06/06/2018 - 13:19
O mês de abril foi de intensas negociações envolvendo o setor avícola brasileiro. O ministro da Agricultura e Pecuária, Blairo Maggi, passou boa parte do tempo em viagem pela Europa. Sua missão era a de convencer os compradores de carne de frango de que o sistema sanitário do País tem funcionado segundo as regras internacionais. Os europeus estão reticentes. Não por acaso, embargaram rapidamente 20 frigoríficos brasileiros, dos quais 12 unidades são da BRF, em consequência da Operação Trapaça. Ela é a terceira fase da Operação Carne Fraca, desencadeada no dia 5 de março para investigar fraudes na emissão de resultados de análises laboratoriais para fins de respaldo à certificação estabelecimentos registrados junto ao Serviço de Inspeção Federal. No fechamento desta edição, o Brasil se preparava para entrar na Organização Mundial do Comércio, em Genebra, na Suíça, contra o embargo europeu. Mas não é de hoje que a Europa vem dando as costas para a produção de frangos do Brasil. No ano passado, o bloco comprou 201 mil toneladas por US$ 765 milhões. O mercado é importante, mas já foi maior. Em 2007, o Brasil exportava o dobro do volume atual.
Se por um lado os desdobramentos internacionais da Operação Trapaça parecem estar longe do fim, a BRF, a principal envolvida no caso, começa a se aprumar. Depois de uma dura queda de braço, os acionistas majoritários chegaram a um consenso para colocar Pedro Parente, 65 anos, na presidência do conselho da BRF. Hoje, Parente é o presidente-executivo da estatal Petrobras. Ele já foi ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso e CEO da americana Bunge no Brasil, entre os anos de 2010 e 2014.
Laranja
Exportação turbinada
O Brasil aumentou a exportação de suco de laranja nos primeiros nove meses da safra 2017/2018, que começou em julho passado e termina neste mês. Foram 855 mil toneladas de suco concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês), que renderam US$ 1,5 bilhão, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior. Os países europeus, principal cliente, compraram 512,9 mil toneladas por R$ 929,5 milhões, um aumento de 59% ante o ciclo anterior. De acordo com a Associação Nacional de Exportadores de Suco (BRCitrus), o mercado americano registrou igual incremento em relação à safra passada. Os Estados Unidos compraram 139,7 mil toneladas, por US$ 404,4 milhões.
Cana-de-açúcar
Safra de recuperação
A safra de cana-de-açúcar 2017/2018 da região Centro-Sul foi mais robusta do que a esperada. De acordo com dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, divulgados em abril, foram colhidas 596,3 milhões de toneladas, uma redução de apenas 1,78% na comparação com a safra passada. No início da safra, a expectativa era de uma moagem menor, de cerca de 585 milhões de toneladas. Nesta safra, os dados são positivos para o teor de sacarose, medido pela quantidade de açúcar na cana. As usinas processaram 81,4 milhões de toneladas, 0,85% acima da safra passada.
Commodities
Argentina
Seca quebra a safra de soja
No início de abril, as chuvas voltaram a cair nas regiões produtoras de grãos na Argentina. Mas o estrago já estava feito. A seca que assolou o país, a mais severa dos últimos 50 anos, afetou 80% de sua área agrícola. De acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a expectativa é de uma safra de 103 milhões de toneladas, ante 130,2 milhões no ciclo anterior. No caso da soja, a estimativa é colher 38 milhões de toneladas. A queda da principal commodity argentina deve ficar em cerca de 20 milhões de toneladas. Para o milho, a previsão é de 32 milhões de toneladas, ante 39 milhões no ciclo anterior.
Indicadores de mercado
Trigo
Mais lavouras semeadas
No mês passado, os produtores começaram a semear as lavouras de trigo nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. A expectativa é de colher cerca de cinco milhões de toneladas na safra 2017/2018, recuperando parte da queda da produção dos últimos três anos. Na safra passada foram colhidas 4,2 milhões de toneladas. A recuperação maior deve ocorrer no Paraná, por causa dos preços melhores para o grão. O preço da tonelada de trigo é R$ 764, valor 27% acima do ano passado.
Internacional
Basf e Yara vão de amônia
A alemã Basf e a norueguesa Yara Internacional inauguraram, no Estado americano do Texas, uma fábrica para processar amônia, matéria-prima de todos os fertilizantes nitrogenados. O investimento foi de US$ 600 milhões, dos quais 68% da Yara e 32% da Basf. A capacidade de processamento será de 750 mil toneladas a partir de um subproduto do hidrogênio. A Yara informou que comercializará sua produção para o setor agrícola e industrial, enquanto a Basf atenderá apenas a indústria.
Análise do Mês
Qual o cenário do etanol na China, após a disputa comercial com os Estados Unidos?
O Ministério do Comércio da China decidiu elevar a tarifa de importação de etanol sobre o produto de origem americana, dos atuais 30% para 45%, em retaliação à decisão do presidente Donald Trump de tarifar as importações de aço e de alumínio. O aumento da tarifa de importação sobre o etanol dos Estados Unidos torna, segundo estimativa da Datagro Consultoria, não competitiva a entrada do produto americano. Considerando a meta de adicionar 10% de etanol em toda a sua gasolina, a China é um mercado em expansão, com uma demanda de gasolina que já ultrapassa a marca de 140 bilhões de litros por ano. Conforme projeção da Datagro, tal consumo tem potencial para alcançar 160 bilhões de litros em 2020.
Mesmo com o anúncio da construção de novas fábricas no país, o que elevaria a capacidade interna da produção para 9,5 bilhões de litros de etanol, restará à China postergar os planos de mistura ou buscar novas origens, como o Brasil. Após um ano de importações quase irrisórias, o país asiático voltou a importar etanol em volumes mais expressivos em 2018. Em janeiro deste ano, por exemplo, foram adquiridos 120,7 mil metros cúbicos do biocombustível, contra somente 1,2 mil de metros cúbicos no mesmo período do ano passado.