17/01/2017 - 12:41
Máquinas e implementos agrícolas
Uma frase atribuída ao poeta e compositor Tom Jobim define com precisão a complexidade do País e ajuda a explicar o interminável sobe-e-desce da economia nacional: “O Brasil não é para principiantes”. Não é mesmo. Que o diga o setor de máquinas e implementos agrícolas, um dos mais afetados por essa dolorosa característica brasileira. Depois de viver sua década de ouro entre 2003 e 2013, com alta de 138% nas vendas, ele caiu quase 35% nos últimos dois anos. “Os últimos meses foram um teste de resistência para os empresários do setor, e uma prova de que só resiste quem realmente não é amador nesse ramo”, diz o economista Décio Munhoz, especialista em agronegócio na Universidade Federal do Tocantins. “Quem superou as dificuldades, hoje está muito mais forte.”
A boa notícia é que, ao que tudo indica, o pior está ficando para trás. Pelos cálculos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas internas dos fabricantes de máquinas agrícolas e rodoviárias atingiram 4,8 mil unidades em outubro deste ano, uma alta de 28,4% na comparação com igual período de 2015. Frente a setembro, houve ligeiro crescimento de 0,4%. “Como o setor agrícola não está mal e os produtores estão conseguindo colher e vender a safra a preços relativamente razoáveis, há um suporte consistente para a compra de máquinas”, afirma Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), na Abimaq, a principal associação que representa a indústria de maquinários. O desempenho de outubro, no entanto, ainda não é suficiente para reverter o cenário de retração da indústria de máquinas agrícolas no acumulado do ano. De janeiro a outubro, as vendas foram de 35,2 mil unidades, 13,3% a menos que no mesmo período de 2015, quando saíram 40,5 mil unidades.
A principal locomotiva do setor de máquinas tem sido o segmento de colhedeiras de grande porte, com potência de mais de 410 cavalos. Foram comercializadas 135 máquinas em outubro, 62,7% a mais que em setembro, quando a Anfavea registrou apenas 83 unidades vendidas. Nos tratores de até 80 cavalos de potência, as vendas caíram 6,3% de duas mil para 1,8 mil unidades. Já nas máquinas entre 81 e 130 cavalos, a comercialização ficou praticamente estável em 1,2 mil unidades.
Nesse cenário de contrastes, entre as dificuldades dos últimos anos e as perspectivas de recuperação, algumas empresas têm demonstrando uma notável capacidade de resistência e de adaptação. É o caso da Jacto, fabricante paulista de máquinas, bicampeã do setor de Máquinas e Implementos Agrícolas no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL. Apesar da queda de 21,1% na receita de 2015, a empresa preservou seus planos de investimentos, ampliou seus recursos em pesquisa e desenvolvimento em 10% e manteve seu quadro de funcionários – em vez de, como é de costume em muitas empresas, cortar custos simplesmente demitindo. “Para nos adequar ao novo patamar do mercado, fizemos alguns ajustes na produção, quitamos dívidas para reduzir despesas com alavancagem e nos mantivemos focados na certeza de que as coisas irão melhorar”, afirma Fernando Gonçalves, presidente da divisão de agro da Jacto, que responde por 70% do faturamento. “Depois de cair mais de 20% no ano passado, devemos crescer 15% neste ano e, se a situação continuar como está, avançaremos mais 10% em 2017.” A empresa é controlada pela família de Jorge Nishimura, atual presidente do conselho de administração.
Como prova de que a Jacto não se escondeu na tempestade da crise econômica, dois importantes lançamentos foram anunciados neste ano: os modelos 2530 e 4530, veículos pulverizadores equipados com o que há de mais avançado em tecnologia. “São equipamentos com o que há mais moderno em termos de telemetria e mobile”, afirma Gonçalves. “Com a perspectiva de melhora no agronegócio, as encomendas estão voltando.” O otimismo é, de fato, um fator de tem impulsionado alguns segmentos do agronegócio.