O presidente Jair Bolsonaro está incentivando pessoas de sua confiança a se lançarem candidatas em 2022 com o argumento de que quer evitar dar apoio a “oportunistas”, como diz ter ocorrido em 2018. O relato foi feito pelo secretário Especial de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Junior, em mensagem de voz enviada na quarta-feira, 9, a um grupo de WhatsApp com 30 empresários de Santa Catarina, para anunciar que será candidato ao Senado por orientação do presidente.

No áudio de 5 minutos e 7 segundos ao qual o Estadão teve acesso, Seif, tratado por Bolsonaro como “Zero Seis” em uma alusão a como chama os próprios filhos, conta que conversou com o presidente duas vezes sobre sua candidatura. A primeira vez, segundo relatou, ocorreu no dia 26 de setembro quando o presidente teve alta do hospital após passar por cirurgia para retirar cálculos na bexiga. Aos empresários, o secretário se confunde e diz que a operação foi no rim. A conversa ocorreu no Palácio da Alvorada a convite do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o mais velho do clã. “Saímos dali já alinhados que em Santa Catarina ele (Bolsonaro) nos apoiaria”, disse.

A segunda conversa, segundo Seif, ocorreu há cerca de duas semanas no Palácio do Planalto. “E há 15 dias mais ou menos, eu estive no Palácio do Planalto, conversando com o presidente. Comemos lá pastel, tomamos lá uma Coca-Cola, e ele, no reservado, conversou comigo realmente da importância de nós buscarmos pessoas verdadeiramente alinhadas e não pessoas oportunistas como aconteceu em 2018”, contou aos empresários.

Em 2018, Bolsonaro, então no PSL, ajudou a eleger 52 deputados federais, 4 senadores, 3 governadores e 76 deputados estaduais. Além dos filiados ao partido, políticos de outras legendas também surfaram na onda do bolsonarismo a exemplo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), que está afastado do cargo por suspeita de desvios em recursos da saúde durante a pandemia da covid-19.

O presidente deixou o PSL em 2019 após brigas internas pelo controle do partido e também pelo controle do milionário fundo partidário. No racha, alguns dos principais aliados da época da campanha se tornaram adversários, entre eles o senador Major Vitor Hugo (PSL-SP) e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Bolsonaro decidiu criar o Aliança pelo Brasil, mas a legenda corre o risco de não se viabilizar.

“Na verdade, o presidente conversou comigo pela segunda vez faz uns 15 dias sobre a necessidade de termos pessoas verdadeiramente, sem oportunismo, verdadeiros aliados tanto no Congresso quanto no Senado”, disse o secretário.

Bolsonaro costuma dizer que Seif foi sua única indicação pessoal para um cargo de secretário. Apoiador do presidente desde 2015, Seif só conheceu o presidente pessoalmente três semanas após a eleição. Filho de um empresário da pesca em Santa Catarina que se comunicava com o Bolsonaro, Seif pediu para ir tirar uma foto com o presidente e levar reivindicações para o setor. Conversaram por três horas e saiu de lá com o convite para assumir a Secretaria de Pesca.

Em Brasília, Seif se aproximou ainda mais do presidente. É presença constante em viagens, nas transmissões ao vivo na internet e o organizador dos almoços de Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Seif leva os peixes e assume a churrasqueira, enquanto que Bolsonaro se encarrega da lista de convidados. Além de “Zero Seis”, o presidente costuma chamar o secretário de “tilápia”, “homem do fundo do mar” e “Aquaman”. Diversas vezes, o chefe do Executivo já disse que tinha vontade de promovê-lo a ministro.

Aos empresários, o secretário afirmou que Bolsonaro tem dificuldade de governar e emplacar pautas de “desburocratização, desoneração e modernização” por causa dos parlamentares que fazem o governo de “refém”. “Eles ‘ensebam’, sentam em cima, não põem pra votar. Ou querem fazer o governo federal, o Executivo de refém pedindo todo tipo de coisa”, disse, justificando que é por isso que o governo deve formar uma base na Câmara e no Senado.

Resistência

Na mensagem de voz, Seif disse que as resistências para criar o Aliança pelo Brasil, partido para abrigar Bolsonaro, são muito grandes, mas que os esforço para a criação seguirão até março ou abril. Se a sigla não sair, o secretário diz que se filiará ao partido que Bolsonaro se filiar ou em outra legenda alinhada. “São questões políticas e eu vou buscar orientação com o presidente na ocasião”, explicou.

Procurado pelo Estadão, Seif, que está afastado por ter contraído covid-19, confirmou a autenticidade da mensagem de voz, mas disse que segue com foco na Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca. Segundo ele, o grupo foi criado por apoiadores em Santa Catarina que defendem a possível candidatura dele e que a mensagem foi uma apresentação.

“Todos os movimentos políticos futuros serão definidos no momento certo sob o comando do presidente Bolsonaro. O que ele definir e decidir, seguirei, e estarei a postos para servir o Brasil, seja no Executivo ou Legislativo”, disse o secretário.