08/08/2022 - 19:38
Familiares do campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo, morto com um tiro no cabeça no último domingo, 7, afirmam que o suspeito conhecia o lutador. Para os parentes, o policial militar Henrique Otávio Oliveira Velozo agiu de maneira premeditada no Clube Sírio, zona sul de São Paulo, circunstância que ainda deve ser esclarecida pela investigação policial.
“A pessoa que fez isso com ele conhece ele. A pessoa já foi para isso, só não sabemos o porquê, porque não tem explicação da forma estúpida que aconteceu. Ele provocou uma confusão para o Leandro reagir e nessa tirou a vida do meu filho”, afirmou a mãe, Fátima Lo, de 48 anos. Esse é o mesmo sentimento da irmã Amanda Lo. “Com certeza, ele conhecia meu irmão. A gente só espera que a justiça seja feita”, afirmou.
O corpo do lutador foi enterrado na tarde desta segunda-feira, 8, no Cemitério do Morumby, zona sul da cidade. A Polícia Civil de São Paulo prendeu o policial militar Henrique Otávio Oliveira Velozo após a Justiça determinar a sua prisão temporária por 30 dias. O PM é apontado como o autor do disparo que matou Leandro Lo.
Fotos divulgadas nas redes sociais mostram o suspeito usando um quimono. A Federação Paulista de Jiu Jitsu não confirma se ele é um atleta federado. A entidade estima que o Estado tenha 1 milhão de lutadores – do total, apenas 40 mil são filiados.
De acordo com o advogado da família de Lo, Ivã Siqueira Junior, o lutador teve uma discussão com o PM no Clube Sírio, durante um show do grupo Pixote. Para acalmar a situação, Lo imobilizou o homem que, após se afastar, sacou uma arma e atirou uma vez na cabeça do lutador.
Lutador na categoria master e sócio de Leandro Lo na fusão de duas academias para tentar viabilizar a profissionalização dos atletas, o empresário Daniel Root, de 48 anos, aponta a estigmatização que a modalidade enfrenta na sociedade brasileira.
“Na minha época, era bem pior. O lutador de jiu-jítsu era arruaceiro e briguento. Isso que acontece com o Leandro é comum. Somos desafiados o tempo todo só por causa do nosso estereótipo. Nossa cara é de lutador, nossa orelha é de lutador, nossas tatuagens. Somos provocados, na balada, nos shows, em todo o lugar”, afirma.
Familiares e praticantes afirmam que o crime do qual Leandro foi vítima não tem relação com a filosofia da modalidade. “O jiu-jítsu se tornou conhecido pelo modo errado, pelo emprego da mão. A mão é a última coisa que usamos no jiu-jítsu. Ele não tem soco. Ele se tornou conhecido como um esporte violento, mas ele não é violento”, diz Otávio de Almeida Junior, presidente da Federação Paulista de Jiu Jitsu.
Justiça mantém prisão de policial acusado de morte
Henrique Otávio Oliveira Velozo, de 30 anos, tenente da Polícia Militar (PM) acusado de matar com um tiro na cabeça o lutador de jiu-jítsu Leandro Lo durante um show de pagode no Clube Sírio, na zona sul da capital paulista, na madrugada de domingo, 7, teve mantida sua prisão temporária nesta segunda-feira, 8.
“Em audiência de custódia realizada nesta segunda, 8, no Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães – Barra Funda, o juízo não verificou ilegalidade no cumprimento do mandado de prisão temporária de Henrique Otavio Oliveira Velozo, expedido ontem pelo juízo do Plantão Criminal, ficando mantida a prisão pelo prazo de trinta dias”, explicou em nota o Tribunal de Justiça de São Paulo.
O PM foi indiciado pela Polícia Civil pelo crime de homicídio doloso qualificado por motivo fútil, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que também afirmou que a Polícia Militar abriu uma apuração administrativa para investigar o caso. Henrique Velozo foi levado para o presídio militar Romão Gomes e o caso está sendo investigado pelo 16º DP (Vila Clementino).
Ivã Siqueira Júnior, advogado de Leandro Lo, relatou, com base no depoimento de testemunhas, que a discussão começou quando o PM, durante o evento, foi em direção à mesa em que o lutador e outros amigos estavam e começou a mexer nas bebidas. O campeão mundial não teria gostado e, como reação, aplicou um golpe de jiu-jítsu para imobilizar o suspeito.
“Nesse momento, o rapaz levantou, deu a volta e deu um tiro na cabeça do Leandro”, disse Ivã Siqueira. O policial ainda teria chutado a vítima duas vezes quando ela estava no chão. Ainda de acordo com o advogado, o fato de ser um policial militar teria viabilizado a sua entrada no show com a arma.
Em 2017, o policial já tinha sido condenado por desacatar e agredir colegas de farda. Em 27 de outubro daquele ano, o PM estava de folga na casa noturna The Week, na Lapa, zona oeste da cidade, comemorando o ingresso do primo na corporação. Eles foram agredidos por outras pessoas e a Polícia Militar foi acionada por volta das 4h20. Velozo estava nervoso e exaltado, dificultando o trabalho dos militares que atendiam a ocorrência. Além de desacato, também deu um soco no colega de farda.