Luiz Felipe d’Avila, o candidato do Novo à Presidência, afirmou que o “Centrão empresarial está interessado em ganhar o governo e não o mercado”, ao comentar subsídios a empresas nacionais. Ele tem certeza que seu correlato, o Centrão da política, estará com o governo, seja ele qual for em janeiro. D’Avila, porém, se recusa a aderir à escolha do que chama de “mal menor”. O cientista político e leitor da pensadora Hannah Arendt diz que, em um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, prefere anular o voto e preparar seu partido para liderar a oposição democrática ao vitorioso. Ao Estadão, d’Avila detalhou o plano de governo. Veja os principais trechos da entrevista a seguir.

O senhor luta contra o cenário de voto útil no 1.º turno diante da disputa entre Lula e Bolsonaro. Qual mensagem pretende levar à campanha?

A mensagem é clara: temos de deixar de votar no mal menor. A eleição do mal menor é, na verdade, o que criou o desastre da polarização e do radicalismo no Brasil. Duas coisas estão agravando a polarização. A primeira é o fundo eleitoral, que fez com que rifassem candidaturas da terceira via, como Sérgio Moro e João Doria, porque não vale a pena bancar a eleição de um cargo majoritário, se o que dá poder, dinheiro e tempo de televisão a um partido é o número de deputados federais eleitos. E o fundo dá muito poder ao presidente do partido, que tem poder discricionário de dizer quem e quanto vai receber. O partido Novo é o único que não usa o fundo e devolveu os R$ 90 milhões ao Tesouro. A segunda é a ausência de debate das propostas e ideias.

Nas últimas semanas acompanhamos movimentos importantes de defesa da democracia compartilhados por segmentos sociais, exceto por um deles: o bolsonarismo. Neste contexto da defesa da democracia, faz sentido dizer que vivemos uma polarização entre dois candidatos?

As manifestações sobre a democracia têm um ponto fundamental, que é como a sociedade civil valoriza a democracia no Brasil. É uma forma nítida de mostrar o apreço à democracia. Agora vamos separar o joio do trigo. Muitos dos que se dizem defensores da democracia vem prejudicando a democracia, inclusive o Lula. Explico por quê. Ele é o autor do maior escândalo de corrupção da história, o que corrói a credibilidade das instituições democráticas. Ele tinha um esquema de comprar votos, o que degenera a democracia em vez de fortalecê-la. Não vamos nos ludibriar com as aparências. Vamos entender a história de cada um e ver quem realmente está defendendo a democracia. Nesse sentido, Bolsonaro é muito mais honesto, pois mostra o repúdio à democracia que já demonstrava quando era deputado. O Lula não. Ele é a saúva que derrota a democracia, que vai corroendo devagarzinho, aliciando, aparelhando o Estado, comprando voto e usando estatais para debilitar as instituições. O que me espanta no movimento pela democracia é achar que essa turma está toda do mesmo lado. Não está. Eu não estou do mesmo lado que o Lula ou que o Bolsonaro. Eu estou na defesa do estado democrático de direito, na defesa da liberdade do indivíduo, na igualdade perante a lei, que está na Constituição de 1988. Essa é a eleição em que a democracia está em maior risco desde 1985. A democracia e a economia. Esta não cresce sem confiança. Vejo uma situação dramática com a vitória do populismo, seja de direita ou de esquerda. Vamos ter de fazer muito mais que manifestos. Vamos ter de criar um movimento de defesa da democracia suprapartidário com o que restou de seus defensores.

Independentemente de quem vencer entre entre esses dois candidatos, o sr. estará na oposição?

Estarei na oposição, votarei nulo (num eventual segundo turno). Estarei defendendo a democracia e juntando forças com a sociedade civil, partidos e políticos interessados no estado democrático de direito. Vamos ir para a trincheira, que será a imprensa livre, os governos estaduais, o Parlamento e o Judiciário. O Novo deve liderar a oposição ao novo governo.

A geopolítica internacional cria oportunidades para o Brasil com a perspectiva de que o País passe a ser um fator de segurança alimentar e energética para as potências ocidentais. Os próximos 4 anos serão uma oportunidade para a recuperação de alguns retrocessos?

Vamos olhar a situação: de 2010 a 2020, o PIB do mundo cresceu 32% e o do Brasil 2,5%. Olha o desastre que é o populismo: afeta o bolso das pessoas e os negócios. Para transformar o momento atual em oportunidade econômica, precisamos restaurar duas coisas que o populismo dificilmente fará: a confiança nas leis, a segurança jurídica com previsibilidade das regras, e a ideia de que o Brasil cresceu e tomou juízo. E isso significa a pauta do meio ambiente. O Brasil pode se tornar a maior potencia ambiental do mundo porque nós ingressamos na era da economia do baixo carbono e o Brasil o tem capacidade de sequestrar 50% do carbono do mundo. O mundo não vai resolver a questão climática sem o Brasil. E o Brasil precisa do mundo para investir em infraestrutura. Com a Guerra da Ucrânia houve ruptura das cadeias globais de valor e o redesenho é a regionalização. Queremos ter parceiros confiáveis e, nesse sentido, o Brasil pode se tornar uma superpotência. Hoje temos US$ 50 trilhões de investimentos privados carimbados como ESG (sigla em inglês para as questões do meio ambiente, social e de governança). Se o Brasil não olhar para essa pauta, não teremos dinheiro para resolver questões fundamentais. É importante abraçar o meio ambiente para reinserção do Brasil na economia global. O País tem hoje mais de 50 milhões de hectares de terras degradadas. Se usarmos 3 milhões para plantar árvores, o Brasil será a primeira nação de carbono neutro até 2030. Para financiar o plantio de árvores, vamos taxar a Petrobras, antes de privatizá-la, com o green bonds.

O Novo quer a abertura unilateral da economia. Isso não tira poder de barganha do País ao negociar com os EUA e a União Europeia?

Essa abertura econômica unilateral não é só uma questão tarifária. Você tem barreiras econômicas não tarifárias, reservas de mercado e subsídios internos. É importante é ter uma data para abertura gradual da economia, para o Brasil estar em os países emergentes mais abertos em quatro anos. Isso vai pressionar o setor privado a se mobilizar para pressionar por reformas no Congresso, pois, se tivermos a atual legislação tributária e a economia abrir, a indústria quebra.

O sr. diz combater privilégios de corporações e do setor privado parasitário. Quais corporações e setores privados são esses? Quais privilégios devem sair da Constituição?

No Brasil a gente tem dois grandes problemas: o Centrão político, que é o do fisiologismo e do corporativismo, e o Centrão empresarial. O Centrão empresarial não está interessado em ganhar o mercado; ele está interessado em ganhar o governo para conseguir mais subsídios, mais reservas de mercado e mais privilégios. Temos hoje R$ 450 bilhões sendo gastos com subsídios. Muitas empresas fazem plano de negócios levando em conta, na margem de lucro, o subsídio que vão receber. Um desastre. Você precisa ter empresa para ganhar o mercado e não para ganhar Brasília. Vamos colocar no orçamento da Nação um mecanismo de avaliação do recurso público. Precisamos saber se o subsídio está tendo impacto ou não. Se não tiver, tem de acabar. A segunda coisa é ter uma cláusula que determine o tempo do subsídio. Por exemplo, se em seis anos a empresa que recebe o subsídio não se tornar competitiva internacionalmente, acaba. Todo subsídio tem de ter prazo de validade para não viciar o setor em subsídio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.