09/04/2021 - 13:20
Com os resultados da fase 3 dos estudos clínicos da Coronavac no Chile, pesquisadores da PUC do país divulgaram dados sobre a resposta imunológica dos pacientes, ou seja, o tipo e a quantidade de anticorpos produzidos pelo organismo para combater o coronavírus. Os dados, divulgados semana passada, ganharam relevância no Brasil diante das variantes como a P.1 (de Manaus). Especialistas, porém, têm diferentes interpretações sobre os dados.
Publicado como preprint (versão ainda não revista por outros cientistas), trata-se de estudo pequeno com 434 participantes vacinados no intervalo de duas semanas (0-14) entre novembro de 2020 e janeiro de 2021. A análise sobre a resposta imunológica foi feita em 190 voluntários. Os cientistas chilenos analisaram a presença de anticorpos neutralizantes, capazes de bloquear a entrada do vírus na célula humana. A Coronavac induz produção de anticorpos menor do que outras vacinas, como Pfizer e Moderna.
Nesse aspecto, o estudo apenas confirma dados que já haviam sido reportados pelos estudos chineses de fases 1 e 2. “A Coronavac é capaz de gerar estes anticorpos tanto em jovens como em pessoas mais velhas, mas a quantidade gerada é muito baixa, pois eles deixam de ser detectados se o soro foi diluído mais do que 16 vezes”, explica o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estadão.
Os anticorpos não são medidos em quantidade, mas sim conforme a capacidade de proteção em caso de diluição. Como comparação, outras vacinas em uso conseguem neutralizar o vírus mesmo quando são diluídas 300 vezes. Quando uma vacina produz muitos anticorpos, diz Reinach, há maior chance de ser resistente a variantes. “Mais espaço para perder eficácia e, mesmo assim, funcionar”.
Alguns especialistas têm interpretação diferente. É o caso de Daniel Y. Bargieri, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, e Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora em bioquímica do Instituto de Ciências Básicas de Saúde da UFRGS. “É normal e esperado que vacinas baseadas em vírus inativados, como a Coronavac, estimulem quantidades menores de anticorpos do que vacinas que não usam o vírus inteiro. São estratégias diferentes”, diz trecho de artigo dos dois cientistas.
Imunizantes de mRNA ou RNA mensageiro, como a da Pfizer, são criados a partir da replicação de sequências de RNA (primo do DNA) por meio de engenharia genética. O RNA mensageiro mimetiza a proteína spike, específica do vírus Sars-CoV-2, que o auxilia a invadir as células humanas. Essa “cópia”, porém, não é nociva como o vírus, mas suficiente para desencadear reação do sistema imunológico, que cria a defesa. A Coronavac é feita com o vírus inativado: ele é cultivado e multiplicado numa cultura de células e depois inativado por meio de calor ou produto químico.
Bargieri afirma que, apesar de estimular níveis mais baixos de anticorpos, a Coronavac busca gerar resposta imunológica para outras proteínas do vírus, incluindo a indução de células do sistema imunológico (linfócitos). Segundo ele, essa característica não havia sido detectada pelos estudos chineses e pode ser apontada como a grande novidade do estudo chileno.
“Esse dado é uma ótima notícia, pois indica que a vacina é capaz de treinar o sistema imunológico para agir contra todas as partes do vírus, não apenas contra a proteína S, com a presença dos linfócitos para compor o arsenal da resposta contra a infecção viral. Provavelmente a Coronavac é menos suscetível às mutações que o vírus faz na proteína S”, diz o pesquisador.
O Butantan afirmou que vai entregar os dados completos sobre imunogenicidade – capacidade de geração de respostas imunes aos vacinados – para a Anvisa no dia 30 de abril. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.