04/06/2018 - 10:00
Dez entre dez amantes de carros sonham em ter a sua própria Ferrari, um ícone do mercado automobilístico que pode custar mais de R$ 1 milhão. Design e potência de mais 700 cavalos estão entre os seus principais atributos, assim como ocorre também para muitas máquinas agrícolas. Não por acaso, o campo também tem as suas Ferraris, modelos importados que causam semelhante frenesi entre os produtores. É o caso da colhedeira de grãos CR 1090, de 652 cavalos de potência, avaliada em R$ 2 milhões. Fabricada na Bélgica pela americana New Holland, a máquina está no livro dos recordes mundiais, o Guiness Book, por colher a maior quantidade de trigo em oito horas ininterruptas. A marca é de 797,7 toneladas do cereal. “Ela é considerada a maior do mundo”, diz o agrônomo Luiz Miotto, gerente de produto de colheita da New Holland no Brasil, empresa do grupo italiano CNH Industrial, gigante global que faturou no ano passado US$ 27,9 bilhões. “É a tecnologia de ponta que leva a máquina a um excelente desempenho”, afirma Miotto. Outra máquina cobiçada é o trator de esteira Challenger, da americana Valtra, que pertence ao grupo AGCO, empresa com receita global de US$ 8,3 bilhões. Fabricado nos Estados Unidos, o trator tem valor inicial de R$ 1,5 milhão e possui duas versões, de 305 cavalos de potência e de 437 cavalos.
A boa notícia para o produtor rural é que essas máquinas podem ser alcançadas mais facilmente que uma Ferrari, embora elas estejam fora dos planos de juros subsidiados do governo federal. Isso porque as empresas do setor estão oferecendo crédito cada vez mais atrativo, destinado à compra de colhedeiras e tratores importados. Não por acaso, o Brasil importou 16,9 mil unidades por US$ 53,3 milhões em 2017, entre máquinas e equipamentos agrícolas. Neste ano, a previsão é de que o mercado permaneça aquecido.
De acordo com Márcio Contreras, diretor da área Comercial, Marketing e Seguros do banco CNH Industrial Capital, a tendência é de demanda nesse segmento. Para competir com taxas de juros semelhantes às do Moderfrota e do Finame, os dois principais programas de financiamento de máquinas agrícolas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os bancos das montadoras trabalham com linhas de Crédito Direto ao Consumidor (CDC). Esse tipo de financiamento é o mais comum que há no mercado, oferecido por bancos a lojas de departamentos. O parcelamento de compras no cartão de crédito, por exemplo, é baseado no CDC. “Com esse meio, conseguimos oferecer a melhor opção de financiamento de acordo com o produto, o segmento de atuação do produtor rural e o seu perfil”, diz Contreras. “Nos importados, podemos chegar a taxas vantajosas, quando comparadas às do Moderfrota.”
No ano passado, a carteira de crédito rural do banco CNH Industrial Capital foi de R$ 4,4 bilhões, valor 15,8% maior do que em 2016. As taxas de financiamento começam em 7,5% ao ano e vão até 14,7% ao ano. Mas, dependendo do produto, há taxas especiais que podem chegar ao máximo de 10,5% ao ano, com prazo de 60 meses para quitar o débito. Estas taxas referem-se à compra de tratores da linha T9, da New Holland, e Steiger, da Case IH, ambas marcas da CNH Industrial. “Essas duas campanhas são bem interessantes porque conseguimos aproximar a nossa taxa do CDC à taxa do BNDES”, afirma Contreras. Para comparação, no Moderfrota as taxas variam de 7,5% ao ano a 10,5% ao ano, com prazo de até 84 meses para quitar o débito. A carência para o início dos pagamentos é de 11 meses. No Finame, a taxa de juros reais é pré-fixada, com saldo devedor corrigido pela inflação. No início deste ano, a composição chegava a 7,3% ao ano.
A Valtra, através de seu agente AGCO Finance, operado pelo banco holandês De Lage Landen (DLL), também tem garantido competitividade nesse tipo de operação de crédito. “São para as máquinas importadas, sem acesso ao Finame, que estamos oferecendo financiamentos diferenciados”, diz o engenheiro mecânico Luiz Cambuhy, gerente de vendas da Valtra. “Temos taxas especiais e prazo de até 60 meses.” Para a companhia, os prazos são de fato o trunfo para atingir juros mais baixos. A linha de CDC da AGCO começa com taxa de juros zero para parcelamento em dez meses, com dois meses de carência para o primeiro pagamento. No caso de o produtor optar por um prazo de 24 meses, a taxa de juros sobe para 6% ao ano. O pagamento é feito em quatro parcelas semestrais, com uma carência de seis meses. Já na modalidade de 36 meses de financiamento, com o mesmo prazo de carência, a taxa é de 6,5% ao ano. No ano passado, o banco DLL realizou R$ 4,1 bilhões em operações de crédito para financiamentos rurais e agroindustriais, 4% a mais que em 2016.