Moradores de um prédio localizado a cerca de 150 metros da obra da Linha 6-Laranja do Metrô, que desmoronou na manhã de ontem, relataram terem vivido momentos de apreensão e pânico. O acidente, que ocorreu nas imediações da Ponte do Piqueri, na zona oeste da capital paulista e, segundo o governo, foi causado pelo rompimento de uma coletora de esgoto, fez cerca de 40 famílias do Condomínio Terrazza Marina deixarem os apartamentos.

No condomínio, situado na Avenida Santa Marina, a mesma por onde passará a Linha 6 do Metrô, moram mais de mil pessoas distribuídas em 348 apartamentos em três torres. O temor dos condôminos era de que a água do rio pudesse atingir o prédio, o que foi descartado posteriormente.

“Eu fiquei em pânico porque não sabia o que falar para os moradores. A gente viu o pessoal indo embora, com medo do prédio cair, e os helicópteros sobrevoando. Mas comecei a me acalmar quando falei com os engenheiros e o pessoal da Defesa Civil”, conta a gerente do condomínio, Alcilene Silva, de 40 anos.

Receio

“O prédio inteiro queria ir embora. Eles ficaram com medo de tudo que aconteceu. Na hora do transtorno, sentimos o cheiro forte de esgoto e ficamos nos perguntando qual o motivo daquele cheiro. Pensamos que era algum problema no esgoto. Mas, quando me deparei que o problema não era no esgoto do condomínio, passei a me preocupar mais”, acrescenta a funcionária da administração do condomínio.

Alcilene e o síndico do prédio, Júlio Harold, passaram parte da manhã tentando fazer contato com a Defesa Civil, que foi ao local no início da tarde. Robson Bertolotto, diretor da Defesa Civil na Lapa, disse que os prédios no entorno não correm risco. Ele gravou um vídeo para tranquilizar os moradores. “O condomínio está intacto. Não corre risco nenhum”, afirmou Bertolotto ao visitar o local.

O síndico também solicitou uma perícia particular que constatou o mesmo que a Defesa Civil: a estrutura do prédio não foi comprometida e não existe risco de que isso aconteça. Um dos moradores é engenheiro e trabalha na empresa responsável pela obra, a Acciona. Ele procurou passar informações sobre o evento aos vizinhos.

Embora tenha deixado pronta uma mala de emergência, a designer Isabella Sarkis de Carvalho, de 41 anos, ficou assustada com o acidente, mas preferiu não abandonar o seu apartamento quando soube que era seguro permanecer em casa. “Eu fui levar meu filho para a escola e vi muita gente descendo. Aqui em casa, fizemos uma mala para sair, caso a Defesa Civil falasse algo”, conta ela. Segundo a designer, o burburinho se formou a partir do mau cheiro de esgoto que os moradores sentiram no início da manhã. “Muitas pessoas saíram correndo, mesmo sem saber o que estava acontecendo. A nossa ação foi arrumar a mala e ficar esperto. Até porque pensamos que poderia cortar gás, água e energia. Mas felizmente pudemos ficar.”

O fotógrafo Gerson Areias, de 40 anos, saiu para trabalhar antes do acidente. Passou a ficar apavorado ao ler as centenas de mensagens no grupo dos moradores do condomínio e ver os vídeos do acidente. “Parecia a cena do fim do mundo. Minha mulher começou a juntar os documentos para sair”, descreve. Mas ele voltou para casa e viu que não havia perigo para os moradores.

“O que deixou o pessoal assustado foram os vídeos mostrando a vazão inicial. As pessoas pensaram que a água era do rio. E a gente sabe que água do rio não tem controle. Foi isso que mexeu com a cabeça das pessoas”, diz o fotógrafo.

Retorno

Alguns moradores começaram a voltar para o condomínio assim que as autoridades informaram que não havia perigo de a estrutura do local ser comprometida. Nem todos, porém, regressaram. Uma moradora que não quis se identificar relatou que prefere ficar fora de casa para preservar a saúde mental. “Ficar em um ambiente cheio de helicópteros e assistindo da janela do meu quarto ao asfalto da Marginal caindo e a cratera abrindo aos poucos cada vez mais estava me fazendo mal”, justifica ela.

A CET informou, no início da tarde, que a pista expressa da Marginal do Tietê, no sentido Ayrton Senna, foi totalmente liberada. Já a pista local está com o trânsito desviado para o corredor formado pelas Avenidas Ermano Marchetti e Marquês de São Vicente. A cratera aumentou mais durante a tarde. O motivo do acidente está sendo investigado, de acordo com a Secretaria de Transportes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.