Com a decisão da Mesa Diretora de manter a eleição da Câmara no formato presencial a despeito do avanço da pandemia do novo coronavírus, 21 cabines de votação foram espalhadas pela Casa para registrar, de forma secreta, a escolha dos parlamentares na disputa, marcada para segunda-feira, 1º. O espaço, de 1 metro de profundidade e 90 centímetros de largura, fechado por três paredes de madeira e uma cortina, foi apelidado por deputados da oposição de “cabine da covid”.

“Aquilo ali é um absurdo sanitário. Você não pode, nesse momento, colocar uma fila de deputados em um espaço fechado. Você entra em uma cabine fechada, pode espirrar e tossir e, em seguida, entra outro”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que é médica.

“Não tem ventilação, o ar não vai circular ali”, disse a líder do PCdoB, Perpétua Almeida, ao ver a instalação dos espaços no Salão Verde.

Em tempos normais, sem pandemia, a eleição da Câmara acontece dentro do plenário da Casa, com cabines espalhadas nas laterais do espaço.

O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que está trabalhando para realizar a eleição da Câmara da “melhor forma possível”. Ele defendia uma votação mista, presencial e virtual, para preservar parlamentares do grupo de risco. Segundo ele, três mil pessoas deverão circular pela Casa no dia 1º de fevereiro.

Contra a vontade de Maia, a Mesa Diretora decidiu, por 4 votos a 3, que a eleição se dará na modalidade presencial. A decisão teve apoio de deputados alinhados a Arthur Lira (PP-AP), adversário de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa. “Assim sendo, estamos organizando da melhor forma possível para que a gente garanta o máximo de distanciamento entre os parlamentares e servidores e a imprensa no dia 1º de fevereiro”, acrescentou Maia.

A Câmara reservou dois espaços para a instalação das urnas. No Salão Verde, 18 delas estarão disponíveis, e no Salão Nobre, outras três, para uso dos parlamentares pertencentes aos grupos de risco.

No domingo, 31, a Câmara fará uma limpeza especial dos espaços a serem utilizados durante o processo eleitoral. “A higienização mecânica com hipoclorito e álcool 70% será realizada ao longo do dia, sempre que for necessário”, afirmou a assessoria da Câmara.

Além disso, vaporizadores com álcool líquido 70% estarão disponíveis em todas as cabines de votação, bem como totens de álcool em gel. A equipe de limpeza de plantão vai higienizar a cabine eleitoral periodicamente ou a pedido do parlamentar.

Para a deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS), a higienização deve ser insuficiente para evitar o contágio em um espaço fechado como o das cabines. “Inacreditável que em meio à segunda onda da pandemia se planeje a votação em verdadeiras cabines de covid sem ventilação e ainda com cortinas”, disse Melchiona.

“Além da utilização do velho toma lá dá cá para interferir no resultado da eleição, o candidato de Bolsonaro tem uma posição irresponsável na condução da votação presencial”, disse ela.

Em dezembro do ano passado, o Progressistas, partido de Lira, chegou a levantar suspeitas sobre um ataque hacker caso a eleição ocorresse de modo virtual. O PDT, por sua vez, pediu a intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF) para permitir a disputa no ambiente virtual, mas a ministra Rosa Weber negou o pedido do partido.