O real tentou avançar sobre o dólar no início do pregão desta segunda-feira, 6, mas sucumbiu a uma série de incertezas externas e internas e perdeu força ao longo do dia. Assim, a moeda americana terminou a sessão à vista em alta de 0,36%, aos R$ 4,7957.

O câmbio respondeu a um dia de dólar mais fortalecido lá fora, tanto ante moedas fortes quanto frente aos pares do real, com os investidores no aguardo de uma semana cheia de indicadores, com dados de inflação aqui e nos Estados Unidos, além de decisão de juros na Europa. Tanto que o índice DXY – que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes – operou em alta na segunda etapa do pregão, na casa dos 102,400 pontos.

Internamente, pesa a discussão fiscal e política em torno de uma possível solução para a alta nos preços dos combustíveis, com o mercado prevendo um novo subsídio, com custo para as contas públicas. Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro citou, inclusive, pressões políticas para que ele demita o ministro Paulo Guedes. O chefe da Economia reagiu com um périplo pelo Legislativo, com reuniões com os presidentes do Senado e da Câmara, para tratar do projeto do ICMS dos combustíveis.

“Na ausência de uma notícia positiva que possa contrabalançar o exterior, o dólar sobe pela inércia que acompanha o movimento lá fora, mas também por essas questões fiscais, com a possibilidade de o governo trazer algum tipo de subsídio”, aponta Nicholas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest.

Lá fora, o dia foi de abertura das taxas das Treasuries, na expectativa de dados importantes essa semana, que colocaram os investidores em compasso de cautela. O mercado aguarda os números de inflação aqui (quinta-feira) e nos Estados Unidos (sexta-feira) e de juros na Europa (quinta-feira).

Considerado atrasado no movimento de alta dos juros, o Banco Central Europeu (BCE) deve sinalizar o fim do programa de compras de ativos, mas a grande expectativa é sobre os indícios para a elevação nas taxas. Sobretudo após a presidente da autoridade monetária, Christine Lagarde, ter mudado o discurso, passando a defender uma alta nos juros a partir de julho.

“Tem bastante agenda para um câmbio um pouco mais defensivo. E ainda não vimos fluxo maior de estrangeiro. O estrangeiro tem voltado, mas não na velocidade do começo do ano”, aponta Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.

Além disso, os dados do índice de preços ao consumidor (CPI) americano, na sexta-feira, 3, ajudam o mercado a calibrar o tamanho do ímpeto do Federal Reserve (Fed) no aperto monetário. “Há um pouco de tensão em relação aos dados de inflação nos Estados Unidos, o mercado começa a colocar isso no preço, o que tem sido normal. Na dúvida, o mercado começa a colocar no preço uma alta mais acelerada nos juros nos EUA, o que costuma ser um gatilho para alta do dólar”, completa Farto.

Com todos esses fatores externos e internos colocando o investidor em modo de espera, as notícias de uma reabertura mais ampla na China, com anúncio de relaxamento de medidas contra o covid-19, até favoreceram um bom humor na abertura, mas não foram suficientes para manter o real positivo. Globalmente, na verdade, foram lidos como uma possível retomada na demanda, que serviu, na prática, para fortalecer o dólar.