Lindo, nobre, harmonioso e dono de um andamento confortável, o Cavalo Campolina encanta por onde passa. No Rio de Janeiro, conquistou muitos adeptos, em especial empresários que encontraram nele um refúgio à rotina conturbada dos grandes centros urbanos. Tornaram-se grandes criadores e desempenharam papel importante realizando um trabalho de seleção genética exemplar. Tal dedicação será homenageada com a realização da 4º Exposição Brasileira do Cavalo Campolina em Macaé (RJ), mostra itinerante que tem a missão de divulgar o Campolina pelo Brasil afora.

A mostra ocorre entre 18 e 23 de março, durante a 1ª FEIPEC (Feira de Pecuária de Macaé), com a presença de 250 exemplares nos concursos de morfologia e marcha, sob a tutela de seis jurados. Nesta edição, não haverá leilões, pelo calendário nacional carregado, mas o evento abrigará a primeira das seis etapas que devem compor a Copa Rio de Marcha, que, ao final, premiará com um carro zero km os campeões das marchas picada e batida. A competição exige inscrição individual e a classificação será simultânea ao julgamento da Brasileira.

Dos quase 60 mil cavalos campolinas registrados no Brasil, sete mil estão no Rio de Janeiro. Em volume não parece muito, todavia, o trunfo dos criadores cariocas está na qualidade genética do plantel. Colecionam prêmios invejáveis, inclusive algumas conquistas nas edições da Semana Nacional do Cavalo Campolina, a exposição mais importante da raça. ³Em 2013, por exemplo, teve haras que recebeu até dez prêmios em diferentes categorias, incluindo Grande Campeonato, de onde saem os melhores do ano. Receber o segundo evento mais importante da raça é uma honra e coroa este trabalho magnífico², resume Demétrio Rocha, presidente do Clube do Cavalo Campolina do Rio de Janeiro, entidade responsável pela organização desta edição da Brasileira.

Segundo a entidade, o estado do Rio de Janeiro reúne cerca de 200 criadores e 800 usuários ativos, como são conhecidos cavaleiros, fazendeiros, sitiantes e outras pessoas que adquirem animais para o passeio, lazer ou serviço. A docilidade, estilo e conforto da marcha Campolina também já são apreciados no turismo rural, provas multirraciais e equoterapia, importante aliada no tratamento de doenças degenerativas.

Planteis e concursos da raça são comuns em Cachoeira de Macacu, Papucaia, Miguel Pereira, Cantagalo, Duas Barras, Saquarema, Itaboraí, Araruama, Santa Rita da Floresta, Valão do Barro e Macaé. A própria Capital, muitas vezes, se transforma em palco de eventos consagrados; entre eles leilões, exposições e convenções. ³A mostra mais importante que temos é a Expo Itaipava, que segue para a oitava edição. Ela é considerada uma ³mini nacional², pelo volume, qualidade genética e grau de competitividade do julgamento. Chega a reunir mais de 120 criadores e 260 cavalos², avalia Bruno Roberto Gomes Guerreiro, diretor do clube. 

A beleza e história fascinantes fazem do Campolina uma das raças de sela mais procuradas e valorizadas da atualidade. Em 2013, atingiu médias entre R$ 20 e 30 mil para animais de elite e entre R$ 5 mil e R$ 15 mil para cavalos de passeio. Claro, que quanto mais apurada a seleção e as linhagens, mais valorizados serão os produtos. As cotações mais altas da raça saíram para uma égua vendida em um leilão por R$ 700 mil e um garanhão arrematado por R$ 2,1 milhões, recordistas regionais de preço.

Cifras como essas são possíveis graças aos investimentos em pureza racial e em raçadores renomados. Éguas e garanhões que fizeram história no Cavalo Campolina já pertenceram ou foram revelados em haras do Rio de Janeiro. Exemplos são Júpiter de Passa Tempo, Ciumenta da Sans Souci, Coca Cola da Sans Souci, Nevoeiro de Passa Tempo, Apolo de Duas Barras, Lajedo de Passa Tempo, Justiça do Rancho 70 e Beladona do Angelim. Alguns criadores, inclusive, representaram a raça na Equitana, maior feira equestre do mundo, realizada a cada dois anos na cidade de Essen, na Alemanha. ³Se hoje estamos em posição de destaque, muito se deve a precursores como Lúcio Santos, Severino Veloso, Osana Almeida, Glauter Salvador Faria (o Dodô), Mery Fernandes, Joel Garcia, Hugo Aquino, Fernando e Francisco Lourenço, Roberto Cantelmo, Dr. Ataliba e Leonardo Campos², lembra Olavo Fernandes Maia Filho, carinhosamente conhecido como Dinho, também diretor do clube e um dos escritores do livro ³Campolina, a história de uma raça².

Nenhuma outra raça tem uma história fascinante ­ O Cavalo Campolina nasceu na cidade de Entre Rios de Minas (MG), em meados de 1870, época em que as ³rédeas² do País eram comandadas pelo imperador Dom Pedro II. Surgiu da frustração de um homem chamado Cassiano Antonio da Silva Campolina, ao perder uma cavalhada – disputa folclórica medieval entre mouros e cristãos, em homenagem ao monarca. O cenário foi Queluz de Minas, atual Conselheiro Lafaiete (MG), ocasião na qual se fazia a inauguração de um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Reza a lenda que Cassiano Campolina era um homem excêntrico, solteiro, com apenas dois amigos fiéis e um dos melhores criadores de cavalos da época. Raramente, ultrapassava os limites de sua propriedade, a Fazenda do Tanque,
que ainda existe. Ferido no orgulho, assumiu a derrota e prometeu uma desforra. Desde então, selecionou animais de bom porte e ágeis, pensando também em demandas da época.

Um dia, em visita ao amigo Antônio Cruz, Campolina foi presenteado com uma égua de nome Medéia, prenha de um garanhão da raça Andaluz, que teve origem na coudelaria do próprio imperador. O potro nascido em 1870 foi batizado de
Monarca, datando a trajetória da raça Campolina no Brasil.

Monarca serviu por 25 anos e morreu em 1898. Cassiano Campolina viveu até 1904 e, segundo historiadores, não teve a tão esperada revanche. Mas, antes de partir, deixou dois legados memoráveis, que transcende seu nome até hoje.
Um deles é o Cavalo Campolina, que recebe novos guardiões a cada dia. O outro é um hospital que leva seu nome e foi construído com parte das riquezas deixadas em testamento.

Fundado em 1910, em Entre Rios de Minas, o Hospital Cassiano Campolina atende a uma população regional de 40 mil habitantes. Tornou-se realidade graças a um gesto de total desprendimento e desapego dos amigos Coronel Joaquim Pacheco de Resende e João Ribeiro de Oliveira. Eles seriam os únicos herdeiros e incentivaram que Campolina refizesse seu testamento e deixasse títulos e riqueza para a construção de uma obra que atendesse a todos os moradores da região.  E assim foi feito. Joaquim Pacheco de Resende, em especial, ficou com a Fazenda do Tanque e continuou a criação do Cavalo Campolina.