O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a postura do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na região do Vale do Javari desde 5 de junho, e afirmou que o colaborador do britânico The Guardian era “mal visto” na região.

“Esse inglês era mal visto na região, fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Deveria ter segurança mais que redobrada consigo próprio”, afirmou o presidente, em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube. “Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança, e aconteceu problema”, acrescentou. “É muito temerário você andar naquela região sem estar preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam.”

Como mostrou o Estadão, cartéis de drogas de Miami, Medellín e Sinaloa mantêm uma espécie de Estado paralelo no entorno da Terra Indígena do Vale do Javari, onde desapareceram Bruno e Dom. A atuação da dupla ainda ameaçava os interesses de garimpeiros e pescadores ilegais no local.

Ao se pronunciar pela primeira vez sobre o caso, Bolsonaro já havia definido a expedição do jornalista e do indigenista como “aventura”. Nesta quarta, o presidente definiu a viagem do jornalista, que preparava um livro sobre o local, como “excursão”.

“Pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, estão dentro d’água. E dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari”, disse o chefe do Executivo. “A gente lamenta, pede que nada tenha acontecido”, acrescentou, em seguida.

Decisão

A mesma juíza que havia determinado ao governo federal o reforço às buscas pelos desaparecidos, Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal no Amazonas, ordenou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) deixe de desacreditar a trajetória e o trabalho de Bruno Pereira e Dom Phillips. Ela ainda determinou que o órgão se abstenha de praticar qualquer ato que “possa ser considerado atentatório a dignidade dos desaparecidos” ou que implique em “injusta perseguição” à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) ou aos servidores da Funai lotados na Coordenação Regional do órgão.

O despacho de Jaiza Maria atende a um pedido da Defensoria Pública da União, que questionou uma nota em que a Funai contestou a autorização do indigenista para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. No mesmo texto, o órgão anunciou a intenção de acionar o Ministério Público Federal para “apurar a responsabilidade” da Univaja “quanto à possível aproximação com indígenas de recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis”.