15/01/2021 - 10:35
A inflação de alimentos seguiu pesando mais sobre os mais pobres em dezembro, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado nesta sexta-feira (15) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No último mês de 2020, enquanto a taxa das famílias de menor renda apontou alta de 1,58%, a faixa de renda mais alta registrou avanço de 1,05%. Em 2020 fechado, a diferença ficou ainda maior: a taxa dos mais pobres apontou alta de 6,22%, ante avanço de 2,74% na taxa dos mais ricos.
O IPCA, índice de preços calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e usado nas metas de inflação perseguidas pelo Banco Central (BC), fechou o ano passado com alta de 4,52%.
Se, no ano, a dinâmica dos preços dos alimentos no domicílio deu o tom da inflação, em dezembro, o encarecimento da conta de luz também dominou os orçamentos domésticos.
“No caso das famílias de renda mais baixa, observa-se que, em dezembro, as maiores contribuições à inflação vieram dos grupos habitação e alimentos e bebidas, repercutindo a alta de 9,3% nas tarifas de energia e os aumentos no preço do gás de botijão (2,0%), arroz (3,8%), feijão (3,3%), batata (7,3%) e carnes (5,6%)”, diz o relatório divulgado há pouco pelo Ipea.
Em dezembro, o descompasso no ritmo da inflação percebida pelos mais pobres da verificada pelos mais ricos foi menor justamente porque houve pressão de mais itens do que os alimentos. Para os mais ricos, isoladamente em dezembro, “os reajustes nos preços das passagens aéreas (28,1%), dos transportes por aplicativo (13,2%) e da gasolina (1,5%) fizeram do grupo transporte o maior foco inflacionário”, diz o relatório do Ipea.
No ano como um todo, o descompasso se explica pela forte aceleração de preços de alimentos e energia, que pesam para os mais pobres, e por uma alta menos intensa nos preços dos serviços e dos combustíveis, que afetam mais os gastos das famílias mais ricas.
Segundo os pesquisadores do Ipea, para as famílias mais pobres os gastos com alimentos, energia e gás comprometem 37% dos seus orçamentos. E esses itens estão entre os que mais encareceram em 2020. Ficaram mais caros itens como arroz (76%), feijão (45%), carnes (18%), leite (27%) e óleo de soja (104%), além das tarifas de energia (9,2%) e do gás de botijão (9,1%).
Já os itens que ocupam mais espaço na cesta de consumo dos mais ricos, tiveram alta mais modesta. O destaque foram os gastos com serviços livres, “com grande peso no orçamento das famílias mais abastadas, como mensalidades escolares (1,1%) e serviços médicos e hospitalares (1,8%), e as deflações em itens consumidos majoritariamente pela população com maior poder aquisitivo, como passagens aéreas (-17%), seguro de automóvel (-8%) e gasolina (-0,2%)”.