20/02/2021 - 13:30
Com a alta de internações por covid-19 no País e a confirmação da presença da nova variante do vírus em vários Estados, cidades pequenas e médias de todas as regiões já enfrentam situação próxima do colapso, com 100% dos leitos ocupados, filas de espera por vagas de UTI e equipes correndo para antecipar altas e abrir espaço para doentes gravíssimos.
A situação foi relatada por médicos, secretários municipais de Saúde e pacientes de oito Estados ouvidos entre quarta e quinta-feira. Alguns dizem já estar recusando novas internações e temem que o cenário piore nas próximas semanas com a disseminação da nova cepa do vírus.
Um dos cenários mais dramáticos acontece na região do Triângulo Mineiro. Em Uberlândia, há 222 pacientes internados em UTIs para tratamento de covid-19 – que tomam 95% da capacidade de atendimento local. A situação mais grave, no entanto, é a de Monte Carmelo, município de 48 mil habitantes – onde o Hospital Alberto Nogueira, único a tratar a covid, está há mais de um mês com 100% de ocupação de seus 16 leitos de UTI. Somente anteontem, foram 160 novos casos confirmados. Como comparação, Belo Horizonte registrou 62 casos.
No sábado, o prefeito de Monte Carmelo, Paulo Rocha, publicou vídeo nas redes pedindo a doação de cilindros ao hospital da cidade. Naquele dia, o consumo, que antes era de cinco por dia, chegou a 54 – e na quinta passou a 123. “O quadro de saúde dos pacientes está piorando muito rapidamente, o que eleva o consumo de oxigênio”, disse Rocha. O secretário estadual de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, prometeu levar o problema ao governo federal.
No Paraná, a região de Maringá vive à beira do colapso há semanas. No Hospital Universitário da cidade, a ocupação segue em 100%, como conta Edvaldo Vieira de Campos, que coordena a UTI da unidade. “Antes da pandemia, tínhamos oito leitos de UTI. Abrimos 20 novos. Para um hospital do nosso porte, é um aumento absurdo. A linha entre a superlotação e o colapso é muito tênue. É uma situação que nos tira o sono”, declarou.
No Rio Grande do Sul, cidades da Grande Porto Alegre, como São Leopoldo e Gravataí, e da região da Serra Gaúcha, como Gramado, registram superlotação. A cidade turística foi a primeira a ter a confirmação da nova variante no Estado. “O retorno das aulas foi suspenso, proibimos eventos, suspendemos cirurgias eletivas e os leitos cirúrgicos estão sendo adaptados para atender covid”, relata o secretário da Saúde de Gramado, Jeferson Moschen.
Norte e Centro-Oeste
Na região Norte, Santarém, cidade com 300 mil habitantes no interior do Pará, enfrenta situação difícil. “Tínhamos 20 leitos de UTI antes da pandemia e fomos ampliando, mas nunca é suficiente. Já estamos com 60 e com fila de espera de doentes na UPA precisando ser transferidos”, conta Antonio Alves da Silva, do Hospital Regional do Baixo Amazonas.
Ele comenta ainda a falta de profissionais para atender à demanda crescente. “Tivemos de parar a residência de médicos recém-formados para colocá-los na nossa escala da UTI.”
Mesmo no Centro-Oeste, que teve aumento mais tardio de casos de covid, a superlotação não é diferente. Em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, não há mais leitos disponíveis. “Já estamos em uma situação de colapso agora. Tenho pacientes na sala vermelha de emergência, esperando por uma vaga de UTI. Estamos dando alta precoce da UTI para abrir vaga”, diz Demetrius do Lago Pareja, diretor do Hospital Regional de Ponta Porã.
No Nordeste, o interior do Ceará vive uma das situações mais difíceis. Hospitais de Juazeiro do Norte, lotados, recorrem a hospitais privados de municípios vizinhos para transferir doentes. “Estamos recebendo pacientes com outras doenças de Juazeiro para os hospitais de lá atenderem a covid”, conta Meton Alencar, que trabalha em Crato. Ele teme que a situação de Manaus se repita na região.
‘Enxugar gelo’
Assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Alessandro Chagas afirma que os relatos colhidos pela reportagem em vários Estados se repetem por todo o País. Ele destaca que, enquanto não houver o controle da transmissão, a abertura de novos leitos nunca será suficiente. “É como enxugar gelo. Novos leitos não vão dar conta se a gente não seguir as medidas não farmacológicas de distanciamento e não insistir em testar mais e isolar pessoas contaminadas e seus contatos”, advertiu.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.