01/10/2007 - 0:00
O aumento dos preços internacionais das commodities e a expectativa de uma safra recorde de grãos está levando os bancos privados a rever para cima a oferta de crédito rural. Um dos motivos é o aumento dos depósitos à vista, que servem de lastro para esses financiamentos. A Nossa Caixa, por exemplo, concedeu R$ 325 milhões em crédito rural na safra 2006/2007 e está disponibilizando R$ 650 milhões na safra que se iniciou agora. A demanda por custeio também cresceu. Neste primeiro semestre, a procura por crédito rural no Bradesco teve um aumento de 50%. E o banco, que operou R$ 3,2 bilhões na safra 2006/2007, irá liberar R$ 3,35 bilhões só para o início desta safra, ou seja, período de julho a dezembro de 2007. O Santander ainda não divulgou qual será a verba para a safra 2006/2007, mas está com novidades na modalidade de Cédulas de Produto Rural (CPR). A instituição reduziu a taxa de juros de 1,6% para 1,26% ao mês. Já o Banco do Brasil, maior operador de crédito rural do País, destinará R$ 37 bilhões na safra 2007/2008, o que representa um incremento de 12% em relação à safra passada. “Nossa expectativa é repassar tudo. A agricultura está em franca retomada”, diz José Carlos Vaz, diretor de agronegócios do Banco do Brasil.
O total de recursos do BB responde a 52,86% do Plano Safra 2007/2008, que totaliza R$ 70 bilhões. E a novidade é que a taxa anual de juros foi reduzida de 8,75 para 6,75%. Apesar das boas novas, os bancos ainda terão de resolver alguns problemas internos. O maior deles é o excesso de burocracia, que retarda – e às vezes até inviabiliza – a concessão de empréstimos para os agricultores e pecuaristas. Prova disso é que a demanda dos produtores tem sido maior que o montante destinado pelo governo ao financiamento do setor rural. Mesmo assim, no final do ano/safra, tem sobrado verba pública. Exemplo: na safra 2006/2007, finalizada em 30 de junho, o governo disponibilizou R$ 44,6 bilhões, mas R$ 5,3 bilhões não foram repassados. Como explicar este paradoxo? Uma série de fatores elucidam a questão. Um dos principais é o endividamento do produtor, fruto de intempéries climáticas e preços baixos. As exigências dos bancos para oferecer crédito são outro aspecto. “As garantias que os bancos cobram e as vendas casadas são outros agravantes”, salienta Gustavo de Souza e Silva, mestrando em economia da Esalq – Usp Piracicaba, que estuda o tema. Em outras palavras, muitas vezes, o agricultor já está com seus bens penhorados e não há o que deixar como garantia. Além disso, as vendas casadas – proibidas, porém recorrentes – aumentam o custo do crédito, uma vez que, se ele quiser conseguir o financiamento, terá que contratar outro serviço do banco. Questões como essas indicam a necessidade de uma reformulação no sistema atual de crédito rural.
FARTURA
R$ 70 BILHÕES é o volume de recursos previsto no Plano Safra 2007/2008
O dilema é que o modelo vigente não responde a várias perguntas. Cada linha de crédito tem seu teto de financiamento, mas este teto não responde à necessidade de muitos agricultores que acabam buscando alternativas não oficiais, como CPR ou financiamento via cooperativas ou multinacionais. Se por um lado, há produtores extremamente organizados, com condições para obter uma verba maior que o teto, por outro há muitos com capacidade aquém deste limite. “O crédito rural precisa ser modernizado. O governo se destinaria a prover seguro agrícola e instrumentos de mitigação de riscos de preços”, diz Vaz. Ele ainda defende que em uma possível repaginação, o crédito informal deveria ser formalizado.
VAZ, DO BANCO DO BRASIL: aumento de 12% no crédito rural
Até 1986, os recursos e riscos da modalidade eram do Tesouro Nacional. Depois passaram para os bancos que, por causa da volatilidade da atividade agrícola, começaram a adotar todas as garantias legais de uma operação de crédito. Mas o problema é que a maior parte dos produtores está endividada por motivos que fogem do seu controle, como uma quebra de safra. “Hoje, os produtores precisam de uma nova securitização. A prorrogação é insuficiente, uma mera rolagem da dívida com juros altos. O ideal seria um recalculo retroativo para tirar o excesso de juros e uma reprogramação do pagamento em quantos anos forem necessários para o produtor pagar. A legislação prevê isso, ou seja, o pagamento segundo a capacidade do produtor”, explica Henrique Jambiski dos Santos, diretor-júridico da Lybor Land Graf, consultoria e assessoria jurídico-empresarial, especializada em crédito rural. Outro agravante é que muitos bancos, em vez de reverter em crédito rural os 25% dos depósitos à vista, preferem deixar este dinheiro no Banco Central, sem remuneração. “Eles temem os riscos climáticos e oscilações do mercado, então muitos preferem não ganhar nada do que correr o risco de não receber”, diz Souza e Silva. Para resolver de vez o problema, ele acredita em uma estratégia a longo prazo. “Além de diminuir a burocracia, é fundamental o produtor aprender a lidar com ferramentas de mercado para resguardar um preço mínimo”, finaliza.