10/09/2018 - 10:00
O publicitário gaúcho Luciano Vignoli, presidente da agência e21, com sede em Porto Alegre, montou seu próprio negócio em meados dos anos 1980. Além dos clientes urbanos, o agronegócio sempre esteve presente em sua carteira, como Dow Química, os silos Kepler Weber e a vinícola Salton. Para a Basf, Vignoli realizou a campanha “Planeta Faminto – Agronegócio, o maior trabalho da terra”. Vídeos no canal youtube ultrapassaram dois milhões de visualizações. Para ele, o Brasil ainda se vende mal no exterior, mas poderia ser a Tesla do agronegócio global. Tesla é o nome da mais inovadora montadora de carros elétricos dos Estados Unidos. Criada em 2003, ela já desbancou ícones da tradicional indústria do setor, com um valor de mercado de US$ 51 bilhões, acima de General Motors e da Ford. Confira a entrevista:
Qual o espaço que o agronegócio ocupa no mundo da publicidade brasileira?
Ele é um setor muito incipiente, ainda, mas com um absurdo potencial de crescimento. Mas o agronegócio não é um setor fácil para se trabalhar. Há muita especialização. Cruzar cultivos com oferta de produtos, com regiões e com o tempo das diferentes lavouras é um desafio enorme que requer aprofundamento e estudo.
Como o Brasil se vende lá fora, de modo geral, e também em relação ao agronegócio?
O Brasil ainda se vende ridiculamente mal. Somos um país de diversidade e nos vendemos com estereótipos. Somos um país multicultural e tentamos impor uma linguagem arquetípica desgastada. Nosso storytelling (capacidade de contar histórias de maneira relevante) deveria ser ampliado.
Uma marca Brasil para o agronegócio pode nascer a partir de quais bases?
A partir da revolução da agricultura tropical que o Brasil fez, unindo tecnologia e sustentabilidade. Não é só o crescimento em toneladas de grãos o que nos justifica. O crescimento não caiu do céu. O País criou uma nova forma de produzir, que é consistente, criativa, inteligente e que fez uma revolução agrícola sem precedentes na história da humanidade. Somos, sim, o novo. O Brasil é o desafiante no modelo agrícola estabelecido.
Qual seria a estratégia para construir uma marca Brasil?
Mostrar que, nesse setor, o País é mais que o primeiro mundo. Eles estão estagnados em seus patamares produtivos altamente subsidiados. O Brasil é o novo mundo. E ele é tecnificado, inteligente, megaprodutivo, competitivo e sustentável.
É possível copiar algum modelo já utilizado lá fora?
Copiar, exatamente, é difícil. Mas, por exemplo, os vinhos produzidos fora do eixo França e Itália eram quase ridicularizados. Eles trabalharam sua abundância, variedade, tipicidade criativa e venceram.
Que característica o Brasil precisa vender como a nação do agronegócio?
Acredito que ser revolucionário por explorar muito bem sua diversidade, com inteligência e sustentabilidade.
Por onde começar?
Apoiando cada região – o ideal seria cada microrregião – no sentido de destacar ou valorizar os seus diferenciais de produto. Quanto mais a linguagem local vender a ideia de qualidade, mais a ideia global de diferenciação diversificada se estabelece. A especialidade dos rebanhos europeus no Sul do País, as frutas do Nordeste, o café mineiro, o arroz gaúcho. Enfim, quanto mais os produtores trabalharem os seus diferenciais, mais a imagem de excelência global se consolida.
Quem são os agentes desse movimento?
As associações de produtores, as cooperativas, as prefeituras. Esse movimento deve ser amplamente descentralizado. Quanto mais cada um fizer o seu trabalho, melhor fica para todos.
Por que esse movimento não ocorreu até agora?
A revolução da agricultura brasileira foi amplamente sustentada pela missão de batermos recordes em produção de commodities. E o País fez isso. E com manejos cada vez mais tecnificados e maior competição, as margens se achataram para os produtores, principalmente para os pequenos e médios. Agora, esses produtores começam a procura por agregar valor aos seus produtos, não somente buscando novos patamares de qualidade, mas inserindo-se na sociedade de modo consciente e diversificado. Exemplos são os produtos orgânicos, as práticas sustentáveis, a integração com a natureza, entre outras práticas. Tudo isso ainda está engatinhando, mas como fenômeno mercadológico isso veio para ficar.
Se o Brasil pudesse ser comparado como um produto à venda, qual seria?
Com otimismo, o Brasil poderia ser a Tesla do agronegócio global: novo, diferente e cool.