24/05/2016 - 12:43
A planta no alvo, vista na foto que abre esta reportagem da DINHEIRO RURAL, se chama buva, nome popular para a espécie Conyza bonariensis. Ela pode ser encontrada em pomares, vinhedos, lavouras de milho, soja e algodão e também nas pastagens. Todo produtor abomina a sua presença porque ela é uma praga que pode jogar a produtividade para baixo. Nas lavouras de soja, uma única planta da praga, por metro quadrado, é capaz de reduzir a produtividade em índices superiores a 10%. Na Agropecuária NH, do agricultor Markus Gustavo Schmiedt, no município de Não-Me-Toque (RS), a buva tem sido uma das plantas daninhas que concorrem com a produção de soja. “A buva é um dos grandes problemas das lavouras na atualidade”, diz Schmiedt. Não por acaso, o produtor foi um dos 600 convidados pela Unidade de Agronegócio da multinacional alemã Bayer, para testar nos últimos dois anos a tecnologia chamada Liberty Link (LL) para a soja. O grão, modificado geneticamente, expressa uma proteína que o torna resistente ao herbicida glufosinato de amônio, utilizado para matar vários tipos de ervas daninhas, incluindo a famigerada buva.
O lançamento comercial da nova semente da Bayer aconteceu, no mês passado, na propriedade de Schmidt, durante a 17ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, uma das principais feiras agropecuárias do Sul do País. Isso porque no Rio Grande do Sul a soja transgênica é cultivada em quase todas as lavouras. Nesta safra, foram 5,3 milhões de hectares, 99,2% da área do grão. O diretor de Negócio de Sementes de Soja da Bayer Cropsciense, Hugo Borsari, diz que a cultivar estará disponível aos produtores na safra 2016/2017 e que a empresa desenvolveu 11 variedades adaptadas às principais regiões produtoras do País. “Esperamos ter até dois mil agricultores utilizando as sementes na próxima safra”, diz. A tecnologia chega ao mercado com a marca global Credenz.
Hugo borsari, da Bayer tecnologia liberty link estará disponível na safra 2016/2017
No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a tecnologia Liberty Link para a soja em 2010. Mas, como a China não havia liberado a importação dessa soja transgênica, a Bayer manteve o produto em áreas de experimento. No início do ano passado, a tecnologia recebeu o certificado de segurança do país asiático e assim se tornou comercialmente viável.
O lançamento da soja LL é parte da estratégia da Bayer para ocupar espaço em um mercado dominado por empresas como Monsanto, por exemplo, que oferecem no mercado variedades de sementes tolerantes ao herbicida glifosato. Lançada no Brasil na década 1990, a soja resistente ao glifosato se destacou por permitir o uso de um herbicida com amplo espectro de ação e que por muito tempo foi a principal opção dos produtores no combate às invasoras. Para o pesquisador Dionisio Luiz Pisa Gazziero, da Embrapa Soja, de Londrina (PR), a nova soja, agora com uma molécula diferente, o glufosinato, vai ajudar os produtores que enfrentam dificuldades com espécies de plantas danininhas que estão começando a se tornar resistentes ao glifosato. “É muito importante que neste momento o produtor tenha opções para combater as plantas daninhas”, diz Gazziero. O pesquisador diz que nas plantações de soja já há sete plantas resistentes ao glifosato, entre elas três tipos buva, mais o azevém, os capins amargoso e branco, e o Amaranthus palmieri, um tipo de caruru originário de regiões áridas do Centro Sul dos Estados Unidos e do Norte do México, onde se tornou a principal praga das lavouras de algodão. “No caso do capim amargoso na soja, com a presença de quatro a oito plantas da praga por metro quadrado, as perdas podem chegar a 44% da produção”, afirma Gazziero.
De acordo com o diretor da unidade de Sementes da Bayer Cropsciense no Brasil, Eduardo Mazzieri, a nova tecnologia prevê o uso de um herbicida de escolha do produtor no período pré-emergente da soja e do herbicida à base de glufosinato de amônio na etapa pós-emergente da planta. “Não existe uma única tecnologia que vai resolver todos os problemas da agricultura, especialmente se ela for utilizada de uma forma muito intensiva”, diz Mazzieri. “Por isso, propomos uma combinação de agentes.” De certa forma, tecnologias como a Liberty Link permitem consertar um erro cometido pelos produtores desde que o glifosato passou a ser utilizado nas lavouras: aplicar produtos para exterminar plantas daninhas sem a alternância de princípios ativos, o que leva a surgimento de plantas resistentes. Para Gazziero, é isso que tem levado ao desgaste da molécula glifosato. “Com a alternância, o glifosato vai continuar sendo o agroquímico padrão e os demais complementarão o manejo”, afirma o pesquisador da Embrapa.