17/12/2015 - 13:23
Engana-se quem pensa que é fácil encontrar o criador de gado Danilo Leão, de 35 anos, cuidando do rebanho de 300 nelore Puro de Origem e de 110 gir leiteiro, ou na sede de sua fazenda Magistral, em Presidente Prudente, no interior paulista. Desde o ano passado, é mais fácil encontrá-lo na cidade de Palo Alto, no Vale do Silício, região dos Estados Unidos conhecida como o maior centro global de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias da informação. Foi lá que nasceram marcas como Apple, Facebook e Google. Isso porque, além de criador de gado, Leão é formado em administração de empresas e se tornou desenvolvedor de sistemas de computadores. Em 2011, ainda no País, ele criou um aplicativo para smartphones e tablets, capaz de gerenciar em tempo real a sua fazenda no interior paulista. E colocou o produto no mercado. Chamado de Bovcontrol, o aplicativo de celular conta com cinco mil usuários atualmente, dos quais três mil estão no Brasil, 1,1 mil nos Estados Unidos e os demais estão espalhados por México, Colômbia e África do Sul. “Sabia que o aplicativo poderia ser muito útil para os produtores, mas não imaginava que teria tantos acessos fora do Brasil”, diz Leão. Neste ano, ele abriu outro escritório para desenvolver tecnologia nos Estados Unidos, localizado na área portuária de Boston. “Assim, ficamos mais perto de um número maior de desenvolvedores e investidores interessados em negócios de tecnologia móvel.” Na região de Boston há 66 faculdades e universidades, incluindo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das instituições de ensino mais famosas do mundo.
Leão usou a sua vivência na fazenda, que começou aos 16 anos, para moldar o sistema de seu aplicativo. Ele conta que se tornou um costume, ao longo dos anos, fazer anotações em papel sobre tudo o que lhe chamava a atenção na propriedade. “O aplicativo nasceu no curral”, diz Leão. Com a ferramenta é possível monitorar a alimentação do gado, controlar o manejo sanitário e os acasalamentos dos animais. Além disso, o aplicativo lê as informações de outros aparelhos e sistemas utilizados na atividade pecuária como, por exemplo, os dados de brincos ou chips eletrônicos implantados em cada animal. Também possui planilhas de custos e acesso às cotações de preços da carne e do leite, em vários países. É a partir do cruzamento dessa base de dados que o programa garante respaldo às tomadas de decisão do produtor. Mesmo assim, como parte do melhoramento de gestão da informação, está quase pronta uma atualização do sistema. A novidade é que o aplicativo poderá apontar os caminhos da produtividade de uma fazenda. “Como um navegador de trânsito, ele mostrará a rota que o pecuarista deve seguir para atingir seus objetivos”, diz. Por exemplo, o produtor pode determinar uma meta de peso para um lote de animais até o abate e o aplicativo vai informar o melhor momento para a sua venda.
O criador não revela o aporte financeiro já realizado para colocar seu negócio de pé, mas, pelo time de apoiadores os números não parecem ser pequenos. Por trás do sucesso de Leão estão investidores como Romero Rodrigues e Rodrigo Borges, fundadores do site Buscapé, vendido para o grupo sul-africano Naspers por US$ 342 milhões em 2009; a Telefônica Brasil; e o investidor sul-africano Hein Brand, que já foi presidente da Naspers. “Nossa meta é expandir no mercado pecuário americano, um setor que movimenta cerca de US$ 200 bilhões, por ano”, diz Leão. De acordo com ele, com o ritmo de crescimento neste segundo semestre de 2015, a empresa vem trabalhando com a possibilidade de terminar o ano com cerca de dez mil fazendas no sistema Bovcontrol. Mas como ele fatura? Primeiro, o serviço é oferecido gratuitamente. Depois do período de degustação, são cobrados R$ 0,30 por cada boi cadastrado.
“Nossa meta é crescer no mercado pecuário americano, um setor que movimenta cerca de US$ 200 bilhões por ano” Danilo Leão,
criador do Bovcontrol
Para o matemático inglês Greg Kelly, sócio-fundador da Eqseed, uma plataforma on-line para investimento em pequenas empresas, com sede no Rio de Janeiro, a explicação para o crescimento experimentado por Leão está na gênese das startups – geralmente, pequenos negócios baseados em tecnologia da informação e que, aos poucos, ganham proporções de grandes corporações. “Esses empreendedores descobriram um jeito diferente de atuar no mercado e por isso tem chamado a atenção de alguns investidores”, diz Kelly. No Brasil, por exemplo, no primeiro semestre deste ano foram investidos R$ 170,8 milhões em startups, de acordo com o primeiro estudo do gênero feito pela mineira Fundacity, uma rede de conexão entre startups e aplicadores.