15/04/2021 - 17:43
Os juros futuros fecharam em queda nesta quinta-feira, amparados pelo apetite ao risco vindo dos mercados internacionais, que novamente favoreceu o real, e dado o tombo no rendimento da T-Note de dez anos abaixo de 1,55% e rodando nos menores níveis em mais de um mês. Não por acaso, o Tesouro soube aproveitar a melhora de humor para elevar a oferta de prefixados, incluindo os de longo prazo, vendida integralmente. Ainda assim, o movimento é visto como insustentável, uma vez desconectado da difícil realidade das contas públicas, sobretudo com o calendário avançando rumo ao dia 22, deadline para a sanção do problemático Orçamento de 2021.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 4,695%, de 4,747% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 8,306% para 8,17%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,84%, de 8,955%.
“Temos um fluxo bom de estrangeiros, com a montanha de dinheiro que existe hoje nas economias centrais, o que transmite uma certa tranquilidade para o pré”, disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno. “Hoje foi nítida a demanda ‘gringa’ nas NTN-F”, completou.
As taxas já caíam pela manhã, mas as mínimas foram atingidas no começo da tarde, coincidindo com mais uma “pernada” do rendimento dos Treasuries, quando o yield da T-Note furou 1,55%, e também passado o leilão do Tesouro. A instituição elevou o lote de LTN de 14 milhões na semana passada para 21 milhões e dobrou a oferta, de 100 mil para 200 mil, de NTN-F, papel preferido do investidor não residente. “O Tesouro percebeu que tem demanda e tem pilotado bem, colocando o que o mercado quer comprar, mesmo que a maioria seja a LTN curta”, avalia Nepomuceno.
Perto do fechamento da sessão regular, o retorno da T-Note de dez anos caiu mais, para 1,53%. O recuo das taxas americanas, que embalou a curva por aqui, surpreende num dia de indicadores robustos da economia dos EUA, que há até pouco tempo vinham pressionando os juros longos pelo temor de inflação.
Internamente, não há nada que sustente otimismo com a curva de juros. “É surpreendente essa postura do mercado hoje diante do que está acontecendo em Brasília”, disse Nepomuceno. A demora em se encontrar uma saída para o Orçamento é um sinal claro de dificuldade na construção do consenso entre a equipe econômica e líderes no Congresso. “Se as emendas ficarem, furam o teto. Se saírem, Bolsonaro perde o apoio”, completou.
Para José Júlio Senna, pesquisador do Ibre/FGV, a situação fiscal é crítica a ponto de merecer até mesmo orações. Tudo para que a inflação não saia totalmente do controle e agrave ainda mais o quadro. “É uma encrenca colossal. Se, em cima de tudo isso, a gente passar a ter também o problema da inflação, vai ficar muito mais feio ainda. Então, a gente tem que torcer, se bobear dar também uma ‘rezadinha’ para ver se o fiscal entra nos eixos”, afirmou o economista ao participar de live do jornal O Estado de S. Paulo e do Ibre/FGV sobre política monetária.