O presidente Jair Bolsonaro soltou uma gargalhada ao ouvir de um apoiador, nesta segunda-feira, 12, que o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado relator do pedido de impeachment contra o também ministro da Corte Alexandre de Moraes.

“Caiu para o Kassio Nunes?”, respondeu Bolsonaro, antes de rir alto e reclamar de outra decisão do STF. “Eu não interfiro em lugar nenhum. Foi clara a decisão de um ministro do STF para abrir impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, e não contra quem possivelmente desviou recurso”, disse ele, numa referência ao ministro Luís Roberto Barroso, que deu ordem ao Senado para abrir a CPI da Covid. Bolsonaro quer incluir prefeitos e governadores na investigação.

Nunes Marques foi o primeiro magistrado indicado pelo presidente para ocupar uma cadeira no STF. Nos primeiros seis meses no cargo, o ministro tomou decisões que agradaram a bolsonaristas e provocaram mal-estar entre outros integrantes do Tribunal.

Ao conversar com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada nesta segunda, Bolsonaro também negou ter feito jogo de cena ao falar com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) pelo telefone, na noite de sábado. O diálogo foi gravado e divulgado pelo senador no dia seguinte. O presidente se mostrou surpreso e incomodado com a publicação do diálogo.

“Com que interesse eu ia aceitar uma gravação de um cara desses?”, perguntou Bolsonaro, que não usava máscara de proteção. “Foi ele que ligou para mim. Em nenhum momento ele falou ‘tô gravando aqui’. Fiquei surpreendido. Acho que no dia seguinte ele ligou de novo para mim. Disse que estava fazendo uns cortes. Eu fiquei na minha.”

Bolsonaro indicou que quer ver Kajuru processado pelo Conselho de Ética do Senado. Filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) moveu uma representação contra o parlamentar. “Tem um Conselho de Ética para ele no Senado”, disse Bolsonaro, desta vez com semblante fechado. O eleitor afirmou, então, que está sendo construída “uma narrativa” segundo a qual o presidente sabia do áudio e autorizou sua publicação.

A polêmica levou o Cidadania, partido de Kajuru, a pedir a desfiliação do senador. Do contrário, Kajuru enfrentará processo de expulsão da legenda. O senador disse que pretende se filiar ao Podemos.

Férias

Na entrada do Alvorada, o presidente também fez ironia com os mais de R$ 2,3 milhões que gastou com viagens de férias. Bolsonaro tocou no assunto ao ser convidado por um apoiador para uma cerimônia de casamento, em julho. Disse que, por razões de segurança, seus deslocamentos demandam uma equipe grande. Observou, porém, que não pode “ficar trancado” em casa.

“Qualquer saída… a despesa grande, mas eu vou assim mesmo.’ (Dizem) Ah, gastou R$ 2 milhões nas férias’. Vai ter mais férias. Vai ser gasto, fique tranquilo”, ironizou.

O valor citado por Bolsonaro corresponde aos gastos no recesso do período de 18 de dezembro de 2020 a 5 de janeiro. O montante veio à tona em requerimento de informação do deputado federal Elias Vaz (PSB-GO).

Mais tarde, nas redes sociais, o presidente voltou a criticar Kajuru e disse que ele contou “mais uma mentira” à CNN. Em entrevista à emissora de TV, o senador disse que, no ano passado, Bolsonaro se recusou a receber o presidente da Pfizer para negociar a compra de vacinas contra covid-19 e deixou o executivo esperando por dez horas para uma agenda.