O indicado do governo para a presidência da Petrobras, Caio Paes de Andrade, recusou convite do Comitê de Pessoas (Cope) da companhia para entrevista com intuito de esclarecer suas intenções com relação à política de preços e a governança da estatal, como foi registrado na ata da reunião do Comitê divulgada neste sábado, 25.

Segundo apurou reportagem, o comportamento é incomum nos processos sucessórios da empresa, e desagradou parte dos conselheiros. Paes de Andrade optou por responder por escrito aos questionamentos.

A ausência de contato com o possível futuro presidente da Petrobras foi motivo de destaque no voto do presidente do Cope e o conselheiro da estatal, Francisco Petros, “surpreendentemente, à luz de todas as inquietações que se verifica em relação ao momento da Petrobras e do País, não tivemos a oportunidade de ter contato com o candidato e as respostas às indagações escritas feitas por este comitê, constantes na ata, são irrisórias e irrelevantes para a formação da nossa opinião”, afirmou.

Ao responder uma das perguntas por escrito, Paes de Andrade negou ter sido orientado pelo governo a modificar a política de preços da Petrobras baseada na paridade com os preços de importação. “Não tenho qualquer orientação específica ou geral do acionista controlador ou qualquer outro acionista no sentido de alteração da política de preços praticados pela companhia”, informou Paes de Andrade à empresa.

Questionado pelo Cope se gostaria de enviar mensagem aos conselheiros e acionistas da empresa antes da votação que vai decidir se ele assume ou não o comando da estatal, ele foi sintético: “Não tenho mensagem a enviar nesse momento”.

O Cope lamentou a decisão de Paes de Andrade de não aceitar o convite para uma entrevista com seus membros. Na avaliação do Comitê, foi confirmada a informação que vinha sendo divulgada na mídia, de que a documentação acadêmica entregue por Paes de Andrade só trazia reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) para o diploma de graduação em Comunicação Social pela Universidade Paulista e que os diplomas de pós-graduação em administração em instituições de ensino dos Estados Unidos, embora verdadeiros, não são reconhecidos pelo MEC.

Durante a reunião, o conselheiro e presidente do Celeg, Francisco Petros, informou sobre o recebimento de ofício da Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) com observações sobre a indicação de Paes de Andrade para o cargo de presidente da Petrobras. A Anapetro, com apoio da Federação Única dos Petroleiros (Fup), informou na quinta-feira que se Paes de Andrade fosse eleito entraria na Justiça e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Votos

Os três votos favoráveis no Cope foram do conselheiro Luiz Henrique Caroli e dos membros externos Ana Silvia Matte e Tales Bertozzo. Eles consideraram não haver “vedação legal” à indicação. Eles argumentaram que o termo “preferencialmente”, no requisito de experiência no setor de óleo e gás, abre caminho para Paes de Andrade.

Eles apenas recomendaram no relatório que Paes de Andrade cumpra recomendações mitigatórias para evitar conflitos de interesse, como tomar providências para que as empresas das quais é sócio se abstenham de prestar serviços à Petrobras, seus fornecedores e concorrentes.

Já o presidente do Cope, Petros, registrou em ata o voto negativo. Ele destacou que a área de conformidade da Petrobras atribuiu “risco médio” ao candidato e reconheceu que não há um “impedimento evidente” a Paes de Andrade. Mas votou pela não recomendação evocando o princípio da prevenção e em função da falta de experiência acadêmica e profissional.

Por três votos a um, o Cope recomendou ontem a aprovação de Paes de Andrade à presidência da Petrobras. Os dez conselheiros ativos da companhia devem votar na próxima segunda-feira para confirmá-lo ou não no cargo.