25/01/2021 - 7:12
O mercado de carros também foi marcado em 2020 pelo aumento da participação dos seminovos e usados nas vendas e nos financiamentos. Os problemas de falta de peças enfrentados pelas montadoras durante a pandemia e a consequente alta nos preços dos veículos novos acabaram empurrando os brasileiros para aquisição de automóveis já rodados, com parte deles recorrendo à chamada “troca com troco”, em busca de algum alívio financeiro na crise.
No ano passado, as vendas de seminovos ou usados somaram 11,4 milhões de unidades, ou 83% do mercado total, um aumento em relação aos 80% de 2019. Salto semelhante foi visto nos financiamentos, com os seminovos e usados passando a responder por 67% dos contratos aprovados pelos bancos em 2020, contra 63% no ano anterior.
Há dois aspectos centrais por trás desse retrato. No primeiro, as montadoras passaram a sofrer com falta de peças para produzir carros novos, em razão das restrições da pandemia. No início, a insuficiência não chegou a causar grandes transtornos porque as concessionárias estavam fechadas.
Contudo, quando as lojas foram sendo gradualmente reabertas, a demanda que estava reprimida explodiu e não havia automóvel para todo mundo. “Com o aumento da demanda e a falta de carro, os preços começaram a subir”, lembra Robson Martinho, superintendente de estratégia digital da Santander Financiamentos.
Em seguida, começaram a surgir os impactos da alta de preços e da falta de carros. “Com os veículos zero-quilômetro sendo vendidos a preços mais altos, a capacidade de compra das faixas média e baixa diminui e esse público passa a procurar também por carros seminovos”, afirma Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics.
Com a crise, uma parte dos consumidores também viu no mercado de usados a possibilidade de ganhar algum dinheiro e obter um alívio financeiro, recorrendo à chamada “troca com troco”, quando se faz a troca de um usado de maior valor por outro de menor valor, saindo com recurso com bolso. “Eram pessoas que queriam manter a sua mobilidade e, ao mesmo tempo, gerar alguma liquidez adicional”, afirma Martinho, do Santander.
Até mesmo quem tinha uma renda mais alta se viu obrigado a procurar os veículos seminovos ou usados, em razão da falta de novos. Nesse caso, até saiu ganhando em termos de conforto, por conseguir comprar, com o mesmo dinheiro, um usado com mais tecnologia.
“O cliente queria comprar um carro novo, de R$ 80 mil a R$ 100 mil, não encontrou o que procurava e acabou migrando para o mercado de usados, podendo até comprar um carro usado mais luxuoso”, explica o executivo do Santander.
Para 2021, a expectativa dos bancos é que os carros usados sigam tendo um desempenho superior ao de novos, mesmo com a esperada retomada da economia, até porque é possível que as montadoras continuem tendo problemas de abastecimento, em especial no primeiro semestre.
O Itaú, por exemplo, prevê expansão de 20% para as vendas de seminovos e usados, enquanto o mercado de novos tende a crescer 16%, segundo projeção da Fenabrave, federação que reúne as concessionárias.
Elitização do consumo
Levantamento feito pela consultoria Jato Dynamics a pedido do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostra que as compras de carros novos de entrada, com preços de no máximo R$ 50 mil, foram reduzidas a 10,5% do mercado no ano passado.
Em 2018 e 2019, um período de recuperação das vendas de carros, o segmento respondia, respectivamente, por 26,9% e 23,2% das vendas totais. Ou seja, sua representatividade caiu para menos da metade do que era antes do coronavírus.
Na direção oposta, automóveis com preços na faixa de R$ 50 mil a R$ 90 mil ganharam espaço e já representam mais da metade do mercado (54,6%). Até 2018, esse tipo de veículo respondia por 46% do total de carros que saiam das concessionárias.
Os números mostram que os carros populares foram mais afetados pela pandemia do que os produtos da faixa intermediária, ou mesmo do que categorias premium, já que atualmente os automóveis que custam de R$ 90 mil a R$ 130 mil (18,5% do mercado total) têm volumes superiores aos modelos com preços mais baixos nas tabelas de revendas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.