10/09/2017 - 8:00
Nos últimos anos, tem se tornado vital permanecer atento à importância de como sobreviver em tempos hostis, recorrendo à reflexão de que “bom marujo se conhece na tempestade”. As tempestades econômicas e políticas, que teimam em não cessar, atormentam o progresso de qualquer empresa no Brasil. Como a crise ainda ronda o dia a dia, as competências necessárias para vencer as barreiras são comuns a todos os setores, inclusive no agronegócio. O que muda, do meio urbano para o rural, é a distância física e também a disponibilidade dos executivos em migrar para o agronegócio, mesmo com a certeza de que nesse setor eles teriam a oportunidade de assumir posições chaves em tempos de crise. Muitos profissionais ainda têm resistência em fazer as malas e rumar para regiões nas quais o crescimento ainda está de porteira aberta, como o Centro-Oeste, núcleo da produção agrícola. As razões desse comportamento são diversas, seja a rejeição do cônjuge, a escola dos filhos, a segurança médica, entre outros motivos. Para quem aceita o desafio, liderar na crise pode se tornar uma arte. Para os que já atuam no setor, é lógico pensar que pela resiliência que vão adquirindo ao longo da carreira esses executivos apresentem em seu DNA competências essenciais para enfrentar crises mais severas. No segundo caso, infelizmente nem sempre é assim. Parte deles acaba desistindo, sendo contratados para atuar em outros ambientes de negócios, ou seja, talentos desperdiçados no setor.
Contrariamente do que ocorre nas grandes capitais, gerenciar o agronegócio requer pessoas alocadas em regiões, às vezes, com comunicação escassa do ponto de vista físico. Não há a rotina de dar um passo de uma baia à outra no escritório. Muitas vezes, o líder de uma equipe está a mais de mil quilômetros, ou em uma viagem de longo prazo. E mais: em momentos de austeridade financeira e operacional, nos quais os recursos diminuem drasticamente, a pressão por resultados aumenta na enésima potência. O senso de urgência é intenso e o embate do dia a dia é mais agudo. O ambiente de convivência converge para a sobrevivência e a exigência por liquidez. A consequência disso impacta a vida das pessoas em todos os sentidos. O embate de ideias contrapostas para ‘fazer acontecer’ e solucionar problemas aumenta muito, semelhante a quando um time de futebol toma um gol no segundo tempo e precisa virar o placar para se classificar.
É imperativo o uso da criatividade para encontrar novas soluções e quebrar paradigmas já consolidados na organização e nos hábitos e costumes das pessoas. Também é necessário que comportamentos, gastos e investimentos tenham que mudar, e todas essas circunstâncias tiram as pessoas da zona de conforto de forma abrupta. É fundamental que os times se adaptem à nova realidade, pois se não fizerem a empresa corre o risco de afundar. Nesse ambiente, muitos profissionais acabam ‘espanando’ por conta do perfil que possuem, não suportando o ambiente tenso e a carga de trabalho alta. Esses pedem para sair. Outros acabam explodindo ou se estressam em demasia, deixando o clima organizacional fica mais volátil.
Como toda a atmosfera corporativa muda, as competências exigidas também mudam com o tempo. Para citar algumas: proatividade, senso de urgência, resiliência para lidar com a incerteza e condições adversas, mão na massa e a capacidade para mobilizar as equipes. Por isso, o engajamento é crítico para o sucesso. Nesse cenário, o líder é fundamental para orquestrar a travessia sem afundar ou virar o barco. É necessário que se escolha com cuidado e critério as pessoas que irão compor o time de transição. Muita calma, serenidade, maturidade e mobilização são elementos capazes de virar o placar nos acréscimos. A comunicação da direção da empresa deverá ser constante, clara e assertiva nesses movimentos. Afinal de contas, como está no dito popular, sempre depois da tempestade vem a bonança.