Na segunda-feira, 15, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai passar a ter “a cara do governo”. A declaração veio durante entrevista na Expo Dubai. Ao Estadão, Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV, afirma que é “inaceitável ingerência em um exame que até hoje passou por governos com diferentes orientações ideológicas que não interferiram na prova”. O exame ocorrerá nos próximos dois domingos, 21 e 28.

O que a declaração do presidente Jair Bolsonaro representa?

É uma inaceitável ingerência em um exame que até hoje passou por governos com diferentes orientações ideológicas que não interferiram no Enem. Existe um edital com professores selecionados que escolhem as questões. Um corpo bem técnico. Imaginar que o exame deva ter a cara desse ou daquele governo não faz sentido nenhum.

Quais os impactos sobre a prova?

A gente está pondo em risco a credibilidade do Enem. 37 pessoas saírem do Inep põe em risco a forma como o exame vai ocorrer. Muito triste o que aconteceu.

O que seriam questões polêmicas sobre as quais Bolsonaro se refere?

Eventuais questões polêmicas podem aparecer, mas isso não configura a cara de um governo ou de outro, porém, de uma nova realidade a que os estudantes estão inseridos. É importante a gente entender que, quando a gente afere a capacidade de leitura, o repertório cultural e científico dos alunos, o que Bolsonaro está chamando de polêmico, são alunos de 17 a 19 anos, que é a média de candidatos, inseridos num universo deles.

Quais os prejuízos desta afirmação para a Educação?

O mais importante é ter a visão de que a educação deveria ser política de Estado e não de governos ou políticos. Em países que têm boas políticas de educação é uma questão de Estado, não política.