01/11/2011 - 0:00
É durante o mês de novembro que Golegã, uma pequena vila portuguesa localizada na região turística do Ribatejo, distante 130 quilômetros de Lisboa, fica em polvorosa. Durante dez dias, o tranquilo e pacato vilarejo ganha vida nova ao receber um tráfego incomum de turistas de todo o mundo. Tudo por um simples motivo: neste mês ocorre a Feira de São Martinho, também conhecida como a Feira Nacional do Cavalo de Golegã. O evento, que remonta ao século 18, reúne criadores de vários países, diversas raças equinas e muitas competições. “O cavalo é o centro de tudo”, diz José Veiga Maltez, presidente da Câmara Municipal de Golegã, organizadora do evento. “Ele é nosso rei e senhor.”
Dobradinha: as provas de salto testam as habilidades do cavaleiro e sua montaria
Durante as provas, pontes sobre rios e vales, além das porteiras das fazendas, são transformadas em obstáculos para testar a habilidade do cavaleiro e sua montaria.Há provas de potros recém-domados, competições de salto, adestramento, atrelagem, enduro, equitação à portuguesa e de trabalho, e horse ball – uma espécie de jogo de basquete a cavalo –, além da apresentação de animais de sela à mão e montados, do cortejo religioso dos romeiros de São Martinho e dos leilões para a venda de animais. Entre os momentos mais bonitos do espetáculo está o carrossel, quando um grupo de dez cavaleiros se apresenta em evoluções de conjunto, promovendo um genuíno balé equestre. Outro momento especial é a equitação barroca, uma modalidade de adestramento com transposições rápidas e enérgicas de passo, de trote e a galope os chamados “ares altos”. A Feira de Golegã, que neste ano acontecerá entre os dias 4 e 13 de novembro, é um imenso palco para a apresentação das tradicionais escolas europeias, como a Portuguesa de Arte Equestre, em que os cavaleiros se mostram com vestuário e indumentárias de época e seus cavalos, com arreios e selas dos tempos da monarquia. Fundada em 1979, a escola busca resgatar a academia equestre da corte portuguesa do século 19.
ARTE EQUESTRE: nas apresentações das tradicionais escolas europeias, como a Portuguesa, os cavaleiros se mostram com vestuário dos tempos da monarquia
Todos os anos, quando a época da feira se aproxima, as quintas e coudelarias – estabelecimentos para adestramento de animais de corrida – intensificam o ritmo de trabalho e uma das mais imponentes criações do País, o milenar cavalo puro-sangue lusitano, recebe todas as atenções. “É o momento da nossa raça. A feira de Golegã é uma tradição imperdível para os criadores de cavalos”, afirma Maltez, que além de ser um dos organizadores do evento é dono da coudelaria João e José Veiga Maltez, propriedade que pertence à família desde 1868. Ela está entre as mais antigas criações de cavalo lusitano no mundo e se transformou na mais tradicional participante da Feira de Golegã.
Desfile: o cavalo lusitano é presença marcante entre todas as raças que participam da feira
Assim como a famosa feira, o próprio vilarejo é uma atração à parte. A vila nasceu a partir da iniciativa de uma senhora que morava em Galiza, região litorânea do país. Ela viu que não muito longe da cidade de Santarém – que por volta do ano 1100 já era um ponto importante de tráfego de mercadorias no país – havia uma oportunidade de negócio. Foi assim que, durante o reinado de don Sancho I, entre os anos de 1154 e 1211, a estalagem que deu início à vila de Golegã foi construída. Ela ficava num ponto estratégico, em uma das chamadas Estradas Reais do país que ligava Lisboa à cidade do Porto e ao norte de Portugal. A estalagem servia como ponto de parada das tropas para descanso da longa jornada e cavalos. Elevada a vila em 1534, Golegã começou a conquistar popularidade também por causa da feira de cavalos que promovia desde meados do século 16. Nessa época, os reis a batizaram com o nome oficial de Feira de São Martinho. Foi somente em 1972 que ela ganhou o nome fantasia de Feira de Golegã e o cavalo lusitano se tornou seu símbolo oficial. Foi também na década de 1970 que nasceu a Feira Nacional do Cavalo (FNC), e desde então o leque de atrações se ampliou. Hoje, o evento é considerado um dos mais importantes de Portugal.
Além das competições, quem vai à Feira de Golegã pode apreciar nessa época de outono europeu as plantações de oliveiras e os vinhedos que cobrem as terras às margens do rio Tejo, conhecidas pela ótima produção de azeite e de vinho. Até o largo do Marquês de Pombal, chamado pelos moradores locais de largo do Arneiro, no centro do vilarejo de Golegã, ganha ares diferentes com as antigas canções portuguesas e as danças típicas que invadem a madrugada. Entretanto, o trotar dos animais é o som que mais se ouve durante as noites de festa, uma espécie de homenagem contínua de uma cultura devotada ao cavalo lusitano.
Serviço:
www.cm-golega.pt/golega