09/03/2017 - 17:01
A produção agrícola depende, essencialmente, de competitividade de custos como estratégia central do negócio. Isso envolve contínuos ganhos de produtividade e de escala, e uma constante vigilância para manter a eficiência de custo. Em outros setores da economia, as reduções de custos e os ganhos de eficiência foram obtidos por meio da digitalização. Na agricultura, não será diferente. A digitalização deverá ser a próxima onda que possibilitará ganhos de eficiência e de escala no setor. Porém, para que isso aconteça sem incremento do risco, serão necessárias mudanças organizacionais importantes.
Nos últimos anos, o que tem ocorrido é muito investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias digitais para a agricultura, mas realizado por grandes empresas de equipamentos, insumos e tecnologia, além de um número crescente de startups. De agora para a frente, e cada vez mais, a digitalização ampla da agricultura implicará na adoção de sistemas de informação integrados a ferramentas e equipamentos inteligentes que, como conjunto, tem seu próprio monitoramento, controle e busca constante da otimização de forma autônoma. Isso trará um modelo de negócio diferente.
Como a digitalização se dá em atividades centrais da propriedade agrícola, o nível de risco para a operação se torna muito maior para o negócio. Adicionalmente, como os sistemas vêm de provedores diversos, há o risco de se criar um emaranhado de sistemas e, eventualmente, até vulneráveis ao mundo exterior. Administrar esses riscos depende de pessoal com perfil adequado e de contratos que busquem a evolução da produtividade dos fatores. Assim, há quatro frentes que devem sofrer ajustes para que a digitalização seja adotada com menor risco e maior abrangência. São elas: segurança cibernética; gestão de acordos de nível de serviços; arquitetura de integração de sistemas, conexões e de bancos de dados; e cultura e gestão dos colaboradores.
Para a segurança cibernética, é necessária uma política que tenha como um dos pilares a integridade da informação, ou seja, os dados devem ser mantidos em seu estado original para protegê-los, na guarda ou transmissão, contra alterações indevidas, intencionais ou acidentais.
Em relação à prestação de serviços por terceiros, devem ocorrer mudanças no formato dos contratos. Nesse ambiente são chamados de SLAs (sigla em iglês para Service Level Agreements). Ou seja, é preciso ajustar a cultura da empresa, o ferramental técnico e conceitual dos funcionários envolvidos para lidar com o estabelecimento e com a evolução dos acordos de serviços. Esses acordos devem organizar expectativas, qualidade de serviço, contingências e alinhamento de interesses entre as partes em busca de evolução competitiva. A terceira frente, relativa à arquitetura de sistemas, deve partir do princípio básico de que as diferentes soluções digitais a serem adotadas, sejam elas baseadas em sistemas internos ou externos à propriedade, precisarão conversar entre si.
A quarta frente, que deve ser trabalhada, é a cultura e a gestão dos funcionários. As empresas demandarão um novo perfil de profissional, capaz de lidar com a tecnologia, com seus riscos e flexíveis às mudanças rápidas que acontecerão. Os produtores precisarão atrair, reter e desenvolver pessoal apropriado, a começar por aqueles que já trabalham na organização. Também precisarão ajustar a forma de avaliação, privilegiando o comportamento voltado à gestão do risco, ao desempenho no médio prazo, e menos calcado em atingir metas técnicas de curto prazo. As empresas rurais que conseguirem se adaptar a esse novo ambiente organizacional tenderão a se beneficiar da onda de digitalização da agricultura, que em última instância deverá ser refletida em uma combinação de aumento de rentabilidade e diminuição do risco operacional da atividade.