18/05/2022 - 15:02
Preso na segunda-feira, 16, o empresário Paulo Cupertino passou por mais de cem endereços em ao menos três países enquanto era procurado, estima o delegado Wendel Luís Pinto Sousa Silva, do 98° Distrito Policial (Jardim Miriam). Ele comandou o inquérito do assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais, em 2019, e a ação que resultou na prisão do suspeito.
“Aqui, por esta delegacia, nós verificamos tranquilamente mais de cem endereços”, disse o delegado ao Estadão. Além das investigações conduzidas pelo 98° DP, Silva conta que setores especializados da Polícia Civil e também equipes da Polícia Militar participaram da busca. “Se bobear, foram mais de 300 lugares.”
Ao longo dos três anos de busca, os indícios apontam ainda que Cupertino se estabeleceu em ao menos três países: Brasil, Paraguai e Argentina. Até que uma denúncia contribuiu para a captura do investigado em Interlagos, zona sul paulistana.
“Recebemos uma denúncia anônima de que ele estaria na região. Após o serviço de inteligência e investigação, localizamos o local em que ele estava, fizemos campana e, após a confirmação de que era ele mesmo hospedado naquele hotel, fizemos o trabalho de combinar a prisão dele”, relata.
O trabalho de campana realizado nas proximidades do hotel durou cerca de dez dias. “Foi para não dar o bote errado”, diz o delegado. Conforme Silva, o procurado usava nome falso por onde passava. “Ele tinha objetos que mudavam cor de cabelo, cor do chapéu, cor da roupa. Ora se fantasiava de uma coisa, ora de outra. Então ele usava artifícios para não ser reconhecido.”
A polícia estima que ele estava em São Paulo havia pelo menos 30 dias. “Não sabemos o porquê dele ter voltado. Acreditamos que acabou o dinheiro e ele deve ter vindo buscar recursos com a família, com amigos”, explica o delegado. No inquérito inicial, dois amigos de Cupertino viraram réus por ajudá-lo. “Mas isso lá na época da fuga dele, no cometimento do crime. Agora estamos começando a investigar se há terceiros envolvidos.”
Cupertino esteve perto de ser capturado em fazenda no MS
“O local que estivemos mais perto de capturá-lo foi em uma fazenda em Eldorado, no Mato Grosso do Sul”, disse ao Estadão a delegada Ivalda Aleixo. Ela comandou as buscas do caso na Divisão de Capturas da Polícia Civil, que entrou no caso a partir da semana em que o crime ocorreu para dar apoio ao 98º DP.
“Há relatos que ele fugiu em um caminhão de melancia no mesmo dia em que chegamos”, acrescentou. Segundo ela, a fazenda teria sido o local em que Cupertino passou mais tempo: do primeiro semestre de 2020 até por volta de fevereiro de 2021.
Conforme as investigações, a região da fronteira que liga cidades do Mato Grosso do Sul a municípios do Paraguai teria sido a escolhida por Cupertino porque ele tem contatos por lá. “Ele só conseguiu se esconder por tento tempo por isso”, disse Ivalda.
Logo no começo da procura por Cupertino, a delegada conta que a investigação estava quente. “O fato foi no domingo, ele vai para São Roque (SP) na madrugada, na terça-feira ele vai para Campinas (SP) e, de lá, ele consegue pegar o ônibus e vai para Ponta Porã (MS)”, conta ela.
Depois dessa fuga do Estado de São Paulo, as buscas foram marcadas por idas e vindas. Foram feitas desde denúncias que se descobriam que não eram condizentes – como ligações dizendo até que ele estaria no Maranhão – a dificuldades em buscar Cupertino em países vizinhos, como o Paraguai.
Um dos locais em que o suspeito esteve foi no Paraná. Em 2021, relembra a delegada, o investigado conseguiu tirar um RG em uma cidade do interior do Estado com uma certidão de nascimento falsa. “Ele usou um outro nome e tirou, com cabelo para trás ainda. Mas a gente descobriu e conseguiu cancelar.”
Após ser encontrado, suspeito disse ter confiado na pessoa errada
O retorno de Cupertino a São Paulo teria se dado por uma soma de fatores, entre as quais uma ajuda ainda desconhecida. Segundo a delegada, ele alegou ter voltado à cidade pela primeira vez desde o crime porque não tinha mais dinheiro e porque queria ver os filhos – são quatro no total. “Alguém o ajudou aqui. Ele disse pra mim: ‘eu confiei na pessoa errada'”, apontou a delegada.
Ivalda conta que os cerca de três anos de investigação foram marcados por empolgação, quando os policiais achavam que iam enfim capturar o réu, e momentos de frustração, quando as buscas não davam resultados. “Ele não mantinha contato com a família, não pelos canais que a gente monitorava.”
Agentes da Polícia Civil, entre as quais Ivalda e o delegado-geral Osvaldo Nico Gonçalves – antes no comando do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) -, chegaram a ir cidades como Dourados, Ponta Porã e Eldorado (todas no Mato Grosso do Sul) por algumas vezes.
Também monitoraram de perto a fronteira entre Brasil e Paraguai em parceria com policiais civis de outros Estados e a própria polícia do Paraguai. Como trabalhava com desmanche, Cupertino tinha contatos nessa região, o que teria permitido, segundo a delegado, que o procurado fizesse “bicos” trabalhando até em carrinhos de comida e recebesse ajuda para se esconder.
“A gente recebia denúncias até pelo Instagram”, diz ela. “Foram muito mais de 300, 400 denúncias sobre locais onde ele era visto. Às vezes mandavam até foto”, explicou Ivalda. Segundo a delegada, o fato de o caso ter se desdobrado, em maior parte, durante a pandemia de covid-19 também foi um fator que contou contra os policiais. “Ele se aproveitou da pandemia, usando máscara, óculos e boné.”