15/02/2018 - 13:42
Açúcar e biocombustíveis
Índices elevados de endividamento, suspensão dos investimentos em novos projetos, quebras consecutivas de safra nos canaviais por todo o País e um número crescente de pedidos de falência de usinas de cana-de-açúcar. Esses e tantos outros fatores traduzem o clima extremamente desfavorável vivido pelo setor sucroenergético brasileiro desde 2008. Na origem dessa dura realidade, a decisão do governo federal de priorizar o controle dos preços da gasolina, o que passou a limitar a valorização do etanol, fragilizando os representantes dessa indústria. Depois de um longo período sob o impacto dessas adversidades, a safra 2016/2017 trouxe um alento a essas empresas. Segundo dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), entidade que representa mais de 90% da moagem no mercado brasileiro, a temporada registrou uma moagem de 607,1 milhões de toneladas, contra 617,7 milhões de toneladas do ciclo anterior. Apesar da queda de 1,71%, o faturamento no período foi de R$ 100 bilhões, um crescimento de 25% na mesma base de comparação.
O salto nos valores movimentados pelo setor foi puxado por um fator, em particular. “O que proporcionou esse resultado na safra foi a alta do açúcar no mercado internacional”, afirma Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. Convertido em reais, o preço do açúcar no mercado internacional subiu 52% em relação a 2015. “A safra permitiu uma recuperação para muitas empresas, que conseguiram reduzir o seu nível de endividamento”, diz.
Dono de 81,8 mil hectares de lavouras de cana, o Grupo Vale do Verdão foi uma das empresas que souberam aproveitar esse cenário mais positivo. Com sede e três uninas no município de Ortolândia, no interior de São Paulo, a companhia é a vencedora da categoria Açúcar e Biocombustíveis no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017. O Vale do Verdão registrou uma receita líquida de R$ 465 milhões, em 2016. O montante representou um crescimento de 48,9% sobre o faturamento de R$ 312 milhões reportados um ano antes. O bom desempenho no período, no entanto, não está restrito apenas ao impulso da alta do açúcar. “Temos trabalhado na melhora da gestão e na redução de custos”, afirma Sergino Ribeiro de Mendonça Neto, presidente do grupo.
O executivo destaca algumas iniciativas nessa frente. Na área industrial, por exemplo, a companhia está investindo em um projeto de cogeração de energia elétrica em uma de suas três unidades. Já na área agrícola, um dos focos é aprimorar a logística para a entrega da cana-de-açúcar, bem como o investimento em plantio de canaviais para manter o crescimento orgânico da operação. No modelo adotado pelo Vale do Verdão, boa parte da cana processada é própria, assim como as terras nas quais elas são cultivadas. “Essa abordagem é um dos principais diferenciais da empresa”, diz Rodrigues, da Unica. “O cultivo e o arrendamento de terras são os principais itens de custo do setor.”
Além dessas estratégias, Mendonça Neto ressalta que a companhia está dando mais peso ao etanol em seu mix, em detrimento do açúcar, cujo ciclo de alta nos preços se encerrou na safra atual. “Houve uma melhora na remuneração do etanol”, diz o executivo. Uma combinação de fatores está por trás das perspectivas mais positivas para o produto. Entre eles, o aumento do preço do barril de petróleo e nas taxas de câmbio, a redução do volume de exportações do biocombustível para os Estados Unidos e a nova política de preços da Petrobras para a gasolina e o diesel.
No entanto, o presidente do Grupo Vale do Verdão aponta um aspecto como crucial para consolidar a retomada do setor e o início de um ciclo mais favorável e perene: a criação do RenovaBio, programa que tem como missão incentivar a produção e o uso de biocombustíveis. A iniciativa é tema de um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados, de autoria do parlamentar Evandro Gussi (PV-SP). “O RenovaBio é o futuro do setor sucroenergético brasileiro”, afirma Mendonça Neto. Ele observa que a proposta traz previsibilidade para que o setor possa traçar planos de longo prazo. “O programa dará maior competitividade à nossa energia limpa e renovável em relação aos combustíveis fosseis, trazendo assim rentabilidade ao negócio para que se possa pensar em novos investimentos.