação de Verônica. A Dragões do Império também prestou solidariedade à família e amigos da vítima.
Após a morte de Verônica, a família dela precisou lançar uma campanha nas redes sociais para fazer o traslado do corpo e o enterro. Pessoas próximas a ela deram o último adeus nesta terça-feira, 1, no Cemitério Nossa Senhora de Aparecida, zona oeste de Manaus.
A equipe tentou conversar com a irmã de Verônica, mas não teve respostas.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO
“O caso é investigado, por meio de inquérito policial, pela Delegacia de Santana do Paranaíba. Durante a investigação preliminar, o nome social da cabeleireira de 30 anos foi apurado e já consta no inquérito e no boletim de ocorrência complementar. Na ocasião do registro inicial, não havia informação, nem documento que comprovasse o nome social da vítima
Ela foi encontrada morta a facadas, na manhã de sexta-feira, 25, em uma chácara do bairro Cururuquara, em Santana do Paranaíba. Uma faca foi apreendida. A autoridade policial solicitou perícia do IC para o local e exames periciais no IML. As diligências prosseguem para identificar o autor do crime.”