29/05/2022 - 8:52
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro tem pautado movimentos da diplomacia brasileira do ponto de vista eleitoral, o que inclui o afastamento de governos que demonstram simpatia pelo ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em reserva, diplomatas dizem que a tendência é de que negociações internacionais continuem até o fim do ano afetadas pela disputa presidencial.
A discussão em Brasília nas últimas semanas sobre a participação do Brasil na Cúpula das Américas, nos Estados Unidos, passou longe dos debates sobre interesse nacional em se aproximar ou não do presidente americano. Joe Biden é visto como um representante da esquerda global para a base bolsonarista. Por isso, até a semana passada, Bolsonaro resistia em fazer a viagem.
O plano mudou quando os EUA asseguraram que ele terá um encontro bilateral com Biden e que poderá levantar temas de interesse do lado brasileiro. A ideia é provocar declarações que possam ajudá-lo na campanha, como a intermediação de compra de fertilizantes do Canadá, um tema que agrada ao agronegócio.
A pauta eleitoral, no entanto, não entra na conta só nos casos de marketing político favorável. Há um freio de mão puxado quando o assunto é a relação com governos com simpatia declarada a Lula.
O governo brasileiro desmarcou, de última hora, a realização da V Comissão Binacional que teria com o governo do México em abril, logo após o presidente López Obrador receber Lula no país. O comércio entre as duas economias mais relevantes da América Latina é tímido e a retirada de barreiras comerciais, tema do encontro, é considerada crucial pelo setor industrial. Não há nova data para a reunião. “No momento, a data de realização da reunião encontra-se em fase de tratativas, diante da necessidade de se buscar convergência na agenda das autoridades, ainda no corrente ano”, afirmou o Itamaraty, em nota.
Correlação
Aliados ponderam que o chanceler Carlos França foi a Madrid neste ano, cerca de três meses após Lula ser recebido pelo presidente espanhol, Pedro Sánchez. E argumentam que é natural que haja “correlação entre a política externa e a interna”, já que o Itamaraty segue as diretrizes do presidente eleito.
Situação parecida já havia acontecido em dezembro, quando o Brasil, na presidência pro tempore do Mercosul, avisou a Argentina, Uruguai e Paraguai que a cúpula agendada para uma semana depois seria realizada virtualmente e não mais presencialmente. O comunicado foi feito durante os dias em que Lula visitava a Argentina, a convite do presidente Alberto Fernández.
Outros dois posicionamentos recentes do Itamaraty também ligaram o sinal de alerta entre membros da diplomacia. Primeiro, quando a pasta se incomodou com a decisão da Justiça Eleitoral de buscar apoio de observadores internacionais nas eleições – o que provocou recuo do tribunal. Na mesma época, o Itamaraty colocou sob sigilo, por cinco anos, os detalhes da viagem feita por Bolsonaro à Rússia na iminência da invasão da Ucrânia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.