11/06/2021 - 10:39
Com taxa de ocupação de UTI acima de 100% há vários meses, a cidade de Bauru, no interior de São Paulo, já registrou pelo menos 100 mortes de pacientes com covid-19, este ano, na fila de espera por vagas em UTI. O último óbito, na madrugada desta quinta-feira, 10, foi de um homem internado na madrugada do dia 5. No mesmo dia, a taxa de ocupação do Hospital Estadual, referência para covid-19, era de 117%. Os 70 leitos reservados para o município estavam ocupados e 14 pacientes estavam em leitos improvisados. Dos 250 leitos reservados para a região, 263 estavam ocupados, taxa de 104%.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, há mais de três meses os hospitais públicos estão com ocupação acima de 100%. “O Mini Hospital, com pronto-socorro e atendimento avançado de covid-19, está lotado e, por consequência, as quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) estão cheias, com pacientes em geral misturados com os suspeitos e positivos de covid”, informou a Prefeitura. Nesta quinta, a UPA Ipiranga estava com sete pacientes portadores de covid aguardando vagas pela Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross).
Segundo a pasta, antes que saísse sua vaga de internação no Hospital Estadual, referência no tratamento de covid-19 para Bauru e região, um paciente positivo de coronavírus foi a óbito. A filha de uma paciente que acompanhava a mãe na UPA do Ipiranga presenciou a morte de uma mulher que estava com suspeita de covid, após ficar a noite toda em uma maca. “Ela foi intubada na minha frente e, de 30 a 45 minutos depois, ela morreu. Colocaram pessoas com covid junto com outras que tinham fraturas, como minha mãe, que estava com o braço quebrado”, contou Samira Freitas Garcia.
A jovem, que não tem formação em Saúde, contou que se viu na obrigação de ajudar as enfermeiras que não davam conta de tantos pacientes. “Eu tive que ajudar, fui buscar água, chamei socorro para um que estava passando mal, arrastei um senhor na maca com o fêmur quebrado e a costela trincada. Eu vitrês pessoas com covid literalmente se afogando no seco. Uma senhora em especial estava com os olhos estalados, suplicando por ar e não tinha como ajudá-la. É uma sensação de impotência, de ser nada”, disse. Ela contou que havia pacientes em maca e outros com doença mental misturados com suspeitos de covid-19 em meio a enfermeiras sem luvas.
De acordo com a secretaria municipal, 99 pessoas morreram na fila entre janeiro e maio, aguardando internação em hospitais públicos. Foram oito mortes em janeiro, sete em fevereiro, 47 em março, 22 em abril e 15 em maio. Houve mortes em junho que ainda serão contabilizadas.
A prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota), viajou a Brasília em busca de soluções para o cenário crítico na saúde. Em rede social, ela disse que as quatro Unidades de Pronto Atendimento enfrentam dificuldades devido à alta ocupação. “Uma das soluções é ampliar o horário de atendimento das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) sentinelas e abertura aos feriados e fins de semana”, postou. A Prefeitura reivindica a abertura do Hospital das Clínicas, vinculado ao Estado, que tem alas desativadas.
Resposta
A Secretaria da Saúde do Estado informou em nota que o aumento de leitos de UTI na região de Bauru foi de 30 para 260, quase dez vezes maior do que o cenário pré-pandemia, além de outros 360 leitos de enfermaria para pacientes de covid-19. O governo estadual repassou à região desde o ano passado mais de R$ 23,8 milhões para auxílio no combate à pandemia, sendo R$ 4,1 milhões para Bauru.
As medidas para serviço de alta complexidade no HC Bauru envolvem discussões técnicas e estão em análise, considerando as necessidades regionais. “Vale lembrar que a principal maneira de prevenção da covid-19 e de evitar que mais pessoas adoeçam e precisem de hospitalização é o cumprimento dos protocolos sanitários que, frequentemente, são desrespeitados pela gestão municipal”, diz a nota.
Sobre os pacientes à espera de transferência, a pasta informou que a demanda é descentralizada na rede, considerando que há regulações municipais ou regionais, com os respectivos serviços de referência para sua área de abrangência. “Ou seja, o sistema também é utilizado pelos municípios, que têm autonomia para avaliar e encaminhar casos em seu território. A regulação depende da disponibilidade de leitos e de condição clínica adequada para que o paciente seja deslocado com segurança”, afirmou a pasta.