Nos últimos anos, principalmente com a crise política que se abateu sobre o Brasil, com o sobe-e-desce do câmbio, e com os sofríveis números da economia, a chance de acertar nas previsões de mercado se equipararam às possibilidades de ganhar na loteria. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) que o diga. Em 2014, seus executivos afirmavam que a produção de máquinas agrícolas se manteria estável e apontavam até para um leve crescimento das vendas internas no País. Em vez disso, o setor amargou uma queda de 17%, saindo de uma comercialização de 83 mil máquinas, em 2013, para 68,6 mil, em 2014. A indústria acreditava que aquele seria o pior resultado e previa uma recuperação em 2015. Novamente enganada, a entidade, que reúne também os seis maiores fabricantes de tratores e colhedeiras de grãos do País, teve de engolir o pior resultado do segmento agrícola dos últimos dez anos: queda de 34,5% nas vendas, fechando com 44,9 mil máquinas comercializadas; produção reduzida em 32,8%, com 55,3 mil unidades fabricadas; e exportação de dez mil equipamentos, o que representou uma queda de 27,2% ante 2014. “Analisando o resultado da safra e o preço das commodities em alta, nada justificou essa queda”, diz Luiz Moan Yabiku Júnior, presidente da Anfavea. O que, então, fez o setor despencar?
 


Linha de montagem: 55,3 mil máquinas foram fabricadas em 2015

Especialistas afirmam que o fator crucial para o encolhimento do mercado foi a diminuição das linhas de financiamento fomentadas pelo governo federal. Responsável pelo aumento de produtividade das safras do País, nos últimos anos, o setor de máquinas agrícolas teve um grande salto a partir do Programa de Modernização da Frota de Máquinas e Implementos Agrícolas (Moderfrota) e do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), operados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A indústria saiu de uma produção anual de 46 mil unidades, em 2006, para 100,4 mil máquinas, o auge do setor, em 2013. Mas, de acordo com Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial para a América Latina, pertencente ao grupo Fiat, detentor das marcas Case IH e New Holland, e que faturou US$ 33 bilhões em 2014, “bastaram desarranjos nessas duas linhas para frear o crescimento da indústria”. “Contávamos com as linhas de financiamento do BNDES, mas ele reduziu a sua presença no mercado”, diz Fistarol. O efeito foi devastador e minou a confiança do consumidor.

 

Na ponta do lápis fica mais evidente o baque sofrido pelos produtores. Afinal, a queda na disponibilidade de recursos para o Moderfrota e PSI, linha que foi inclusive encerrada no final do ano passado, foi de 40%. Dos R$ 187,7 bilhões para o Plano Agrícola e Pecuário 2015/2016, anunciados em junho do ano passado pelo Ministério da Agricultura, R$ 10 bilhões seriam destinados pelo governo para que os produtores investissem em máquinas agrícolas, mas o montante passou a ser de R$ 6 bilhões, segundo Carlos Alberto Vianna Costa, chefe do Departamento de Crédito Rural do BNDES. “A redução dos recursos partiu do Conselho Monetário Nacional para equalizar as contas do governo devido ao corte orçamentário do País, e é com esse montante que contamos até o final de junho deste ano”, diz Costa. Para o engenheiro agrônomo Anderson Galvão, presidente da consultoria Céleres, o mercado de máquinas agrícolas pode sofrer ainda mais. “Acredito na estagnação desse mercado até 2017”.


Líderes: os tratores representaram 83% do total das máquinas vendidas em 2015

Luiz Moan, da Anfavea, tem outra visão. “Cremos que o pior já passou”, diz ele. A entidade projeta um crescimento de 2,3% em 2016. A saída para o setor será apostar mais no mercado de tratores, que custam em média R$ 100 mil e representam 83% das vendas, do que no de colheitadeiras, que saem por R$ 1,5 milhão cada. A companhia americana John Deere, dona de um faturamento mundial de US$ 28,9 bilhões, quer vender esse tipo de máquina para os setores de cana-de-açúcar e de pecuária. “As usinas, por exemplo, por muito paradas por conta de sucessivas crises, agora sinalizam investir em máquinas”, diz Rodrigo Bonaro, diretor de vendas da companhia no Brasil. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o vice-presidente da New Holland, Alessandro Maritano, vê nesse retorno do setor sucroenergético a busca pelo aumento de produtividade. “Nesse aspecto, a mecanização passa ser imprescindível”, diz Maritano. Já em relação à pecuária, os bons preços de mercado têm permitido aos fazendeiros investir em máquinas. Com a arroba do boi gordo cotada em cerca de R$ 150, o pecuarista tem buscado tratores para limpeza de pastos e implementos de colheita de forragem. “É um mercado que está comprando”, diz Bonaro.