22/02/2017 - 12:37
A movimentação de café na zona de embarque do porto de Santos, no litoral paulista, sempre foi um símbolo da exportação do País. Ainda hoje, embora outras rotas sejam usadas, o grão tem a sua importância. No ano passado, 84% das vendas externas de café foram embarcadas em Santos, para cerca de 140 países. Mas, juntando os embarques realizados nos demais portos, o mercado do café encolheu. De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que tem sede em Santos e faz o rastreamento dessas vendas, o País embarcou 34 milhões de sacas de 60 quilos, volume 8,1% abaixo do ano anterior.
A renda do grão foi de US$ 5,4 bilhões, ante US$ 6,1 bilhões em 2015.
“A queda se deu em função da estiagem dos últimos anos, o que comprometeu a produção cafeeira, principalmente do café conilon no Estado do Espírito Santo”, diz Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé, no mês passado, ao apresentar os dados do setor.
Mesmo assim segue como maior exportador, posição difícil de ser perdida para países como Vietnã ou Colômbia, respectivamente, segundo e terceiro maiores produtores mundiais. O maior recuo no volume exportado se deu no mercado americano, o cliente número um do café brasileiro: passou de 7,8 milhões de sacas para 6,5 milhões, 17,6% menos. “O maior recuo foi na compra de café solúvel, onde o conilon predomina, e também onde ocorreram as maiores perdas de produção por causa da estiagem”, afirma Carvalhaes. Em contrapartida houve aumento das exportações para países como a Rússia e o Japão: 18,6% e 2,5%, respectivamente. Os russos compraram 972 mil sacas e os japoneses, 2,5 milhões de sacas. “O Japão é um mercado fabuloso e que tende a crescer, principalmente no segmento dos cafés especiais”, diz Carvalhaes. No ano passado, o Brasil embarcou 5,9 milhões de sacas desse tipo de grão mais valorizado, pela média de US$ 197,7 por saca, valor 20% acima da média do café commodity.
O fato é que a cadeia produtiva do café, com uma parte substancial baseada em pequenos produtores, é fortíssima no agronegócio. Para 2016, o valor bruto dessa cadeia está estimado em R$ 28,3 bilhões, montante 0,21% superior a 2015. No mercado interno, o consumo da bebida está em rota ascendente desde 2013, o que fez o valor bruto sair de R$ 5,25 bilhões para R$ 9,51 bilhões no ano passado, 81% acima. Já as exportações, que também vinham trilhando a mesma rota até 2015, no ano passado deram marcha à ré. O valor bruto das exportações caiu de R$ 20,5 bilhões para R$ 18,8 bilhões. Ainda assim, de acordo com as auditorias do Cecafé, o Brasil é o país que mais repassa o valor FOB aos produtores do setor, estimado em mais de 80%, segundo o Índice de Participação na Exportação do Produtor (IPEP). “Não tenho dúvida de que o cenário para os próximos dez anos é muito positivo ao Brasil”, diz Carvalhaes. “O café é um ótimo negócio.”
O produtor Lúcio Araújo Dias, que cultiva café no Sítio Jequitibá, em Guaranésia (MG), e também é superintendente comercial da Cooperativa Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), afirma que já é possível prever um mercado enxuto para o próximo período. “A estiagem que fez a produção do conilon despencar no Espírito Santo vai levar pelo menos dois anos para se recuperar”, diz ele. De acordo com a secretaria de Agricultura do Estado, entre 2014 e 2016, a produção capixaba de conilon despencou de 9,94 milhões de sacas, para 5,93 milhões levando aos cafeicultores capixabas a prejuízos da ordem de R$ 2,2 bilhões. “Vai faltar café no mercado”, afirma Dias. Para ele, a conta é simples.
Para suprir a demanda, o País deveria produzir cerca de 53 milhões de sacas na safra 2017/2018. Isso porque a demanda do mercado interno tem ficado em torno de 22 milhões a 25 milhões de sacas. Mais 30 milhões de sacas vão para a exportação. Mas, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), dificilmente esse cenário se concretizará. O primeiro levantamento de 2017 da safra de café mostra que a colheita pode variar de um mínimo de 43,6 milhões de sacas a 47,5 milhões, uma queda estimada em até 15%. A safra 2016 foi de 51,4 milhões de sacas. Além do impacto do clima sobre as lavouras, a baixa da próxima colheita se deve à bienalidade negativa da planta, na qual um ano ela produz bem e no outro não.
Para completar o quadro, os estoques de passagem estão baixos no Brasil e no mundo. No País, historicamente, os estoques ficam entre oito milhões e dez milhões de sacas. Na passagem para 2016, o estoque era de quatro milhões de sacas e neste ano não deve ficar muito longe. “A escassez vai gerar um mercado interessante para o produtor, principalmente para o de café arábica”, afirma Dias. No mundo, ficam entre 23 milhões e 26 milhões de sacas. “A Europa está no nível mais baixo, próximo de dez milhões e os Estados Unidos, próximo de seis milhões.”