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Na nuvem: as tecnologias digitais vão ganhar cada vez mais espaço na gestão do agronegócio

A produção agrícola depende, essencialmente, de competitividade de custos como estratégia central do negócio. Isso envolve contínuos ganhos de produtividade e de escala, e uma constante vigilância para manter a eficiência de custo. Em outros setores da economia, as reduções de custos e os ganhos de eficiência foram obtidos por meio da digitalização. Na agricultura, não será diferente. A digitalização deverá ser a próxima onda que possibilitará ganhos de eficiência e de escala no setor. Porém, para que isso aconteça sem incremento do risco, serão necessárias mudanças organizacionais importantes.

Nos últimos anos, o que tem ocorrido é muito investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias digitais para a agricultura, mas realizado por grandes empresas de equipamentos, insumos e tecnologia, além de um número crescente de startups. De agora para a frente, e cada vez mais, a digitalização ampla da agricultura implicará na adoção de sistemas de informação integrados a ferramentas e equipamentos inteligentes que, como conjunto, tem seu próprio monitoramento, controle e busca constante da otimização de forma autônoma. Isso trará um modelo de negócio diferente.

Guilherme Melo, analista sênior de Agronegócios no Itaú BBA
Guilherme Melo, analista sênior de Agronegócios no Itaú BBA

Como a digitalização se dá em atividades centrais da propriedade agrícola, o nível de risco para a operação se torna muito maior para o negócio. Adicionalmente, como os sistemas vêm de provedores diversos, há o risco de se criar um emaranhado de sistemas e, eventualmente, até vulneráveis ao mundo exterior. Administrar esses riscos depende de pessoal com perfil adequado e de contratos que busquem a evolução da produtividade dos fatores. Assim, há quatro frentes que devem sofrer ajustes para que a digitalização seja adotada com menor risco e maior abrangência. São elas: segurança cibernética; gestão de acordos de nível de serviços; arquitetura de integração de sistemas, conexões e de bancos de dados; e cultura e gestão dos colaboradores.

Para a segurança cibernética, é necessária uma política que tenha como um dos pilares a integridade da informação, ou seja, os dados devem ser mantidos em seu estado original para protegê-los, na guarda ou transmissão, contra alterações indevidas, intencionais ou acidentais.

Em relação à prestação de serviços por terceiros, devem ocorrer mudanças no formato dos contratos. Nesse ambiente são chamados de SLAs (sigla em iglês para Service Level Agreements). Ou seja, é preciso ajustar a cultura da empresa, o ferramental técnico e conceitual dos funcionários envolvidos para lidar com o estabelecimento e com a evolução dos acordos de serviços. Esses acordos devem organizar expectativas, qualidade de serviço, contingências e alinhamento de interesses entre as partes em busca de evolução competitiva. A terceira frente, relativa à arquitetura de sistemas, deve partir do princípio básico de que as diferentes soluções digitais a serem adotadas, sejam elas baseadas em sistemas internos ou externos à propriedade, precisarão conversar entre si.

Antonio Carlos Ortiz, diretor de Produtores Rurais no Itaú BBA
Antonio Carlos Ortiz, diretor de Produtores Rurais no Itaú BB

A quarta frente, que deve ser trabalhada, é a cultura e a gestão dos funcionários. As empresas demandarão um novo perfil de profissional, capaz de lidar com a tecnologia, com seus riscos e flexíveis às mudanças rápidas que acontecerão. Os produtores precisarão atrair, reter e desenvolver pessoal apropriado, a começar por aqueles que já trabalham na organização. Também precisarão ajustar a forma de avaliação, privilegiando o comportamento voltado à gestão do risco, ao desempenho no médio prazo, e menos calcado em atingir metas técnicas de curto prazo. As empresas rurais que conseguirem se adaptar a esse novo ambiente organizacional tenderão a se beneficiar da onda de digitalização da agricultura, que em última instância deverá ser refletida em uma combinação de aumento de rentabilidade e diminuição do risco operacional da atividade.