24/01/2021 - 17:12
Candidatos que compareceram à Universidade do Estado da Bahia (Uneb) neste domingo, 24, para o segundo dia de realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), disseram que comemoraram o grande número de alunos ausentes na semana passada e só retornaram porque já contavam com uma abstenção ainda maior. No domingo passado, a abstenção foi de 51,5%, um recorde na história do exame.
Por volta das 11h30, horário em que as portas foram abertas, apenas seis candidatos aguardavam para entrar na Uneb, localizada no bairro do Cabula, em Salvador.
Uma delas, a estudante Sara Cristina, 19 anos, afirmou que comemorou a abstenção porque, segundo ela, não havia espaço para cumprir o distanciamento necessário.
“Ainda bem que muita gente não veio e, provavelmente, não vem hoje novamente. As salas são relativamente apertadas e certamente teriam lotado”, disse ela, pouco antes de entrar na universidade. Sara afirma, contudo, que a abstenção não é algo positivo no sentido educacional. “Todo mundo sabe que tinha que ser adiado. Quem fez, fez porque não viu jeito, muita gente saiu prejudicada”, avalia ela, que chegou acompanhada do pai.
Quem não se sentiu confortável no primeiro dia, como o auxiliar de escritório Rodrigo Santos, 24 anos, preferiu não arriscar. O jovem, que falou com o jornal O Estado de S. Paulo no domingo passado, disse que saiu do local inseguro quanto ao coronavírus. “Sem condições, fazia muito calor e não tinha corrente de ar. Tinha gente tossindo e isso tirava demais a concentração. Infelizmente, vou ter que adiar meus planos”, afirmou ele, por telefone.
Rodrigo havia relatado ainda que não houve alternância entre as cadeiras e aferição de temperatura nas entradas. “Hoje seria um tempo até menor, mas eu preferi não ir até lá porque os casos só aumentam, me senti realmente inseguro”. Neste domingo, os candidatos têm cinco horas para responder às 90 questões de Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Assim como o auxiliar, a estudante Clara Novaes, de 17 anos, também optou por não ir até a Uneb. Com queixas parecidas sobre o ambiente em que fez o exame, ela disse que desistiu por medo. “Minha sala não estava tão cheia, mas passei a prova inteira bastante tensa, com medo e insegura, então não fazia sentido ir hoje. Me senti muito prejudicada porque sou asmática, fiquei nervosa, isso desestabiliza a gente”. A jovem optou por tentar a próxima edição do exame, ainda sem data para acontecer.
Já a estudante Rebeca Barbosa, 17, conta que fez a primeira prova tranquilamente porque mais da metade da sala faltou. “Rolou aquela tensão pela pandemia, mas consegui me concentrar. Muito graças ao pessoal que não veio, porque a sala realmente teria lotado”, acredita. Rebeca diz ainda que não pensou em desistir porque “sabia que o movimento hoje seria menor”.
Hipertensa e obesa, a artesã Ana Rita Araújo, 58, bem que tentou, mas não conseguiu transferir sua prova para fevereiro. Grupo de risco, ela retornou neste domingo à Uneb para a segunda prova. Segundo Rita, dos 40 alunos que estariam na mesma sala que ela, apenas 17 compareceram. “Foi o que me deixou tranquila. Prometeram uma sala com 25% de ocupação, mas a verdade é que se todo mundo tivesse isso teríamos um potencial foco de transmissão em caso de contaminados”, relata a artesã.
Próximo à Uneb, no Colégio Estadual Governador Roberto Santos, também no Cabula, a situação não foi muito diferente. Pouca movimentação e estudantes com expectativa de abstenção ainda maior. De acordo com o segurança Roger Pinto, que trabalha há dez anos na unidade, a quantidade de candidatos foi menor que a do primeiro dia, diferente do que aconteceu em alguns Estados onde pessoas foram impedidas de fazer a prova em decorrência da lotação. “Eu já tinha achado o primeiro bem fraco, mas hoje superou. Nunca vi um exame com tão pouca aderência”, contou à reportagem.
No último domingo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), 2.842.332 candidatos não compareceram aos locais de prova.
O número elevou a abstenção ao recorde histórico de 51,5%, embora o Ministério da Educação (MEC) avalie a edição como um “sucesso”. A reportagem tentou contato com a Secretaria de Educação da Bahia (SEC) mas não obteve retorno.