02/07/2019 - 15:47
Até a safra 2027/2028, a previsão é de que o Brasil chegue a uma área de 42,5 milhões de hectares de soja, com produtividade média em torno dos 4 mil quilos por hectare. Com isso, produção e área serão 20% superiores aos números atuais. Mas a produtividade, que nesta safra foi de 3,1 mil quilos por hectare, poderia crescer a um ritmo mais acelerado, com o uso de biotecnologias, máquinas e implementos mais eficientes. É o que defende Glauber Silveira, que já foi presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso. Desde 2012, ele está à frente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Soja, organismo de discussão política do Ministério da Agricultura, no qual estão todas as Aprosojas estaduais e outras 20 entidades. Em março, mesmo com a mudança de governo, foi escolhido para permanecer no cargo. Ele também é presidente da Arefloresta e vice-presidente da Abramilho. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva que Silveira concedeu à DINHEIRO RURAL, sobre os desafios da soja no Brasil e o futuro do setor.
O que dizer sobre a safra 2018/2019, que se encerra no próximo mês?
De certa forma, foi uma safra boa, principalmente em Mato Grosso, apesar de quedas de produção em algumas regiões do Paraná e em Mato Grosso do Sul. O Brasil sempre tem aumentando suas áreas, produção e produtividade, mas deveria estar produzindo muito mais do que 4 mil quilos de soja por hectare. Na mesma área, deveríamos estar colhendo 140 milhões de toneladas se tivéssemos maiores ganhos de produtividade. Temos avançado pouco nesse aspecto. Há produtores com altas produtividades. Mas a média brasileira ainda é muito carente.
Que análise o senhor faz do milho, cereal de interdependência alta com a soja?
O milho é muito frágil, apesar, também, do incremento de área. O plantio dessa safra foi bem acelerado e começou cedo. Isso permitiu uma janela maior de plantio e fez com que houvesse maior produção. O milho tende a ultrapassar a soja no curto prazo. Em Mato Grosso, isso já acontece. É uma tendência natural, pois o milho tem produtividade maior por hectare. Além disso, quando há um ciclo mais curto da soja, a tendência é de que os produtores plantem mais milho.
Como será o futuro desses grãos?
A demanda do mercado mundial será maior nos próximos 50 anos. O mundo precisará quase dobrar a atual produção de grãos. Precisará crescer 70%. Desse total, 40% serão no Brasil. Para isso, o País terá triplicar a produção. Nossa obrigação será produzir 1 bilhão de toneladas de grãos em 2050. Teremos de crescer em produtividade.
Quais os principais fatores que podem levar ao crescimento da produtividade da soja?
Há muitos fatores. Mas o que temos observado no campo, principalmente naqueles produtores que são campeões de produtividade, por meio do Comitê Estratégico Soja Brasil, é um bom manejo do solo, como calagem em profundidade, cobertura e um eficiente manejo de palhada. Esses produtores buscam recuperar ou construir a parte microbiana do solo.
Qual o descuido mais comum nessa tarefa?
O produtor não prepara o solo. Ele maneja a adubação verde. No caso do plantio direto, o fator no qual se deve colocar mais atenção é a compactação. Com seca ou chuva, o produtor vai perder, porque as raízes não exploram o solo em profundidade.
E qual é a influência das boas sementes nesse processo?
O grande dilema do produtor é ter boas variedades, com alto teor produtivo e que ele não tenha de pagar demais pela tecnologia. No Brasil, as áreas perfeitas para plantio já foram ocupadas. Hoje, muitas áreas de pastagens, que é para onde a soja está indo, não têm um clima tão perfeito. Para poder ocupá-las com mais eficiência, precisamos de plantas com maior tolerância à seca. A pesquisa está evoluindo, mas não tem sido tão fácil chegar às variedades adequadas. Além disso, é muito importante a resistência às pragas. O produtor vem acompanhando esses fatores e quer conseguir rentabilidade.
As pesquisas têm conseguido apontar a direção correta a ser seguida?
O que nós precisamos no País é de pesquisa. Infelizmente, o dinheiro da Embrapa está curto e ela tem diminuído o ritmo dos estudos, seja de manejo, adubação, rotação. Um detalhe que tenho visto é justamente o uso de variedades não adequadas ao campo. Antes, se plantava soja somente acima de 400 metros em relação ao nível do mar. Hoje, está em 200 metros. O produtor precisa de muita assistência técnica para racionalizar o negócio. Também há muitas variáveis roubando produtividade, como lagarta, ferrugem, besouro, falta de novas moléculas, porque no Brasil não é simples de se fazer um registro.
Máquinas e equipamentos têm respondido às demandas do campo?
Não faltam máquinas e equipamentos adequados, com tecnologias embarcadas. Mas há um gargalo no campo: falta mão de obra qualificada para operar essas máquinas. Além da tecnologia digital embarcada, seja em um pulverizador, colhedeira ou plantadeira, também falta conectividade no campo. Muitas propriedades estão arcando com a colocação de torres de transmissão para sanar esse problema.
Já é possível falar em perdas, em função da falta de conectividade?
No começo, tínhamos problemas de como usar as várias tecnologias das diversas marcas de máquinas e equipamentos do mercado. Isso está superado. A influência da conectividade é que ela veio para dar respostas imediatas. Por exemplo, se o plantio foi programado para 15 sementes por metro e a máquina jogou 18 sementes, isso significa perda. Na pulverização, se jogar 10% a menos de produto, vai ter um menor controle. Se for 10% a mais, é gasto. Em uma lavoura de R$ 2 mil de custo, por hectare, são R$ 200, valor equivalente a 3 sacas de soja. Muitas vezes, isso é a rentabilidade do produtor.
Os drones estão efetivamente colaborando com a agricultura atual?
No começo, o drone foi usado para tirar foto. Porque esse equipamento surgiu sem muita tecnologia adaptada. Foram as startups que criaram e estão em busca de softwares e programas. Acredito que as maiores evoluções na agricultura ainda virão com drones, como a contagem de doenças, pragas, leitura de folha, pulverização de precisão. Mas o drone, como qualquer tecnologia, precisa dar rentabilidade. Se for gerar apenas custo, não vai servir para nada.