29/05/2022 - 8:04
Estudar para o vestibular ou na faculdade pode ser bastante solitário e desafiador. As cobranças são altas e os medos, constantes. Por isso, estudantes decidiram compartilhar as experiências acadêmicas nas redes sociais. Os “study influencers” mostram desde técnicas de estudo, aulas e resolução de exercícios até vlogs sobre o dia a dia e bate-papos sobre a vida de estudante.
Nicolas Lazaroto Bezerra de Lima, de 19 anos, conta que não gostava de estudar e não se considerava um bom aluno. Mesmo assim, ganhou diversas medalhas em olimpíadas de Matemática e Astronomia, e foi aprovado em vestibulares das Universidades de São Paulo (USP), de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp). Mas muita coisa mudou desde quando estava no terceiro ano do ensino médio. “Antes, eu não via utilidade nas coisas que estudava. O que mudou foi que, em vez de apenas aprender por obrigação, comecei a querer entender o assunto, ler livros sobre o que gostava, e assim acabei me interessando pelo hábito de adquirir conhecimento”, explica.
E foi assim que, no último ano o jovem mudou a rotina de estudos e começou a postar vídeos no YouTube. Hoje o canal ‘Nicolas Lazaroto’ tem 79,5 mil inscritos, fora os 24,6 mil seguidores no Instagram. Posta aulas ensinando matérias específicas – geralmente de Exatas – e resolvendo exercícios. Mas o que dá maior visibilidade e cria mais engajamento, segundo ele, são os vídeos sobre sua experiência fazendo vestibulares ou dando dicas.
Mesmo tendo sido aprovado em universidades concorridas e renomadas, Nicolas continua estudando para o concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Quer seguir a carreira militar. Este ano, fará a terceira tentativa. Segundo o estudante, a prova é mais difícil que os vestibulares convencionais por ser “mais conteudista, com exercícios objetivos, sem tanto contexto”, diferentemente da prova do Enem, na qual a interpretação de texto pode auxiliar na resolução.
Solidariedade
Quem também começou a compartilhar a busca pela aprovação foi Agnessa Kling Nóbrega, de 26 anos. Hoje, ela é graduanda de Física na USP, mas criou seu canal “Alexandria 21”, com 3 mil inscritos, quando era vestibulanda, em 2020. “Eu já tinha vontade de iniciar esse projeto fazia tempo, e procurava vídeos sobre como estudar sozinha para o vestibular, mas não encontrava. Então pensei em ajudar as pessoas que, assim como eu, vieram de escola pública, não tinham condições de fazer cursinho e queriam estudar em casa”, conta, reforçando a dificuldade da Fuvest e o perfil da USP. “Geralmente são alunos que fizeram cursinho ou vieram de colégio particular muito bom.”
Depois que conseguiu a aprovação na universidade, Agnessa passou a compartilhar dicas de estudos e estratégias para vestibulares, além de aulas explicando conteúdos didáticos e vídeos sobre a vivência na USP. “Comecei a colocar aula de Matemática Básica e quero futuramente colocar também de nível médio e até superior, porque Exatas é o que mais assusta e afasta as pessoas”, diz. “Falo também sobre os auxílios e bolsas da universidade, porque não basta entrar, é preciso se manter lá. Eu mesma tive de sair da universidade porque não sabia dos auxílios”, revela a estudante.
Já Laura Soncim, de 22 anos, passou no vestibular para cursar Medicina e saiu do Espírito Santo para estudar em Santa Catarina. No canal que leva seu nome, com 18 mil inscritos, o que mais faz sucesso são os chamados medvlogs, vídeos com trechos do seu dia mostrando até as aulas práticas na faculdade. No vídeo mais assistido, com 73 mil visualizações, Laura está dissecando um olho na disciplina de Anatomia. Em seguida, ganhou mais destaque o vídeo sobre como conseguiu bolsa de 100% pelo ProUni.
Para Lucas Felpi, de 20 anos, que ficou conhecido após tirar 988 em Matemática e 1000 (a nota máxima) na Redação do Enem 2018, a repercussão levou muita gente a querer tirar dúvidas sobre a prova. O canal dele tem 551 mil inscritos e seu perfil no Instagram, 260 mil seguidores. De acordo com a psicanalista Isabel Tatit, é inevitável que as redes sociais entrem em todos os aspectos das vidas dos jovens, inclusive no âmbito acadêmico e do ensino. Muitos alunos podem, dessa forma, ter contato com assuntos que antes eram “para poucos”, por causa de um aspecto elitista da educação, explica a especialista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.