25/04/2017 - 12:22
Na época das vacas gordas da economia brasileira, falava-se em apagão de talentos na gestão das companhias. Hoje, apesar de um mercado em recessão, esse apagão continua existindo, inclusive no agronegócio, só que em uma conjuntura mais complexa, mais demandada e muito mais rápida. As exigências aumentaram na esteira da gana por resultados. As empresas querem “o cara” ou “a cara” que apresente um extenso cardápio de habilidades comportamentais e de conhecimentos específicos. No fundo, o alinhamento cultural acaba sendo a cola da longevidade e da sustentabilidade do trabalho. Se não houver essa liga de valores da empresa com os valores do executivo, o índice de acerto é baixo.
Algumas companhias já possuem maturidade organizacional no que concerne à gestão de talentos. Outras iniciam esse processo com vigor. Já as empresas familiares desenvolvem um movimento forte de profissionalização, pois acabam atingindo um porte que exige cérebros e atitudes que contribuam com os planos ambiciosos de seus empreendedores visionários. Esse cenário traz enormes oportunidades, mas demanda competências diferentes das encontradas nas tradicionais companhias multinacionais. É um quadro de escassez de talentos ainda maior. A capacidade de lidar com acionistas e suas idiossincrasias é uma constante, bem como a de ajudar no desenvolvimento de governanças. Esses são aspectos vitais para o sucesso.
Sim, o campo é fértil, sobretudo para o chamado “executivo de mala pronta”, que tenha disposição para se realocar em outras áreas do Brasil, isto é, Centro-Oeste, interior de São Paulo e no Matopiba. O agronegócio requer esse arrojo, também encontrado em profissionais de setores coligados, como mineração, papel e celulose e petróleo e gás. São carreiras nas quais as atividades se realizam nos interiores do país. Quem for urbano demais poderá sofrer frustrações ao se manter nas tradicionais metrópoles. Os profissionais que ganham notoriedade nesse processo são oriundos das áreas de gestão, como CEOs, diretores comerciais, de marketing, de produção e, principalmente, CFOs e controllers. Sem deixar de ter relevância operações como supply chain. Períodos de crise exigem executivos que gerenciem o fluxo de caixa, partindo de orçamentos mais modestos e de olho na gestão de riscos.
A área de insumos agrícolas é tradicional e está sempre atenta aos talentos do mercado. Este ano não será diferente. A área de sementes também está em pleno crescimento, nos apresentando uma super safra em 2017. O Brasil é um destino vital para empresas agrícolas, especificamente das áreas de grãos, açúcar e bioenergia. Outro subsetor que inicia 2017 com vigor é o da agricultura de precisão. Muitas startups exigem executivos com perfil empreendedor e dispostos a apostar na maturidade futura do negócio. As private equities têm aproveitado o momento para ajudar na consolidação dos setores de adubos foliares e distribuição de insumos, que são a bola da vez.
O mercado é altamente competitivo. Não por acaso, alguns profissionais de grande competência acabaram perdendo seus empregos e terão que se reinventar. Faz parte do processo de disruptura do crescimento para o modelo “reduzir custos”. Mas, apesar desses enormes desafios sócio-econômicos, o Brasil tem um mercado interno enorme. O País é um berço fundamental da produção de alimentos e um grande jogador em prol da segurança alimentar. O Brasil conta com um enorme diferencial competitivo e o mundo inteiro sabe disso. Nesse time, é um titular cativo. A demanda pelo profissional “transgênico”, aquele que molda suas qualidades à longa lista de competências exigidas pelas empresas, pode parecer um chavão do passado, mas se apresenta cada vez mais forte nos dias atuais. O caminho é promissor. Navegar é preciso para estar pronto para a retomada que virá.