10/08/2017 - 8:00
O Plano Safra 2017/18 desapontou. O governo colocou à disposição dos médios e grandes produtores rurais, a partir deste mês, R$ 190,25 bilhões em crédito. O volume é ligeiramente superior ao ofertado no ciclo anterior, que foi de R$ 183,8 bilhões, embora muito aquém do necessário. O montante para custeio e comercialização será de R$ 150,2 bilhões, sendo R$ 116,2 bilhões com juros controlados pelo governo e R$ 34 bilhões com livre negociação de juros entre as instituições financeiras e os produtores. Nessas duas categorias, para o custeio, os juros caíram de 8,5% ao ano e 9,5% ao ano, para 7,5% e 8,5%, respectivamente. Esse recuo é menor daquele que o vem ocorrendo na Selic, com as taxas reais ficando elevadas. O mesmo aconteceu para os programas de investimento, à exceção do PCA e do Inovagro, nos quais a taxa foi fixada em 6,5% ao ano.
Além disso, em uma análise mais detalhada, observa-se que as categorias de investimento e comercialização ficaram praticamente de fora do pacote de juros controlados, sendo direcionadas para captação por meio, por exemplo, do BNDES e via operações de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). São opções nem sempre acessíveis à maioria dos produtores, além de serem mais burocráticas e, obviamente, caras. Outro retrocesso é o fato do governo ter diminuído o limite de financiamento para as cooperativas e as agroindústrias.
A verdade é que se trata de um plano excludente, que não corresponde à expressiva contribuição que o agronegócio vem dando para o equilíbrio da economia. A produção nacional estimada, tanto pela Conab quanto pelo IBGE, deverá superar 230 milhões de toneladas de grãos e fibras. É um novo recorde que mostra a força da agricultura brasileira, mesmo em um intervalo de tempo dos mais conturbados da história política e econômica do País. O produtor rural, diante de um cenário dos mais adversos, mais uma vez responde de maneira positiva, obtendo, ainda, ganhos de produtividade em torno de 21%. Soma-se a isso o fato de que se não fosse a agropecuária, o PIB do primeiro trimestre do País teria sido negativo. Sem contar que são as exportações dos produtos agrícolas que há tempos asseguram o resultado positivo da balança comercial.
Isso é tão importante quanto é a constatação de que o crescimento do agronegócio vem trazendo prosperidade a diversas regiões do País, mostrando que investir na atividade rural pode ser uma alternativa de desenvolvimento socioeconômico mais interessante do que direcionar olhos – e recursos – às já saturadas metrópoles. Não por acaso, cidades pequenas e médias, com o agronegócio como a atividade econômica principal, têm apresentado altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Além disso, o agronegócio vem tendo efeito multiplicador ao gerar externalidades positivas para a indústria, o comércio e o segmento de serviços. É o que mostra, por exemplo, o estudo “Ilhas de Oportunidade: Como Navegar no Mercado Consumidor Brasileiro Durante a Crise?”, elaborado pela Cielo e o The Boston Consulting Group (BCG). O levantamento destaca que as cidades situadas nas regiões agropecuárias apresentaram um crescimento, em termos reais, de 1,3% no desempenho do varejo em 2015 contra a queda de também 1,3% na média nacional.
Nos dias atuais, é inegável que, diante das reformas em curso, como o limite do teto do gasto público, chegou a hora de o setor rural buscar novas formas de financiamento via mercado, já que os recursos oficiais a juros subsidiados serão cada vez mais escassos. O atual Plano Safra sinaliza este rumo. Mas não deixa de ser paradoxal que a competência do agricultor moderno, que faz cada vez mais e melhor, com menos, seja premiada às avessas com um Plano Safra que desprestigia de modo exacerbado o único setor que vem operando no azul. Assim, resta ao produtor rural, mais do que nunca, acreditar que é hora de uma gestão firme dos custos, com foco na manutenção e, se possível, a incorporação de tecnologias, inovação de processos e mente aberta para novas formas de captação de recursos e de comercialização.