O entorno do município de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, é uma terra de contrastes.

De um lado, estão as grandes fazendas de gado, que transformaram a região em um dos principais polos de criação do País.

De outro, estão imensas manchas de floresta Amazônica, numa região que já foi chamada de Arco de Fogo, por causa dos desmatamentos. É entre esses dois extremos que vive há 25 anos a conservacionista Vitória da Riva Carvalho, filha de um produtor rural que sempre foi apaixonada pela flora e fauna amazônicas. “Sempre acreditei que a floresta existe para ser preservada”, diz Vitória.

Mas se engana quem pensa que Vitória é uma conservacionista escondida numa selva fechada e inacessível.

De fato, ela mora na selva, mas cercada de luxo. Vitória é uma das proprietárias do requintadíssimo hotel Cristalino Jungle Lodge, localizado na Reserva do Cristalino, em Alta Floresta.

O empreendimento é o único do Brasil a figurar entre os 25 melhores ecolodges no ranking da revista americana National Geographic Traveler, que tem em sua lista os renomados Bushmans Kloof Wilderness Reserve, na África do Sul, o Misool Eco Resort, na Indonésia, e o Great Ocean Ecolodge, na Austrália.

A intimidade de Vitória com a região vem do fato de ser filha do empresário paulista Ariosto Da Riva, mais conhecido como o “fazedor de cidades”, por ter fundado vários municípios. Além de Alta Floresta constam no currículo de Da Riva, apelidado de o último bandeirante do século XX a colonização dos vizinhos Paranaíta e Apiacás, e Naviraí, no Mato Grosso do Sul.

Mas, em vez de seguir os passos do pai, Vitória decidiu fincar raízes e lucrar com a floresta em pé. “Mesmo assim, temos muito em comum”, diz ela. “Meu pai tinha sangue de desbravador, mas eu sempre quis fazer algo diferente com a floresta, sem machucar a natureza.” E ela conseguiu. Quem visita a Reserva do Cristalino passa pela experiência de aliar o luxo à aventura.

O hotel, que é referência mundial em ecoturismo, ocupa uma área de 11 mil hectares de vegetação nativa, na qual há várias trilhas. Nos passeios, é possível ver espécies raras que vão da arara-vermelha-grande ao gavião real, e até a temida onça-pintada. Para Alex Da Riva, filho de Vitória e administrador do hotel, o que impressiona os visitantes é a riqueza natural da região. “É impossível não gostar do local”, afirma o administrador. Na reserva, 580 espécies de aves já foram catalogadas, o equivalente a cerca de 50% do total de espécies da Amazônia e de aproximadamente um terço das aves brasileiras. Além disso, há 1,5 mil variedades de borboletas e mariposas, e mais de 1,3 mil espécies de plantas.

A área na qual está plantado o hotel foi protocolada pela família Da Riva, junto ao governo federal, para ser uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Com isso, apesar de privada, a terra fica protegida por lei e não pode sofrer nenhum tipo de ocupação. Em contrapartida, o proprietário fica isento do Importo territorial Rural (ITR), com o compromisso de  manter a conservação da biodiversidade das espécies. A área é dividida em zonas geográficas, para facilitar pesquisas, estudos e o seu monitoramento. “Nossa missão é deixar a natureza da forma mais nativa possível”, afirma Da Riva.

A reserva, no entanto, é apenas parte de um grande bloco de florestas conservadas, o que a forma um caso único. Ela faz limite com o Parque Estadual do Cristalino, de 185 mil hectares, uma área pública e importante de conservação na Amazônia.  O parque, por sua vez, limita-se com a Reserva da Força Aérea, área de 2,1 milhões de hectares. “Essa imensidão de verde é o pulmão do mundo”, diz Da Riva. “Por isso, é importante incentivar outros empresários a investirem em reservas particulares.”
Para Gabriela Otto, consultora especializada em turismo de luxo e sócia da empresa paulista GO Associados, nos últimos tempos, os viajantes de alto padrão têm optado por roteiros com apelo mais ecológico, para terem a experiência da natureza brasileira, famosa no mundo inteiro. “O turismo ecológico de luxo está começando a entrar na agenda do brasileiro”, diz a Gabriela. “Antes, apenas estrangeiros se interessavam por ele.”

Os aventureiros que quiserem desfrutar do Cristalino Jungle lodge, além de programar a viagem com antecedência, terão de por a mão no bolso. O roteiro de cinco noites, que inclui hospedagem, alimentação, trilhas, passeios e translado, começa em R$ 3,6 mil. Entre as 18 acomodações, as mais luxuosas, com jardim privativo e banheira externa com água aquecida, saem por R$ 12 mil.


Defensora: Vitória da Riva Carvalho, donado hotel Cristalino Jungle Lodge, sempre lutoupela preservação ambiental


Belezas naturais: Através de trilhas pouco exploradas, os visitantes da reserva têm acesso a animais e plantas exóticas