17/01/2017 - 12:00
Grãos
Nos últimos 15 anos, duas safras marcaram a história da produção de grãos no Brasil: a de 2000/2001 e a de 2014/2015. No primeiro caso, os produtores quebraram a barreira de 100 milhões de toneladas colhidas. No segundo, a da safra encerrada no dia 30 de junho do ano passado, superou 200 milhões de toneladas. Quebrar a barreira de 300 milhões é uma questão de tempo, que até poder ser encurtado. Hoje, se fossem aplicadas no campo todas as tecnologias disponíveis à agricultura, o feito seria possível rapidamente. Está aí a chave para que o Brasil passe do segundo posto de maior fornecedor de alimentos do planeta para o primeiro lugar. Vale lembrar que há pouco mais de duas décadas, na safra encerrada em 1990, a produção foi de “meros” 58 milhões de toneladas de grãos.
Plantações como as de soja, milho, arroz, feijão, canola, centeio, triticale, amendoim e trigo estão por toda parte e as histórias de produtores e de empresas que fizeram – e ainda fazem – fortunas também. É o caso da Cooperativa Mista Itaquiense (Camil), que nasceu no município de Itaqui (RS), emprega 4,5 mil pessoas e que, em 2015, faturou R$ 2,6 bilhões. Neste ano, a Camil é a campeã do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL na categoria Grãos.
Criada em 1963 pelo ex-seminarista itaquiense Jairo Santos Quartiero, atual presidente do Conselho de Administração, a Camil passou por um forte movimento de expansão, tornando-se uma das maiores beneficiadoras de alimentos da América Latina. O grupo, que desde 2013 tem como presidente Luciano Maggi Quartiero, ampliou suas atividades ao adquirir 15 empresas na última década. Famosa pela liderança em vendas de arroz a feijão, a empresa comprou marcas como a do açúcar União e a de pescados Coqueiro, tradicionais entre os consumidores brasileiros. Também expandiu suas atividades para fora do País. Assim, a Camil chegou a 27 unidades fabris, das quais nove são no Uruguai, três no Chile, duas no Peru e uma na Argentina, além de 12 unidades no Brasil. A capacidade de processamento de grãos é gigantesca. Somente de arroz, são beneficiadas 15,5 milhões de sacas por ano, volume equivalente a 13% do mercado do cereal no País.
No ano passado, o lucro líquido da Camil foi de R$ 110,5 milhões, uma alta de 5,5% em relação a 2014. Diante do crescimento acelerado, a Camil saiu em busca de um sócio para ajudá-la a dar saltos ainda maiores. Em junho deste ano, o fundo americano de private equity Warburg Pincus adquiriu a participação de 31,7% da Camil. Até então, eles pertenciam ao Fundo de Investimento de Participações Camil (FIP Camil), gerido pela Gávea Investimentos. O Warburg Pincus, que também possui escritórios na Europa, na China e na Índia, faz a gestão de US$ 40 bilhões em ativos de private equity. Sua carteira é composta por 120 empresas.
A atração desse tipo de investidor faz sentido. Para Lucas Brunetti, economista do Banco Pine, a safra 2016/2017, que começou a ser plantada nos últimos meses, promete ser uma boa oportunidade de negócios. “No primeiro semestre de 2017, a perspectiva é de preços muito bons para os produtores de grãos”, afirma Brunetti. Já no segundo semestre, a entrada de uma safra cheia deve pressionar os valores. De acordo com os primeiros levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que gerencia as colheitas em todo o Brasil, o volume de grãos na temporada 2016/2017 pode chegar a 215,1 milhões de toneladas, 15% acima da temporada anterior, prejudicada ora por estiagem, ora por chuva.
Mas não é somente no Brasil que a produção de grãos deve crescer. Para o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) a estimativa global de produção no período 2016/2017 é de 2,015 bilhões de toneladas, o segundo maior resultado da história. Se confirmada, ela ficará apenas abaixo da safra 2014/2015, que foi de 2,046 bilhões de toneladas. Além da esperada colheita brasileira, o aumento da produção mundial deve vir de uma maior produção de trigo na União Europeia, na Rússia e nos EUA, e da disponibilidade de americanos e de argentinos em ampliar o plantio de milho.