02/10/2015 - 12:29
E m tempo de crise, encontrar saídas para reduzir custos e repensar estratégias pode ser a diferença entre terminar o ano com a conta no azul ou no vermelho. No último ano, o produtor José Ovídio Sebastiani, da fazenda das Palmeiras, de 250 hectares em Boituva, município a 120 quilômetros da capital paulista, foi em busca de respostas desse tipo para melhorar a gestão de seu negócio. E encontrou um caminho. Dono do frigorífico Cowpig, construído na propriedade, para comercializar cortes especiais de raças bovinas, como angus, braford e wagyu, além de suínos, ovinos e búfalos, o produtor colocou os números no papel e tomou uma decisão: a economia podia vir da conta de energia. Para isso, a Cowpig, que no ano passado abateu 19,7 mil bovinos, 1,8 mil búfalos, 60 mil suínos e seis mil ovinos, além de cultivar feno, abriu as porteiras para um projeto piloto de biodigestor, com o objetivo de testar um novo tipo de equipamento. A parceria foi fechada com o grupo Cipatex, de Cerquilho (SP), um conglomerado de nove empresas especializadas em plástico, químicos e não-tecidos, que exporta para 20 países e faturou R$ 500 milhões no ano passado. “Começamos a utilizar uma tecnologia que está sendo muito benéfica”, diz Sebastiani. “Ela significa uma evolução na produção de biogás.”
Desde maio, o equipamento está garantindo uma economia entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por mês, valor que antes era gasto na compra e no transporte de madeira de eucalipto, que depois de queimada gerava biogás para alimentar as caldeiras do frigorífico. Com o biodigestor, são produzidos cerca de 140 metros cúbicos de gás metano, por hora, o equivalente a oito botijões de gás liquefeito de petróleo (GLP), o tradicional de cozinha. Escolhida pela Cipatex para testar o biodigestor, a fazenda está servindo de modelo para o seu emprego. Nos últimos meses, Sebastiani recebeu visitas de gente importante interessada em ver o seu funcionamento, entre elas a de Arnaldo Jardim, secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Em geral, os biodigestores instalados em fazendas produzem biogás a partir de dejetos de animais. No caso da fazenda Palmeiras, são os resíduos do frigorífico que entram no sistema como matéria-prima. Isso é inédito no País. “Todos os efluentes vão para o biodigestor”, afirma Sebastiani. Isso significa que o equipamento recebe, junto com a água usada na lavagem dos animais abatidos, restos de vísceras e de sangue.
Fábio Marques Barreta, técnico da Plaslonas, empresa responsável pela construção do biodigestor, destaca o papel do sistema interno de agitação, capaz de impedir que os efluentes se depositem no fundo da máquina, um problema muito comum, capaz de diminuir sua vida útil. “Esse biodigestor não sofre assoreamento”, diz Barreta. “Além disso, por causa da agitação, ele se torna 20% mais eficiente na produção de biogás que os biodigestores tradicionais.”
O equipamento, que tem 50 metros de comprimento, 17 metros de largura e cinco metros de profundidade, custou R$ 150 mil ao produtor, a metade do cobrado no mercado. Mas Sebastiani não foi o único que fez um bom negócio. A parceria da Cipatex com a fazenda é a sua estreia no agronegócio. A empresa fez um preço camarada porque está de olho num nicho promissor. Segundo um levantamento do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás-ER), de Foz do Iguaçu (PR), não mais de 70 propriedades rurais possuem biodigestores, um número irrisório se comparado aos cinco milhões de estabelecimentos rurais do País.
APOSTA: segundo Pilon, a Cipatex investiu R$ 5 milhões na tecnologia
De acordo com o diretor industrial da Cipatex, Valmir Pilon, nos últimos anos, a empresa investiu R$ 5 milhões para desenvolver o novo biodigestor. “E queremos investir ainda mais, porque o agronegócio é uma boa aposta”, diz Pilon. “Foi por isso que, nos últimos dois anos, já direcionamos esforços para fomentar a tecnologia dos biodigestores.” O próximo passo da Cipatex será desenvolver um biodigestor para produzir biogás a partir da vinhaça, um subproduto do processamento da cana-de-açúcar.
Na Cowpig, além do biogás produzido, o resultado da fermentação dos resíduos do abate dos animais resulta em um fertilizante, que depois de diluído em água, serve de adubo para a lavoura de 180 hectares de feno. “Hoje, temos uma produção mais sustentável”, diz Sebastiani. “O biodigestor ainda tem a vantagem de ajudar a eliminar o odor desagradável e reduzir a presença de moscas, melhorando o meio ambiente na fazenda.”
EFICINÊCIA: Marques, da Plaslonas, diz que o novo biodigestor não sofre assoreamento