30/05/2017 - 18:15
AIBM, chamada de Big Blue (Grande Azul, em inglês, por causa da cor de seu icônico logotipo), está de olho no agronegócio brasileiro. E não é para menos. A gigante americana, entre as dez maiores empresas não financeiras do mundo, com uma receita de US$ 80 bilhões em 2016, não quer ficar à margem de um dos setores da economia brasileira que tem registrado crescimento contínuo nos últimos anos. Não por acaso, enquanto o País andou para trás no ano passado, o Produto Interno Bruto do setor cresceu 4,5%, com receita de R$ 1,48 trilhão. Imersa em áreas como o mercado mobile, internet das coisas, tecnologia da informação, inteligência artificial, computação em nuvem e saúde, a IBM está ampliando a sua área de pesquisa no País para apostar ainda mais na agricultura de precisão. O primeiro passo ela deu, em março, ao transferir o seu laboratório de pesquisa de São Paulo para o Rio de Janeiro. “Muitos países precisam de informações sobre o que é feito e testado em solo brasileiro” diz Ulisses Mello, diretor do laboratório IBM Brasil. “Esperamos transformar a economia brasileira e exportar conhecimento.”
Com as ferramentas e o conhecimento de que dispõe, a IBM quer incrementar uma área na qual já elegeu o Brasil como porta voz em 2011: a nanotecnologia, a ciência das micropartículas na agricultura de precisão. Presente em cerca de 150 países, o Brasil foi o primeiro a contar com investimento direto nesse setor, embora a companhia não divulgue o aporte na operação. A estratégia mundial da IBM, e que a diferencia de seus grandes rivais, o Google e a Microsoft, é a especialização por segmentos. Além da nanotecnologia, ela dividiu suas áreas em saúde, finanças, telecomunicações, entre outras. São três mil cientistas em outros 12 laboratórios, além do brasileiro, espalhados pelo mundo, que recebem US$ 6 bilhões por ano para investir em pesquisa.
No caso da nanotecnologia, a IBM está interessada em um mercado gigantesco. Uma pesquisa global apresentada no final do ano passado pela inglesa Research and Markets, prevê um crescimento anual da ordem de 18% entre 2016 e 2025, quando o movimento pode chegar a
US$ 173,9 bilhões.
No Brasil, um dos projetos em desenvolvimento pela equipe de físicos e engenheiros da IBM, transferido para o Rio de Janeiro, é um teste químico chamado de Micropad. Com ele, ao se coletar uma gota d’água e pingar em um pedaço de papel que contém um QR Code, a partir de um aplicativo de smartphone, é possível medir o nível de fertilizante contido na água. Por exemplo, saber se na amostra há um desbalanceamento entre fósforo, nitrogênio e potássio, e os resultados são enviados para a nuvem. “Podemos verificar se os macronutrientes são suficientes para um determinado tipo de solo, ou se há um desequilíbrio entre os componentes”, afirma Ademir Silva, um dos físicos da IBM. A solução servirá para que o produtor possa tomar uma decisão rápida para sanar um problema de raízes em uma plantação, evitando a paralisação do desenvolvimento de uma lavoura, até que testes mais elaborados sejam feitos em laboratórios. Em alguns casos, a quilômetros de distância.
Segundo Mathias Steiner, gerente de Ciência e Tecnologia para Soluções Industriais do Laboratório de Pesquisa da IBM Brasil, uma das metas com o novo espaço na cidade carioca é eliminar ao máximo as falhas dos protótipos, antes de levá-los ao mercado. “Para o Micropad, significa termos certeza sobre os testes em laboratório”, afirma Steiner. “Nós precisamos saber se tudo está correto ou não.” No longo prazo, o executivo diz que a iniciativa com a nanotecnologia na agricultura pode ser conectada a outras áreas nas quais a empresa possui conhecimento, como saúde. “Há potencial para expansão em outras direções”, afirma. “Agora, precisamos entender o que estamos fazendo neste projeto.”
IBM no mundo
O que é o setor de pesquisa da empresa de tecnologia
12 laboratórios
3 mil cientistas
US$ 6 bilhões anuais investidos em pesquisa
US$ 80 bilhões é a receita global da empresa
Pesquisa em casa
O que Embrapa busca na área da nanotecnologia
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) não está fora da busca por aplicações de tecnologias que utilizam a técnica das micropartículas. Em 2006, foi criada a Rede de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio (Rede AgroNano), da qual participam cerca de 150 pesquisadores de áreas como física, química, bioquímica, biologia, agronomia, zootecnia e engenharias. A rede mantém parcerias com 53 universidades e instituições, entre elas o Senai, por exemplo. “Desenvolvemos atividades de avaliação da capacidade de aumento de escala de produção de nanoprodutos, estudos prospectivos em áreas como nanoemulsões e produção de energias limpas”, diz Caue Ribeiro de Oliveira, coordenador da Rede AgroNano.
Na unidade da Embrapa em São Carlos (SP), especializada na aplicação e desenvolvimento de nanotecnologia no campo, são 19 projetos em elaboração. Desse grupo, quatro estão em fase mais avançada: o desenvolvimento de sensores e biosensores para identificação e qualidade de produtos, como o leite, café, suco e água; filmes comestíveis e embalagens resistentes para alimentos; os bionanocompósitos, materiais com polímeros de origem natural, como biodegradáveis obtidos a partir de fermentação de fungos; e uso de materiais sintéticos para a agricultura, em sistemas para a liberação controlada de fertilizantes, defensivos e medicamentos.
A Embrapa tem adotado a estratégia de iniciar um projeto e procurar por companhias para levar a ideia adiante. Ou mesmo receber a demanda de empresas. “No passado, o erro mais comum era criar novos produtos sem entender as demandas privadas”, diz ele. Agora não, embora possa haver exceções em projetos de relevância. Por exemplo, um nanomedicamento para mastite, doença que afeta vacas leiteiras. “Todo o processo foi feito na Embrapa, à medida que a gente não encontrava um parceiro.”