04/05/2018 - 10:00
Em Torreón, cidade do Estado de Coahuila, no Norte do México, a expressão “Todo Alta…¡Todo el Tiempo!” (Tudo Alta … O tempo todo, na tradução do espanhol), é quase um grito de guerra na sede da Alta Genetics, empresa global de venda de sêmen bovino e serviços de reprodução. Coahuila é um dos centros mais importantes do agronegócio desse país, especialmente na produção de leite, onde está um dos dois focos dos negócios da Alta Genetics. O outro é genética para carne. Mas quem comanda o grito na empresa não é nenhum mexicano e sim um brasileiro. Há 11 anos, o paulista Eroz Milanez, nascido em Mogi-Guaçu, no interior do Estado, é o diretor-geral para o México e a América Central. “Fui convidado a me apresentar ao cargo no México por um grande amigo argentino, que na época era um dos gerentes da Alta”, diz Milanez, hoje com 52 anos. “O que pesou na minha contratação foi a experiência. A empresa queria alguém com esse perfil e eu tinha experiência técnica, de mercado e de gerenciamento.”
Para Igor Schultz, sócio da Flow Executive Finders, especialista em seleção de executivos, um profissional que se dispõe a fazer carreira internacional traz para o seu currículo algumas características que as empresas entendem como um valor de mercado. Entre elas estão a flexibilidade cultural e a disposição ao desafio. “É um executivo que toma risco”, dia Schultz. “E tomar risco é um sinal para as empresas no momento da escolha de um profissional.”
Não há dado oficial sobre brasileiros com cargos executivos em outros países, mas, de acordo com a Diplomacia Consular do Ministério das Relações Exteriores, há cerca de três milhões de brasileiros vivendo fora do País, entre legais e ilegais. Para Milanez, sair do Brasil foi de fato um momento de correr riscos. “Nem todo mundo se aventura a fazer isso”, diz ele. “Na verdade, o grande desafio é tomar o risco para ir, fazer e experimentar. Não é ficar parado, esperando. É complicado, mas é interessante.” Na época de sua mudança, o executivo gerenciava uma equipe de 80 funcionários da Sersia France Brasil, também empresa de genética bovina. No México, sua atual equipe não é menor: são 20 funcionários diretos, entre eles 11 veterinários, mais oito distribuidores de produtos e 60 revendedoras.
A experiência profissional que o levou para fora do País foi construída em décadas. O primeiro emprego no agronegócio foi em 1987, como instrutor de cursos de inseminação artificial na Fundação Bradesco, em Campinas (SP). “Fiz o curso e estavam precisando de alguém. Foi assim que me contrataram”, diz ele. Milanez se formou em Ciências Leiteiras, um curso de nível técnico. Em seguida, por três anos, foi gerente de fazenda leiteira em Patrocínio Paulista (SP), antes de ir para o mundo corporativo. Na subsidiária brasileira da Yakult, Milanez trabalhou por mais 12 anos. Depois, passou pela Holland Genetics e pela Sersia France, até que foi contratado pela Alta Genetics. “Sai direto para o México”, diz ele. “No meu caso, o mercado foi o meu grande aprendizado.”
O México não é um país fácil, embora o executivo afirme que a experiência tem sido “magnífica”. O país não produz todo o leite que consome e não há nenhuma expectativa de que um dia venha a ser autossuficiente. Em 2018, o país de 110 milhões de habitantes deve produzir 12,4 bilhões de litros, 35% a menos do que deveria. E vai continuar assim. Até 2025, os investimentos podem levar o México a uma producão anual de 14,2 bilhões de litros de leite fresco, para um consumo estimado em 18,2 bilhões de litros. O desafio para manter uma equipe em busca de resultados que nunca serão suficientes ao país é grande. “O México tem como fator limitante a água. O centro norte do país, onde estão os grandes rebanhos, é uma área que chove 200 milímetros no ano”, diz Milanez. “Mas o país chama a atenção pelo profissionalismo do produtor. Mesmo os grandes vivem da atividade, são empresários do leite. Isso salva”.
Outro desafio vem da corporacão. A Alta Genetics, de origem holandesa e que pertencia à Koepon Holding, desde o início de 2018 está em processo de fusão com a americana Corporative Resources International (CRI), que passou a se chamar Genex. “As empresas, por enquanto, serão independentes”, diz ele. “Até agora, é esse o modelo.” De acordo com Milanez, para seguir em frente é preciso entender a cultura de uma empresa e de um país. No primeiro caso, esperar. No segundo, atacar. Por conta do desafio da produção, Milanez diz que há uma disposição para o uso mais intensivo de tecnologias no México. E é preciso monitorar essa disposição. Para ele, o mais importante nesse cenário é medir desempenhos e buscar lideranças. “Entender a cultura de um lugar e identificar líderes na empresa vêm da percepção que tenho das pessoas”, diz ele. “O grande problema de trabalhar em outro país é que, em muitos casos, em vez do profissional de fora ver coisas positivas, ele vê as negativas. Aí é melhor voltar para casa.” E se tem uma coisa que Milanez não quer, nesse momento, é sair do México.