22/09/2016 - 10:40
A mais tradicional feira agropecuária do Brasil, e uma das três mais antigas da América do Sul, a Expointer, realizada em Esteio (RS) no fim de agosto, é também o cenário para a disputa final do Freio de Ouro, a mais completa competição de cavalos da raça crioulo no País. Todos os anos, chegam ao Freio de Ouro 96 animais, 48 machos e 48 fêmeas. Junto com eles brilham os ginetes, os preparadores dos cavalos atletas. Neste ano, Daniel Teixeira e Guto Freire, dois dos mais consagrados ginetes brasileiros, se destacaram dos demais. Teixeira classificou 13 animais para as finais, um recorde do Freio de Ouro, mas Freire não ficou longe da marca, classificando 12 animais. “Tenho equinos preparados para brigar pelo título”, diz Teixeira. “Os resultados positivos permitem que a gente se especialize cada vez mais, porque o Freio de Ouro oferece um mercado que paga para treinarmos os cavalos crioulos. Dificilmente conseguiríamos isso com outras raças”, afirma Guto.
Os dois ginetes, tratados como estrelas no setor, participam da competição desde meados dos anos 1990, quando ainda eram adolescentes. Hoje, contam com centros de treinamento próprios para preparar os animais. “Mas ganhar um Freio de Ouro é outra história”, afirma Teixeira, que passou a disputar a prova em 1994, com um cavalo que pertencia a seu pai. O centro de treinamento, em Júlio de Castilhos (RS), começou a tomar forma dois anos depois, quando ele decidiu treinar animais de outros criadores. Hoje, há 32 cavalos no centro. “A prova depende de muitos fatores, inclusive de sorte”, diz ele. Neste ano, o ginete competiu as classificatórias com 24 exemplares. O treinamento de um animal é um processo delicado e pode demorar até um ano e meio, conforme as características de aprendizado do animal. “A genética não chega a ser um problema, porque, geralmente, o criador já se preocupou com isso”, diz Teixeira. Para ele, o bom desempenho nas provas depende, em grande parte, da qualidade e da dedicação da equipe do centro, passando por bons ferreiros, nutricionistas e veterinários.
Freire, que é dono de um centro de treinamento em Santo Antônio da Patrulha (RS), e também médico veterinário desde 2005, participou das seletivas com 25 animais. Ele conta que os cavalos geralmente chegam ao centro depois de terem sido domados. O ginete fica com o animal durante um período de experiência, quando analisa o temperamento, a habilidade e a sua inteligência, antes de decidir se vai treiná-lo. A preparação inclui sessões diárias, às vezes em dois períodos. “No começo, trabalhava também com cavalas de outras raças, mas fui me especializando”, afirma Freire No mercado do crioulo, um ginete pode ganhar até R$ 30 mil por mês.
“O ginete é fundamental no sucesso dessa disputa equestre” Onécio Prado júnior, diretor da ABCC
Para o criador de cavalos, o Freio de Ouro também significa valorização de um animal. Segundo Onécio Prado Júnior, vice-presidente de Comunicação e Marketing da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Crioulo (ABCCC), um cavalo de passeio ou trabalho custa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Mas um animal preparado para competições esportivas geralmente chega a R$ 40 mil. E se for um campeão do Freio de Ouro pode passar facilmente os R$ 500 mil. “A valorização é transferida também para a linhagem desses animais de alto desempenho”, diz Prado Júnior. Isso porque, por levar em conta não somente as capacidades atléticas de cada animal, mas também a sua morfologia, a prova serve para a seleção da raça.
Prado Júnior, que tem um cavalo no Freio de Ouro, treinado por Freire, conta que o processo de doma geralmente é feito quando o animal tem cerca de três anos e demora, em média, um ano. O treinamento vem em seguida, com equinos de até seis anos para o início do trabalho. Geralmente, os cavalos disputam o máximo de quatro anos de provas, mas nunca consecutivos. “Não pora acaso, o ginete é fundamental no sucesso dessa disputa equestre”, diz Prado Júnior. “O processo começa bem antes, com os cuidados na reprodução e na doma do animal.” Criado principalmente nos Pampas, não somente do Rio Grande do Sul, mas também de países vizinhos, como a Argentina e o Uruguai, a raça crioulo se espalhou por todo o Brasil nas últimas décadas. Por isso, no final deste mês, não apenas os gaúchos estarão de olho na raça. Atualmente, são feitas duas etapas do Freio de Ouro fora da região Sul: uma em São Paulo e outra em Brasília. “Estamos até no Nordeste, nas vaquejadas”, diz Prado Júnior. Hoje, há 402 mil cavalos registrados, com crescimento de 15% em 2015, de acordo com a ABCCC. “E vamos continuar crescendo”, afirma ele.