05/01/2017 - 12:32
Agronegócio direto | conglomerados
Existem alguns setores cuja tendência é sofrer menos em uma crise. São os casos do segmento de alimentos e de medicamentos. As pessoas não deixam de comer, como também não podem parar de tomar remédios. Mesmo assim, eles não estão imunes às tormentas da economia. A área de alimentação, por exemplo, obteve um faturamento de R$ 561,9 bilhões em 2015, uma alta de 6%, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). A expansão, no entanto, ficou abaixo da inflação oficial do ano, que foi de 10,67%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA).
O indicador mais ilustrativo de que algo não ia bem para o setor de alimentos era o da produção. Em 2011, ela cresceu quase 5%. Daí em diante entrou em uma lenta e progressiva queda. Em 2015, pela primeira vez, foi negativa em 2,9%. Desde então, a produção começou a se recuperar. Em outubro deste ano, levando-se em conta os últimos 12 meses, o índice marcava 1,5% negativo. “Acredito que o setor deve retomar o patamar anterior à crise na virada deste ano”, afirma Denis Ribeiro, diretor de economia da Abia.
Nesse cenário adverso, a empresa de alimentos BRF conseguiu se destacar. Vencedora da categoria Agronegócio Direto – Conglomerados do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, pela segunda vez, a companhia que surgiu da união das rivais Sadia e Perdigão está apostando cada vez mais suas fichas na internacionalização de seu negócio. Hoje, os produtos da gigante brasileira podem ser encontrados em mais de 150 países. “Quando ingressei na BRF, em novembro de 2013, contávamos com nove fábricas no Exterior, sendo sete na Argentina, uma no Reino Unido e uma na Holanda”, diz Pedro Faria, CEO da BRF. “Hoje, temos 19 unidades, ou seja, ampliamos em mais de 100% a presença da companhia no cenário internacional.”
Esse processo de internacionalização começou em abril de 2013, quando o empresário Abilio Diniz assumiu o comando do conselho de administração, numa articulação que contou com o apoio da gestora de recursos Tarpon, uma das acionistas da BRF, da qual Faria fazia parte. Sob a batuta de Diniz, a companhia fez uma enorme reestruturação para atuar em diversas regiões do globo. “A BRF era a maior exportadora de frango do mundo, mas isso não era suficiente”, diz Abilio Diniz. Em um primeiro momento, o empresário escolheu o consultor Claudio Galeazzi como CEO da BRF. Os dois já se conheciam da época do Pão de Açúcar, nos anos 2000, quando Galeazzi foi presidente da rede varejista. Pedro Faria, naquele momento, foi escalado para tocar as operações globais, preparando-se para assumir o comando da companhia, o que aconteceu em janeiro de 2015. Em sua gestão, foram contratados CEOs para cada uma das regiões consideradas prioritárias à BRF. Atualmente, a empresa conta com executivos no Brasil, no Oriente Médio, na Europa, na América Latina, na África e na Ásia.
De todas essas regiões, o Oriente Médio é, de longe, o mais importante para a BRF. Lá, a receita operacional líquida atingiu R$ 4,7 bilhões nos noves primeiros meses de 2016. Em seguida está a Ásia, que faturou R$ 3,6 bilhões, no mesmo período. A Europa é o terceiro maior mercado internacional, com R$ 2,9 bilhões. A América Latina precisa ainda ser desenvolvida e representa apenas R$ 1,5 bilhão. A África contribui com apenas R$ 567 milhões às receitas. O Brasil ainda é o maior mercado da BRF, tendo faturado R$ 10,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2017.
A principal aposta da BRF na região do Oriente Médio é a Sadia Hahal, subsidiária criada em julho deste ano, voltada para atender ao consumidor muçulmano. O objetivo é que a nova empresa fature anualmente US$ 2 bilhões e tenha uma geração de caixa de US$ 450 milhões, com uma margem Ebitda de 22%. A Sadia Halal está inserida em um mercado com 200 milhões de pessoas e PIB de US$ 6 trilhões. Em novembro, a companhia divulgou que contratou bancos de investimentos para avaliar alternativas estratégicas à companhia. O mercado avalia que a empresa pode abrir o capital, como forma de se capitalizar, o que não é confirmado pela empresa. “A BRF investe há muitos anos no Oriente Médio”, diz Gabriel Vaz, analista do banco de investimento Bradesco BBI. “Eles têm uma boa percepção local e uma marca forte.”
Apesar dessa expansão internacional, a BRF tem enfrentado um ano difícil. A receita operacional líquida chegou a R$ 25,1 bilhões nos nove primeiros meses de 2016, alta de 8,2%. O lucro líquido nos três primeiros trimestres, no entanto, teve uma queda de 94,2%, quando somou R$ 88 milhões – no mesmo período do ano passado, foi de R$ 1,5 bilhão. Na visão de analistas, esse desempenho reflete uma tempestade perfeita pela qual está passando a BRF em 2016. A companhia está pressionada por diversos fatores. Um deles é o aumento do preço do milho, um insumo essencial para a companhia. A desaceleração macroeconômica do Brasil também trouxe os seus problemas para o mercado interno. A volatilidade do câmbio, que sobe e desce como um cardiograma anormal por conta da crise política, também traz problemas à BRF. Por fim, a competição ficou mais acirrada, em especial com a JBS Foods, dona marca Seara. “Apesar desse cenário, houve um avanço de margem e rentabilidade por conta do maior foco em produtos internacionais”, diz Vaz, do Bradesco BBI.
No mercado interno, a BRF enfrenta uma concorrência mais acirrada por parte da JBS, que ficou em segundo lugar no quesito Melhor Gestão Corporativa (confira tabela na página anterior). A companhia da família Batista anunciou, em dezembro, que vai abrir o capital JBS Foods International, em Nova York. Essa companhia será controlada pela JBS S.A., cuja sede permanecerá no Brasil. Debaixo da JBS Foods ficarão todas as operaões internacionais, bem como a Seara, a principal rival da BRF no mercado local. O IPO, acreditam os analistas, deve ocorrer no primeiro trimestre de 2017.