É notório que as pessoas do campo têm de acordar cedo. Caso contrário, o dia não rende e os lucros não chegam. O Banco do Brasil seguiu essa regra em 2017, e anunciou a liberação dos recursos para o pré-custeio da safra 2017/2018 logo no início de janeiro, em vez de esperar o fim do mês, como geralmente ocorria. O BB também ampliou em quase 20% a dotação total. A safra 2017/2018 contará com R$ 12 bilhões destinados ao pré-custeio, ante os R$ 10,3 bilhões da safra anterior. “Estamos otimistas e acreditamos que, nesta safra, vamos bater um recorde nessa linha de financiamentos”, diz Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de agronegócio do BB.104

O executivo afirma que a estratégia do BB de antecipar os recursos acontece por uma boa razão. No início do ano, enquanto os produtores estão se preparando para plantar a safrinha, as indústrias estão sondando os humores do Ministério da Agricultura para tentar sentir a temperatura do Plano Safra, que geralmente é anunciado em maio ou junho. “Os principais fornecedores costumam reajustar os preços de seus produtos nesse momento, imediatamente após a divulgação do Plano Safra”, diz ele. “Assim, se o produtor rural tiver recursos para fazer suas encomendas no início do ano, ele poderá comprar mais barato e melhorar sua margem de lucro.”

A percepção otimista de Costa para esta safra foi comprovada na prática. Em apenas uma semana após a liberação dos recursos do pré-custeio, o BB recebeu cerca de 500 propostas, com potencial de conceder R$ 300 milhões em empréstimos. Desse total, R$ 17 milhões foram liberados nos primeiros dias. O BB concede cerca de 61% dos financiamentos agrícolas com recursos direcionados. A meta para esta safra é que esse montante chegue a R$ 91 bilhões, um crescimento de 19,3% em relação aos R$ 76 bilhões concedidos na safra anterior. Em 2016, segundo dados do Banco Central (BC), foram concedidos R$ 127 bilhões em financiamentos para o agronegócio, dos quais R$ 106 bilhões com recursos direcionados e R$ 21 bilhões com captações de mercado.

Segundo Costa, os recursos oferecidos na linha de pré-custeio estarão disponíveis em duas modalidades. Os médios produtores, com Renda Bruta Agropecuária máxima de R$ 1,6 milhão por ano, poderão captar até R$ 1,5 milhão, com juros fixos de 8,5% ao ano. Já os grandes produtores, cujo faturamento supera essa cifra, poderão captar até R$ 3 milhões, pagando juros de 9,5% ao ano. Esses tetos de captação incluem os empréstimos financiados pelos recursos controlados do crédito rural que foram tomados nas safras anteriores e ainda não foram liquidados.

Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de agronegócio do BB:  à espera de  um recorde na concessão de financiamentos para o  pré-custeio
Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de agronegócio do BB: à espera de um recorde na concessão de financiamentos para o
pré-custeio

O ímpeto madrugador do BB não é isolado. Duas semanas após o banco estatal ter divulgado sua estratégia, o banco internacional Santander anunciou os resultados de 2016. Além de comemorar um lucro recorde de R$ 7,3 bilhões no ano passado, crescimento de 10,8% em relação a 2015, Sérgio Rial, presidente do Santander, disse que um dos pilares para continuar expandindo os resultados está no campo. Além dos recursos direcionados, o Santander captou R$ 7 bilhões em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). “O agronegócio é estratégico para nossa atividade no Brasil”, disse Rial ao anunciar os resultados do banco. Embora não possa oferecer a capilaridade do BB, o banco espanhol está ampliando sua rede de agências dedicadas ao agronegócio, instalando equipes nas principais regiões produtoras.

O entusiasmo renovado dos bancos justifica-se pelos bons prognósticos para o setor. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) divulgou, no fim de janeiro, o relatório “Outlook Fiesp 2026 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro”. Pelas estimativas da Federação, mesmo desacelerando em relação ao período 2006-2016, o crescimento da produção e das vendas de commodities agrícolas pelo Brasil deve superar as médias internacionais ao longo dos próximos dez anos. As exportações de soja deverão crescer 4,6% em volume ao ano nesse período, e as de milho devem avançar 8,8%.