Oprodutor Almir Dalpasquale cultiva oito mil hectares de soja e milho na região de São Gabriel do Oeste (MS) e está apreensivo em relação à safra 2016/2017 no Centro-Oeste, que começará a plantar em outubro. Ele corre contra o tempo para se planejar, mas o que já está definido é que o custo será um de seus grandes desafios. “Estamos assustados com os preços dos insumos em alta acelerada. Não temos bola de cristal, mas o aumento não vai ficar abaixo de 10%”, diz Dalpasquale, que também é o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). “O produtor precisa acompanhar com cuidado as cotações e comprar na hora certa.”

Fertilizantes, sementes, agroquímicos, combustível, máquinas, mão de obra e frete são variáveis que fazem parte da gestão do negócio agrícola e saber administrá-las pode ser a diferença entre o lucro e o prejuízo. O problema da safra 2016/2017 é que a margem de manobra vai ficar bastante justa. O preço da ureia, por exemplo, já subiu cerca de 3% em relação a 2015, chegando a R$ 1,3 mil por tonelada em março, de acordo com a Scot Consultoria. Apesar de o aumento ser pequeno, o impacto na composição do complexo de fertilização é grande, uma vez que este item representa cerca de 25% dos custos operacionais da lavoura. Para Dalpasquale, o produtor deve acompanhar o mercado e tirar proveito das oscilações de momento para tentar obter algum ganho. “Houve períodos em que o preço de fertilizante esteve em queda. Quem soube aproveitar se protegeu.” Em fevereiro e março, os fertilizantes à base de fosfato custavam cerca US$ 280, valor até 25% menor do que o praticado no ano passado.


Endrigo Dalcin, da aprosoja-MT: para o  presidente da entidade, o que vai pesar na próxima safra são os insumos

Para as sementes, a alta esperada é de 10%. No caso da soja, o preço da saca de 40 quilos da semente padrão chegou a R$ 140 na safra 2015/2016. Já na semente premium, com garantia de germinação acima de 90%, o preço chegou próximo de R$ 300. Somente o Mato Grosso demanda por cerca de 480 mil toneladas de sementes da oleaginosa. O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin, diz que cada safra tem os seus desafios. “Em 2015/2016, os produtores tiveram um aumento significativo de custo em função da demora na liberação de crédito de custeio.” Por isso, muitos deles utilizaram recursos próprios ou o sistema barter, trocando produto por insumo nas tradings. “Para a próxima safra, o que vem mais forte é o ajuste de preços dos insumos e não mais a liberação de crédito.” Entre fevereiro e março, o Banco do Brasil liberou R$ 1,4 bilhão para o pré-custeio da safra 2016/2017.


André Pessoa, da agroconsult: “O produtor precisa lembrar de travar o preço dos insumos e a venda da produção na mesma moeda”

De acordo com o diretor da Agroconsult, André Pessoa, o produtor deve ficar atento às suas operações financeiras para que não fiquem descobertas. Isso significa travar os preços de compra de insumos e de venda da produção na mesma moeda. “É uma atitude simples, mas o produtor se esquece que, se ele compra em dólar, é bom que faça a venda antecipada em dólar. Se a compra for em real, vale o mesmo”, diz Pessoa. No mês passado, ele apresentou os dados do encerramento do Rally da Safra para a soja, que indicou um custo de produção 17% maior no Centro-Oeste, comparado à temporada anterior. “O que mais pesou foi o fertilizante, que subiu 36%; o defensivo, com alta de 15%; e a semente, com incremento de 11%. A mão de obra subiu 12% e as operações mecanizadas, 9%.”

Segundo as análises da Aprosoja Brasil, os custos por hectare foram de R$ 635 para os fertilizantes, R$ 239 para as sementes e R$ 535 para os defensivos. Silvia Fagnani, vice-presidente executiva do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), afirma que a tendência para 2016 é de muitos desafios. “A indústria trabalha com insumos importados e os fatores que interferiram nos negócios em 2015 continuam presentes, como a incerteza cambial e a dificuldade de crédito”, diz.

Para Natalia Orlovicin, coordenadora de Inteligência de Mercado da INTL FCStone, como os estoques finais da soja e do milho estão baixos no mercado interno, para a safra 2016/2017 a perspectiva é de alta nos preços em reais. No caso do milho, mesmo se o resultado for bem favorável na safrinha, a situação não deve ficar folgada. Em Lucas do Rio Verde, o aumento da saca de 60 quilos foi de 83%, saiu de R$ 18 em março de 2015 para R$ 33 no mesmo mês de 2016. O mesmo é esperado para a soja. No mercado interno a perspectiva é de manutenção do preço alto, mesmo com a queda recente do câmbio. Em Paranaguá, houve incremento de 8,5% na cotação da oleaginosa comparando março de 2015 e 2016, saindo de R$ 70 por saca para R$ 76.  “É importante entender que, mesmo com os custos altos, há chance de boa rentabilidade se o produtor ficar atento às variações do mercado”, reforça Natalia.