Nem governo, nem oposição. É assim que nasce o novo maior partido do País, o União Brasil, fruto da fusão do PSL e do DEM. Em entrevista ao Estadão após as duas siglas entrarem em acordo, o futuro presidente do mega partido, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), disse ser preciso esperar as “nuvens da política” para definir de qual lado estará no Congresso. De saída, a sigla reunirá uma bancada de 82 deputados e quatro senadores.

“A gente anteceder qualquer coisa agora é prematuro. Vamos caminhar e vamos sentir como as nuvens da política se movimentam”, disse o parlamentar pernambucano, numa referência à máxima do ex-governador mineiro Magalhães Pinto: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou.”

Segundo Bivar, mesmo sem definir uma posição de como vai atuar no Congresso, o União Brasil terá candidato próprio nas eleições presidenciais de 2022 e quer uma alternativa ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Questionado se esse nome será o ex-juiz Sérgio Moro, que tem sido assediado por integrantes do seu partido, o dirigente pediu cautela. “O Sérgio Moro é um quadro que qualquer partido gostaria de tê-lo, mas eu preciso conversar com toda a cúpula do União Brasil, que hoje representa os principais players do DEM e do PSL”, afirmou.Atualmente, já são três pré-candidatos a presidente pelo União Brasil: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o apresentador José Luiz Datena (PSL-SP).

União Brasil nasce com a maior bancada na Câmara. Vai ser oposição ou base de Bolsonaro no Congresso?

O União Brasil nasceu ontem (quarta-feira) de fato. A gente anteceder qualquer coisa agora é prematuro. Vamos caminhar e vamos sentir como as nuvens da política se movimentam.

O sr. espera uma debandada dos deputados bolsonaristas do PSL?

Meu desejo é que todos fiquem no partido, mas isso é de cada um e cada um vai saber nessa trajetória política o que é melhor para ele. O meu desejo, como membro do partido União Brasil, é que todos permanecessem no partido.

Como está a relação do sr. com Bolsonaro? Ele saiu do partido no fim de 2019, mas ensaiou uma volta ao PSL.

Ele é meu presidente, sou brasileiro. Politicamente estamos em partidos diferentes, embora ele esteja sem partido. Eu sou muito partidarista. Todos nós somos partidaristas, o PSL e o DEM. Por isso resolvemos em cima, sob um guarda chuva, nos juntarmos. É diferente a gente tratar partidos que tenham linhas diferentes ou que tenham objetivos personalísticos. A gente está dentro de um regime partidário e o que norteia isso é justamente a comunhão de ideias.

O sr. acredita que a terceira via terá chance em 2022?

Eu posso te garantir que vai haver realmente uma opção para 55% de brasileiros que ainda não têm em quem votar. Vamos apresentar uma opção. O União Brasil vai em busca de outros partidos para que a gente promova essa união.

O União Brasil está tentando atrair políticos de outros partidos?

Nesse momento tem muitos deputados que já sinalizaram, estão esperando realmente a janela para migrarem. Eu acredito que a gente vai ter um número bem representativo de deputados que vão enfileirar-se no nosso partido.

O deputado Junior Bozzella, vice-presidente do PSL, tem dito que o ex-juiz Sérgio Moro é a verdadeira terceira via. Ele tem espaço no partido?

Eu sou um porta-voz hoje do novo partido, todos nós temos que conversar tudo. O Sérgio Moro é um quadro que qualquer partido gostaria de ter, mas eu preciso conversar com toda a cúpula do União Brasil, que hoje representa os principais players do DEM e do PSL. Hoje as decisões não saem mais unilaterais, tudo isso que acontece agora, no momento mais cedo que imaginamos vamos analisar, conversar e aliar. O que nós queremos é aglutinar a maior quantidade possível de brasileiros que defendem a democracia, as instituições e o Estado de Direito.

Se a eleição fosse hoje, quem seria o candidato do partido, Datena, Pacheco ou Mandetta?

São três excelentes quadros. Gostamos de todos dos três. Agora, o próprio Datena ainda não definiu se seria candidato a presidente ou a outro cargo qualquer. O Mandetta também é outro quadro inigualável, mas também não vi dele impor a candidatura. Pacheco, por sua vez, também não vi. Então é uma coisa pessoal, de antes eles decidirem se querem ser candidatos. Precede o partido dizer: ‘meu candidato é esse ou aquele’. Não é fácil, ser candidato tem um pouco de sacerdócio, principalmente a presidente da República.

Como será a divisão dos diretórios do União Brasil? A conta de que o PSL ficará com 17 diretórios e o DEM com 10 está certa?

O que menos importa agora é o número. O que importa são comprometimentos pretéritos e morais. Isso haveremos de preservar lado a lado.

Rio e São Paulo ficarão com o PSL?

Não tem nada a ver. Hoje somos um partido só, União Brasil, nada é feito sem consenso. Não tem nada imperativo de que tal Estado é de A ou de B. É uma comunhão de interesses para dar a melhor ferramenta para a democracia. Os dois partidos estão juntos para dar a todos nós, a sociedade brasileira, uma opção de reformas, uma opção de efetivamente unir o Brasil.

Em quais Estados pretendem ter candidatura a governador no ano que vem?

Eu não conversei ainda. Tudo vai ser muito em conjunto a partir de agora. Temos as peculiaridades de cada Estado, é natural que o União Brasil vai querer ter candidato em todos os Estados, mas que sejam candidatos que realmente representem o nosso programa e que tenham competitividade, não queremos ter candidato em determinada região só para marcar presença. Para isso vamos ter conversas com outros partidos que pensam da mesma forma que nós e que possam oferecer à sociedade uma opção para melhor gerir e administrar as cidades ou Estados.

Como estão as conversas para filiar Geraldo Alckmin em SP?

Hoje a comissão diretiva do União Brasil vai começar a mapear os Estados. Eu tenho absoluta certeza que em um pequeníssimo espaço de tempo cada Estado a gente vai montar provisoriamente diretórios até formar o mais breve possível o novo diretório geral do partido. É um assunto (eleição em São Paulo) que vai ser discutido em conjunto.

E em Minas, Romeu Zema vai se filiar ao União Brasil?

O governador Zema é um exemplo de político correto. É um quadro que qualquer partido gostaria de ter nas suas fileiras.

O sr. preside o PSL desde a fundação, em 1994, com pequenas interrupções nesse período. Vai presidir o União Brasil até quando? Já existe um prazo?

Existe uma comissão instituidora, que tem um prazo acordado pelo PSL e pelo DEM até maio de 2023, mas nada impede depois da gente fazer uma grande assembleia e incluir todos os nomes. Essa comissão instituidora só decide com os dois partidos juntos, é uma coisa absolutamente compartilhada. Então há um sentimento muito identificado nos nossos programas, na nossa forma de fazer política e caminhar juntos. Me sinto hoje muito confortável, mais seguro com essa fusão junto com o DEM.

Por que o sr. diz se sentir mais seguro?

Porque tem mais mentes inteligentes, mais mentes brilhantes, não que o PSL não tenha, para compartilhar as decisões. É um desprendimento muito grande dos próprios parlamentares dos dois partidos acordarem de forma unânime essa fusão. Só traz para nós que formamos a executiva dessa comissão instituidora mais responsabilidade ainda.