02/04/2015 - 11:33
As florestas plantadas, principalmente de pinus e eucalipto, que abastecem indústrias como a de papel e celulose, móveis e pisos laminados, estão cada vez mais atraindo as atenções dos investidores brasileiros. No entanto, em vez de comprar terras e se lançar na atividade agrícola, eles estão aplicando seus recursos nos chamados Fundos de Investimentos em Participações (FIPs). Os FIPs são constituídos por grupos de pessoas que adquirem títulos ou ações de empresas e participam ativamente da gestão desses empreendimentos. “A madeira é uma matéria-prima de uso crescente no mundo e muito demandada por várias indústrias”, afirma Ricardo Junqueira, sócio do grupo Ático, do Rio de Janeiro, gestora financeira que administra atualmente R$ 1,4 bilhão em recursos. “O Brasil tem condições de atrair mais investidores para esse setor.” Embora a compra de ações seja considerada um investimento arriscado, no caso das florestas, a modalidade é vista como de baixo risco, retorno atrativo, e de longo prazo, já que é preciso esperar a colheita para ter resultados financeiros e cada árvore leva, no mínimo, seis anos para chegar ao ponto de corte. A taxa de retorno real esperada é de, no mínimo, 8% ao ano, podendo chegar a 14%.
Não por acaso, um número crescente de gestoras está oferecendo essa alternativa. Uma delas é a Lacan Investimentos, de São Paulo, que criou uma divisão especializada em florestas, a Lacan Florestal, em 2012. O primeiro fundo da divisão investiu R$ 200 milhões em florestas plantadas em Mato Grosso do Sul, na região de Três Lagoas, onde estão em operação mega empreendimentos com a Eldorado Celulose, do grupo J&F, e a Fibria, controlada pela Votorantim. Agora, a Lacan está lançando o FIP Lacan Florestal II e espera captar até R$ 250 milhões neste ano. “No exterior, esse tipo de fundo é muito conhecido e consolidado, mas no Brasil vem sendo descoberto nos últimos cinco anos”, diz Guilherme Ferreira, sócio da Lacan, responsável pela estruturação de investimentos florestais. Segundo ele, a empresa está em busca de fazendas para o negócio. “Não compramos terras, atuamos através de parceiros agrícolas”, diz Ferreira. O fundo arrenda áreas de no mínimo 300 hectares, onde gerencia totalmente o negócio, do plantio à comercialização da matéria-prima. “Sempre firmamos contratos de longo prazo para a venda de madeira, um ponto importante que dá estabilidade para o fundo.”
O grupo Ático, que atua no setor através da FIP Ático Florestal, é dono da Tree Florestal, dedicada aos investimentos florestais, com sede em Curitiba. Desde a fundação da Tree, em 2012, o FIP Ático Florestal aplicou R$ 182,7 milhões. Agora, o fundo está em fase de captação de outros R$ 150 milhões. A empresa detém 50% da reflorestadora paranaense Remaza, atua na comercialização de madeira e presta serviços de gestão de florestas para terceiros. Além disso, a Tree está estudando a viabilidade de outros tipos de florestas, como a de teca e seringueira. De acordo com Junqueira, que também preside a Tree, há ainda outras oportunidades atreladas ao setor, como a produção de eletricidade. “Há um grande potencial de geração de energia elétrica, a partir da biomassa de eucalipto”, afirma. De olho nesse filão, a Tree está gerenciando 35 mil hectares de plantações de eucalipto para fins energéticos. A madeira vai atender a UTE Campo Grande Bioeletricidade, uma usina térmica de biomassa localizada em São Desidério, na Bahia, que pertence à Bolt Energias, outra empresa do grupo Ático.
De acordo com os especialistas, por ser um investimento elevado e de longo prazo, os FIPs Florestais têm como alvo investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, que aplicam uma quantia mínima de R$ 1 milhão. No entanto, novas oportunidades devem surgir e atrair investidores pessoa física para esse segmento. Para Ferreira, fabricantes brasileiros de papel, celulose e painéis de madeira, como Klabin, Suzano e Duratex, que detêm grandes áreas de florestas próprias, poderão futuramente reduzir a sua atividade florestal. “No longo prazo, a tendência é que essas empresas consumam mais madeira produzida por terceiros, o que vai abrir mais espaço para os fundos.”